OUÇA: kate bollinger || candy
- Então? – ela perguntou
com um olhar indisfarçável de carinho e cuidado, antes de abrir a porta para
ele sair.
Ele sorriu, meneou a
cabeça e não soube responder de primeira.
- Então? – ela insistiu e
continuou – Não vai me dizer nada? Nada?
Ele levantou a cabeça e a
olhou com a maior ternura do mundo e respondeu – Eu adorei. Simplesmente
adorei.
Ela não escondeu um
sorriso genuíno e disse – Fico contente. Você nem imagina o quanto. Nem
imagina.
- Imagino sim. Imagino
sim.
- Do que mais gostou? –
ela prosseguiu em sua suave inquisição.
Doce inquisição.
- Do que mais gostei? –
ele repetiu.
Ela assentiu com a cabeça
e disse – Sim. Não vou deixá-lo ir embora sem me responder. Não posso. Você
ficou aqui a tarde toda comigo e eu apenas adoraria saber.
Ele a olhou com carinho e
ternura. Disse, divertido – Do que mais gostei? Bem, além de você servir um
adorável capuccino?
Ela sorriu e emendou –
Deixa de ser bobo. Não foi capuccino nenhum. Fale. Eu sinto no seu olhar. Só
preciso confirmar.
- Bem – ele começou –
Além do capuccino e da sua verdadeira gentileza e generosidade, além das
experiências divididas, da terapia trocada, dos quadros lindos e desenhos
incríveis, além da orquídea em cima da mesa, além do violão elétrico ao lado da
cadeira, além da sua voz, além de você por perto a tarde inteira me salvando,
ou tentando, sabe o que eu mais gostei? Mesmo? De verdade?
Ela sorriu sem esconder a
pressa e a urgente necessidade em saber.
- Eu gostei dos tijolos
na parede.
- O quê? – ela perguntou
surpresa.
- Sim. Tijolos. Os
tijolos lá em cima – disse ao apontar para cima com seu dedo indicativo
adornado por um anel preto vagabundo.
- Na parede junto ao teto
– ele continuou - Eu simplesmente amei aqueles tijolos aparentes lá no alto.
Distantes de meu toque. Distante de nós, mas perto do nosso olhar.
Ela o encarou curiosa e
nada perguntou, sabia que ele ia continuar.
E ele emendou mesmo – Me
fez muito bem olhar para eles sempre que eu levantei a cabeça, cada vez que
tentei disfarçar de você minha vontade imensa de chorar e de abafar toda minha
insegurança. Toda ela.
Ela o abraçou forte e com
muito carinho e sussurrou no seu ouvido – É para isso que eles estão lá. É para
isso. Para que você sempre levante a sua cabeça. Sempre levante a cabeça e olhe
para o alto para ver as coisas boas que existem. E é para isso que eu estou
aqui. Para isso que eu estou aqui – disse, terna enquanto fechava com uma das
mãos livres novamente a porta para que ele não saísse.
Para que ele ainda não
saísse e não fosse embora.
Ainda não.
Para que ele não saísse
antes de o sol nascer.
Para que ela não saísse antes
de todas as palavras serem ditas e o que precisasse, bem, o que realmente
precisasse fosse compreendido.
Foto por Roberta Cetra
(obrigado)
Comentários
Ótimo clima...acho que sei quem são esses dois...