QUANDO AS GARRAFAS NÃO PRODUZEM ESTILHAÇOS
- Olha só, está vendo? Na ponta dos pés – ela disse, quase gargalhando e com a voz mais turva possível.
Ele sorriu vendo aquela garota linda, de cabelos escuros como a noite, tentando se equilibrar sobre uma garrafa de champanhe das mais vagabundas em uma praça deserta de algum bairro residencial e chato da cidade - Você está bêbada, querida. Pode se machucar. Melhor parar.
- Feliz ano novo! Feliz ano novo. Feliz ano novo para todos os imbecis do mundo – ela gritava - Eu falei que devíamos viajar. Quem mandou ficarmos nessa porra de cidade nessa data tão fucking special? Agora é isso. Você vai ter que aturar a sua melhor amiga aqui, completamente bêbada e transtornando a sua vida – ela emendou, irônica.
- Bem, ao menos você está tornando um pouco mais divertido esse pé no saco de reveillon – ele concordou.
- Obrigado. Obrigado. Uma salva de palmas para mim. Eu mereço.
- E cá estamos nós. Na primeira madrugada do ano. Ouvindo fogos e gritos idiotas e buzinas descompensadas e sirenes de emergência e sambas enredo insuportáveis. Mais uma vez, sozinhos. Mais uma vez, bêbados. Mais uma vez, contando só um com o outro – ele disse, enquanto acendia o décimo cigarro da noite.
Ela desistiu da garrafa de champanhe, ajoelhou na grama úmida pela noite e o encarou de um modo fixo, curioso, tentando não parecer muito bêbada.
- O que está olhando? – ele perguntou.
- Posso te falar uma coisa? Você jura que morre aqui. Entre nós? – ela pediu, séria.
- Claro. Óbvio. Primeira promessa de ano novo – ele brincou.
- Não. É sério – ela disse.
- Claro. Pode dizer. Morre aqui. Entre nós.
- Em determinado momento desse ano, eu pensei, quero dizer, eu tive a certeza de que jamais veria um outro ano novo, um outro reveillon. Eu tive a certeza de que não teria mais essas pequenas sensações. Esses pequenos prazeres. Não havia nada disso em minha mente, só a certeza de que eu não teria mais nada. Entende?
Ele consentiu com a cabeça, triste.
- Então, eu preciso te dizer – ela continuou – Que eu só estou aqui agora por sua causa. E as marcas de barro e grama no meu corpo são bem mais felizes do que qualquer outra marca que eu poderia fazer. Devo isso a você. A alegria de estar bêbada num reveillon nesta cidade insuportável. Obrigado. Mesmo.
Ele não disse nada. Com lágrimas nos olhos apenas jogou um beijo no ar, prontamente “agarrado” por ela.
Ela se levantou imediatamente, tentou esconder as lágrimas e disse, rápida - Ei, veja. Na ponta dos pés novamente – gritou, voltando mais uma vez a sua atenção para a garrafa de champanhe.
- Que tal abrirmos uma nova? – ele sugeriu – Celebramos e aposto que nessa, depois de vazia, você consegue subir.
Ela apenas sorriu e disse - Com certeza... com certeza... basta você estar por perto...
- Olha só, está vendo? Na ponta dos pés – ela disse, quase gargalhando e com a voz mais turva possível.
Ele sorriu vendo aquela garota linda, de cabelos escuros como a noite, tentando se equilibrar sobre uma garrafa de champanhe das mais vagabundas em uma praça deserta de algum bairro residencial e chato da cidade - Você está bêbada, querida. Pode se machucar. Melhor parar.
- Feliz ano novo! Feliz ano novo. Feliz ano novo para todos os imbecis do mundo – ela gritava - Eu falei que devíamos viajar. Quem mandou ficarmos nessa porra de cidade nessa data tão fucking special? Agora é isso. Você vai ter que aturar a sua melhor amiga aqui, completamente bêbada e transtornando a sua vida – ela emendou, irônica.
- Bem, ao menos você está tornando um pouco mais divertido esse pé no saco de reveillon – ele concordou.
- Obrigado. Obrigado. Uma salva de palmas para mim. Eu mereço.
- E cá estamos nós. Na primeira madrugada do ano. Ouvindo fogos e gritos idiotas e buzinas descompensadas e sirenes de emergência e sambas enredo insuportáveis. Mais uma vez, sozinhos. Mais uma vez, bêbados. Mais uma vez, contando só um com o outro – ele disse, enquanto acendia o décimo cigarro da noite.
Ela desistiu da garrafa de champanhe, ajoelhou na grama úmida pela noite e o encarou de um modo fixo, curioso, tentando não parecer muito bêbada.
- O que está olhando? – ele perguntou.
- Posso te falar uma coisa? Você jura que morre aqui. Entre nós? – ela pediu, séria.
- Claro. Óbvio. Primeira promessa de ano novo – ele brincou.
- Não. É sério – ela disse.
- Claro. Pode dizer. Morre aqui. Entre nós.
- Em determinado momento desse ano, eu pensei, quero dizer, eu tive a certeza de que jamais veria um outro ano novo, um outro reveillon. Eu tive a certeza de que não teria mais essas pequenas sensações. Esses pequenos prazeres. Não havia nada disso em minha mente, só a certeza de que eu não teria mais nada. Entende?
Ele consentiu com a cabeça, triste.
- Então, eu preciso te dizer – ela continuou – Que eu só estou aqui agora por sua causa. E as marcas de barro e grama no meu corpo são bem mais felizes do que qualquer outra marca que eu poderia fazer. Devo isso a você. A alegria de estar bêbada num reveillon nesta cidade insuportável. Obrigado. Mesmo.
Ele não disse nada. Com lágrimas nos olhos apenas jogou um beijo no ar, prontamente “agarrado” por ela.
Ela se levantou imediatamente, tentou esconder as lágrimas e disse, rápida - Ei, veja. Na ponta dos pés novamente – gritou, voltando mais uma vez a sua atenção para a garrafa de champanhe.
- Que tal abrirmos uma nova? – ele sugeriu – Celebramos e aposto que nessa, depois de vazia, você consegue subir.
Ela apenas sorriu e disse - Com certeza... com certeza... basta você estar por perto...
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