- Então, aceita dançar esta música? – ele pediu,
com gentileza e suavidade.
Ela sorriu.
E ele estava trêmulo e nervoso.
Ansioso.
Ela estava alegre e linda.
Serena.
E quando as primeiras notas do piano soaram na
caixa de som, os dois se aproximaram e os seus braços se encontraram.
Entrelaçaram.
Um elegante e suave toque em uma condução apropriada
para o som de notas belas e delicadas.
Ela o conduzia.
Ele também.
E a canção era densa e envolvente, apaixonada, e
as notas voavam e flutuavam pela sala da sala.
Os braços entrelaçados revelavam uma cumplicidade
sem igual.
Rara.
Poucas vezes vista.
Poucas vezes sentida.
Nunca?
Não daquela maneira.
Não como naquela noite.
Talvez em outros tempos, mas não como naquele exato
instante.
E entre braços entrelaçados e desejos agora não mais
escondidos, o perfume dos cabelos misturado ao cheiro das tintas era inebriante.
Aroma de camomila.
Aroma de vontades.
Desejos e sorrisos.
Ela o conduzia.
Ele também.
O toque entre eles era suave, assim como os seus
passos.
A intimidade entre eles era profunda, assim como
os olhares.
O desejo era evidente e ele?
Cuidado em não errar.
Ela?
Pouco se importava com isso.
O toque do piano ao fundo era envolvente, assim
como os seus passos.
Ela?
Agradeceu a chance.
Ele?
Também.
Poucos momentos tão especiais viveram, como se a
eternidade apenas estivesse esperando por isso.
Esperando pela próxima nota, pelo próximo acorde,
pelo próximo passo, pelo próximo toque, pelo próximo olhar ou pela próxima vida.
Essa vida.
Exatamente esta.
E ela estava ali.
Ao alcance dos seus lábios.
Ao alcance dos seus olhos.
Ao alcance dos seus toques.
E era agora.
O momento era aquele e a vida gritou isto bem
diante deles.
Enquanto as cordas do piano cantavam.
Enquanto os corações batiam acelerados.
Enquanto eles dançavam.
Enquanto eles viviam.
Um segundo de cada vez.
Um segundo de cada vez.
Para sempre.
Agora.
E o beijo?
O beijo aconteceu.
Inevitável.
Querido.
Ardente.
Nervoso.
Molhado.
Intenso.
O beijo aconteceu.
Testemunhado apenas pelos anjos e por uma tela em
branco no canto da sala, ansiosa pela beleza do desenho que iria receber depois
daquele beijo.
A música acabou.
O beijo e a dança?
Não.
Apenas começaram.
Apenas começaram.
Foto por Roberta Cetra
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