Pular para o conteúdo principal
WE COULD SEND LETTERS

- Então é isso? – Isa perguntou, enquanto dava um abraço apertado na amiga Ju.
- É – Ju respondeu, com os olhos cinzas de lágrimas – E você acha pouco? – continuou, tentando sorrir.
Isa ficou em silêncio e apenas encarou-a com seus lindos olhos azuis, agora com as mãos suavemente pousadas sobre os ombros da amiga.
- Também não é tão ruim assim, vamos. Estaremos próximas e continuaremos amigas. Grandes amigas. As melhores.
Isa sorriu sem jeito e disse, triste – As melhores amigas do mundo. As maiores de todas. As inseparáveis.
Ju a observou com ternura e fez um carinho nos cabelos bagunçados a amiga – Inseparáveis mesmo. Inseparáveis. Pode apostar nisso. Mesmo distante um oceano de você, espero que saiba que estou levando muito desse seu jeitinho, desse seu carinho, desse seu sorriso, desse seu olhar comigo. Estou levando aqui comigo. Por onde quer que eu vá.
- Os dias vão ser mais cinzas a partir de hoje, mas mesmo assim eu não quero ser dramática e excessiva – disse Isa, contendo o choro.
- Não querida, não pensa nisso. Nada de cores cinzas. Óbvio que eles existirão, mas os dias vão ser mais azuis do que cinzas. Azuis como os seus olhos.
- Isso tá parecendo uma novela mexicana, daquelas bem, mas bem cafonas mesmo – brincou Isa, abraçando ainda mais uma vez a sua amiga, naquele aeroporto frio e impessoal.
- De qualquer forma, nós ainda podemos escrever cartas uma para a outra, quando o medo chegar – disse Ju, animada.
Isa a olhou com um carinho que apenas as melhores amigas conseguem sentir e disse, realista – Querida, querida, querida. Não. Não. Hoje em dia as pessoas não escrevem mais cartas. Não. As pessoas não escrevem mesmo mais cartas. Mas, ainda assim, fique tranqüila, você está e estará sempre por aqui, no meu coração.

E choraram ainda mais uma vez, transformando despedidas em cartas em papéis de seda. Impossíveis de absorver palavras escritas em nanquim...


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PASSE-ME O SAL PARA EU BOTAR NA SOBREMESA?

- Não há nada a desculpar – ele disse pouco tranquilo, muito mentiroso, entre os copos de vodka, as mesas e o barulho do Clube Varsóvia, tentando desviar do olhar adorável, inesquecível e maravilhoso daquela garota à sua frente. Ele a amava. Ela o olhou com ternura e amizade e fez um carinho breve e gentil no seu cabelo. Por instantes, breves instantes, ela lembrou de todo o afeto e paixão que sentiu por ele no passado. Todo o carinho, o afeto e o amor que sentiu por ele em um passado não tão distante. Como foram felizes. - Fica tranquila – ele disse e continuou - Nada a desculpar mesmo. Tudo em ordem do meu lado – ele prosseguiu – Você gosta de MPB mesmo. Eu detesto – completou, com um sorriso. - Você mente mal. Muito mal mesmo sabia? Quase um canastrão – ela brincou e continuou – Esqueceu que te conheço há um tempinho? - Muito tempo? – ele perguntou, tentando disfarçar, enquanto acendia um Marlboro – Dentre as mentiras da vida, duas nos revelam mais – recitou, citando a antiga c...

TEMPESTADES DE NATAL

Ela acordou de repente, com um grito. Era madrugada e ela acordou absolutamente assustada. Estava suada e sua cama completamente encharcada. Suor frio. O pesadelo havia sido insano. Era preciso ter nervos de aço para dormir naqueles dias. Nervos de aço. E ela levantou da cama tremendo. Foi direto para a cozinha, se é que há diferença entre o quarto e a cozinha naquela porra de apartamento em que ela morava. Ou se escondia? Ao lado do filtro de água pegou um copo americano. Abriu o armário e encheu de conhaque. Não conhaque dos bons, claro. Ela não tinha grana para este tipo de luxo. O máximo que ela conseguia comprar era algum destilado vagabundo, sempre dos mais baratos. Sempre dos mais escrotos. Seu fígado já nem se importava. Ele estava pouco se fodendo com o líquido, o cérebro queria o efeito. Sentou à mesa e pegou seu maço de cigarros. Os cigarros sim, mais caros do que o usual. Morrer de tédio ou morrer de vodka barata ok, mas se é para morrer de câncer causado por cigarro, que...

NOSSO SUOR SE MISTUROU DEMAIS...

- Nosso suor, se misturou demais ... – ela cantarolou baixinho. Bem baixinho, emitindo sinais, mas não de propósito. Ele ouviu e respondeu de pronto – Música antiga, hein? Está ficando saudosa ou velha mesmo? – perguntou grosso, tosco, otário, como sempre fez, sem desviar os olhos do seu jornal. Ela apenas sorriu. Sabia que ele não era assim. Ele apenas se fazia – e gostava muito disso - de filho da puta. - Canção antiga. Vintage total. Vintage total. Mas vintage tá na moda , não é mesmo? – ele emendou – Veja o bando de velhos ouvindo discos de vinil por aí. - Você é um babaca – ela respondeu. Ele apenas sorriu. Tinha certeza disso. - Nosso suor, se misturou demais ... – ela cantarolou novamente. Desta vez não tão baixinho, não tão tímida. Não tão baixinho, nem um pouco tímida. Forte. Segura. Decidida. Sabia o queira, mas não achava o alvo. - Também acho – ele concordou, fechando o jornal com média força e suspirando forte – E não sei exatamente o que fazer. D...