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Mostrando postagens de 2010

PARABÉNS A VOCÊ, NESTA DATA QUERIDA...

- Parabéns – ela disse ao telefone, toda sem graça. Ele sentiu o sangue gelar ao perceber e descobrir de quem era a voz do outro lado da linha. Ficou em silêncio. Ela continuou – Nada? Não vai dizer nada? Nem murmurar um obrigado? Ele ficou furioso com a pergunta – E, por acaso, eu deveria agradecer? Ela respirou fundo e disse, tentando amenizar – Talvez, quem sabe. Sei que eu não deveria ter ligado e nem nada, mas achei que poderia tentar. Poderia tentar te dar os parabéns hoje, seu aniversário. - Você é uma idiota mesmo – ele emendou, bravo – Sabia que eu cheguei a cogitar a sua ligação, mas pensei que você não seria tão lunática assim. Achei que você fosse um pouco mais normal, um pouco menos inconseqüente. Errei, claro. - Você não sabe de muita coisa a meu respeito, pelo que percebo. Tira conclusões precipitadas, me julga, me cobra, me acusa. Não quer nem escutar nada. Não quer saber o que houve, o que aconteceu, se eu, de fato, estava a fim de beijar aquele cara, se eu...

A TEMPESTADE ESTÁ SÓ COMEÇANDO...

Às vezes, o céu fica bastante escuro, ainda que não seja noite. Nossas vidas também. Às vezes, ficam bastante escuras. Como se não houvesse amanhã, uma tempestade aproxima e promete devastar, inundar, causar, destruir, derrotar e levar tudo o que pudermos pensar. Tudo. Como se o breu das nuvens cinzas fosse a mera tradução dos nossos medos, nossos desesperos, nossa desesperança, nosso desejo de voltar a nascer. Recomeçar do zero. Recomeçar tudo. Tempestades são como a morte. Raios são como o último suspiro. Tempestades são o sexo. Raios, o gozo. Temos medo e somos fracos. Temos medo e somos fracos. Às vezes, uma tempestade pode nos dar muito mais pistas sobre quem realmente somos do que qualquer outra coisa. Do que qualquer outra fotografia ou impressão. Quando ficamos lá, quietos, à frente da janela, apenas observando o céu revolto e negro. O céu desafiador. Indestrutível. É quando percebemos que há muito mais coisas que podem nos matar lentamente, do que apenas a fumaça dos cigarros

TO THE END

- O que vc quer de mim? – ela perguntou, aos gritos – Que porra você quer de mim?. Ele olhou para o chão, triste. Não queria responder, não sabia responder. Preferiu o silêncio. - Vai responder, seu filho da puta? Vai? – ela gritou, enquanto dava socos no peito dele. Socos não fortes, porém socos repletos de raiva, desespero e dor. Ele ficou em silêncio. Ficou em total e absoluto silêncio, sem ter nada a dizer. Ela ter visto aquele beijo já era o suficiente. - Seu idiota. Seu completo e estúpido idiota. Sai daqui. Agora! – ela gritou. E ele saiu do pequeno apartamento e foi embora, descendo as curtas escadas daquele prédio tão antigo. E enquanto descia, podia ouvir, com desespero, o choro e a dor daquela garota tão especial, outrora o grande amor da sua vida. E caiu em choro e lamento. Pobre diabo...

TALVEZ EM VARSÓVIA, NÃO EXISTA DIAS DE SOL...

Talvez em Varsóvia, não exista dias de sol. Talvez em Moscou, os dias de verão já nasçam frios. Talvez em Bombaim, exista pouco trânsito. Talvez em Kingston, a fumaça seja leve. Talvez, talvez, talvez. Talvez no Rio, a noite seja longa. Os amores que perdi, os amores que encontrei, os amores que deixei, os amores, os amores, os amores. Na verdade, palavras lançadas no papel podem soar belas, frouxas, desencontradas ou mesmo apenas palavras. Sem sentido algum. Sem significado algum. Sem a menor necessidade disto. A menor. E no grito dos raivosos repousa a fúria. No grito dos suicidas, a angústia. O desespero repousa no choro dos amantes desolados. Amantes devastados pela perda do amor. Amantes solitários. Amantes desencontrados. Talvez em Sofia, exista uma Bulgária. Talvez em Medellin, exista mercado negro. Talvez o mundo não seja tão divertido assim. Talvez as paixões não sejam tão intensas assim. Talvez as pílulas não sejam tão eficazes assim. E a menina linda, toda gostosa e diverti

BABIES

"Estou deixando a minha vida passar. Isto é grave. Bastante grave. Está passando rapidamente e tudo o que eu queria era poder ter paz. Não beber, não fumar, não fazer merda, enfim, deitar a cabeça no travesseiro de forma tranqüila e calma, e dormir o sono dos bons, o sono dos justos, o sono dos normais. Muito ao contrário, tudo em que me meto remete ao caos, ao desespero, aos problemas. Falta de bom senso, falta de critério, falta de razão, Falta de juízo, como costuma dizer os sábios mais velhos. Ok, ok, juízo também não é tudo na vida. Viver sem um pouquinho de imaturidade ou de risco não é exatamente viver. Mas a vida deve ser vivida de forma alegre e divertida e não necessariamente como um fio de nylon, no qual você tem que caminhar por quilômetros, tendo um abismo colossal abaixo. Não, a vida pode ser mais leve, como um copo de suco gelado, irrepreensível diante de tardes de calor insanas. A vida merece mais, não menos. A vida merece muito, não pouco. Cansei de errar e chora

O DESENCONTRO

A coisa aconteceu mais ou menos assim. Tempos atrás... - Então, eu estou indo para São Paulo. Você não quer me encontrar? – ela perguntou, naquele tom de voz tão sarcástico que ele adorava. Ele pensou por uns instantes, com um sorriso nos lábios – Hmmmmm. Sim. Vai ser ótimo. - Duvido que você ache mesmo ótimo – ela provocou – Você é tão zonzo, que dificilmente vai aparecer. Ele riu do outro lado da linha e respondeu – Deixa comigo. Sou homem de palavra. - Vamos ver, vamos ver – ela emendou – Putz, preciso desligar. - Desliga, não – ele pediu. - Preciso. A porra do meu chefe está me cobrando uma porra de um relatório. Preciso terminar. - Ok – ele disse – Quando você vem mesmo? – perguntou. - Sexta feira. Estarei lá por volta das sete e pouco da noite. Vou fazer o seguinte. Vou te esperar do lado de fora. Não mais que dez minutos. Não mais que dez minutos. E você não tem desculpa, porque trabalha a um quarteirão do local. Logo, se não aparecer, é porque não está a fim de encon

DANÇANDO SOZINHA

Ela gargalhava como uma doida. Uma perfeita insana dançando na bagunça da quitinete em que morava, no centro velho da cidade. Ela gargalhava e gargalhava e gargalhava. E dançava e dançava e dançava. Uma verdadeira menina entorpecida de som e fúria, paixão e vontade. No som rolava uma canção velha e surrada do The Clash. Velha e surrada, porém imprescindível em momentos como este. De alegria plena. Imprescindível. E ela estava feliz demais. Muito feliz. Queria poder beijar o céu. Sentir o gosto das estrelas. Sentir o bafo das nebulosas. Sentir a alegria em brincar com nuvens. Podia fazer isso, de verdade, graças às doses de Campari que havia tomado e ao estado de felicidade absurdo em que se encontrava. Feliz como há anos não sabia ser. Feliz, de fato, pela primeira vez em toda a sua vida. Feliz. E ela dançava na sala, sozinha e feliz. Sozinha e feliz. Agitava seu echarpe e dançava como se não houvesse amanhã. Como se o futuro não mais fosse existir. Como se devesse viver aquele momen

SORRISOS DEMONÍACOS, RESERVADOS DE BANHEIROS E O CLUBE VARSÓVIA

- Sorriso demoníaco? – ela perguntou, arqueando a sobrancelha esquerda, típica façanha que somente ela conseguia. - Sim. Um sorriso demoníaco é o que você tem. Detesto e adoro ele – ele respondeu, enquanto virava um copo de vodka. O Clube Varsóvia estava lotado demais. Era daquelas noites de verão abafadas de quinta feira na quais as pessoas amavam estar na rua. - Não entendi – ela disse, fingindo ignorância e desconhecimento sobre o poder que exercia sobre ele. - Bitch – ele brincou. - Ué, não entendi – ela continuou, abrindo distraidamente mais um botão da sua camisa preta brilhante, deixando parte do seu seio à mostra. Ele respirou fundo. Tomou mais um gole de vodka e acendeu um cigarro. Não conseguia desviar o olhar daquela parte adorável do colo dela que parecia gritar para ser tocado. - Sinceramente, não estou entendendo o seu papo. Coisa estranha esta de sorriso demoníaco. Até parece que sou uma daquelas pin-ups antigas, dos anos cinqüenta, uma Bettie Page contemporânea

O RUÍDO QUE PRECEDE O GOZO

Ele suava frio. Muito frio, mesmo debaixo daquele calor infernal do Rio de Janeiro. Quando encarou a porta do elevador do pequeno, porém adorável edifício, decidiu se ia mesmo entrar. Ficou estático por alguns minutos. - Ei senhor, é no sétimo andar – disse o porteiro, estranhando a lerdeza do rapaz. - Obrigado – ele respondeu. Abriu a porta e entrou. Apertou rapidamente o botão do sétimo andar e ficou pensando no que estava fazendo. O elevador subia rapidamente e ele fez um retrospecto de sua vida pequena, desde o instante em que a conheceu, até aquele momento no elevador do pequeno edifício. Ficou contando os andares até o elevador chegar. Saiu da cabine e ficou diante da porta. Apartamento 701. Não sabia se ela estaria feliz de verdade em vê-lo, ou não. Ele gostava de pensar que sim, porém não tinha certeza. Definitivamente não tinha certeza. Ficou parado e enxugou o suor da testa. Lentamente apertou a campainha. Após alguns segundos, a porta lentamente se abriu. Atrás, ela, tod

ELTON JOHN

- Elton John, Larissa? – Regina perguntou, surpresa. - Pois é – respondeu Larissa, enquanto o Ipod começava a tocar na sala e preencher o ambiente com o glamour e a purpurina sonora de “Bennie and the Jets”. - Impressionante – disse Regina, enquanto acendia um baseado – Impressionante. - Ah, nem tanto, vai. Ele teve lá os seus momentos – defendeu. Regina deu um trago forte e argumentou – Não estou falando dele. E eu lá entendo de Elton John? Estou falando de você. De você. Larissa olhou para a amiga, já sabendo, na verdade, o que ela queria dizer. - Não tenho nada contra Elton John, Larissa. Nada. Mas você não era a rainha indie, a fashionista, a artista alternantiva, etc, etc, etc? E agora me vem com “pop rasteiro e simples”, daqueles feitos para a multidão desavisada? – ironizou – Você não costumava dizer isso sobre as besteiras que eu ouvia? Larissa ficou com um sorrisinho no canto da boca, apenas cantarolando a canção que explodia no pequeno alto falante. - Como você é fác

QUANDO OS RETRATOS CAUSAM DOR

- Moça, moça? – perguntou o taxista enquanto Lia descia do seu carro. - Sim – ela respondeu, desinteressada. - Isto é seu? Acho que você deixou aqui no banco de trás – o taxista, gentil, perguntou, segurando um pequeno retrato em preto e branco, todo amssado, de um carinha todo metido a bonito. Ela olhou para o taxista com constrangimento. Não pôde evitar as lágrimas surgirem em seus olhos. Não pôde evitar a consternação e a raiva. Simplesmente não pôde. - É da senhora? – o taxista perguntou novamente. - Não – ela respondeu seca e rude – Não é não. - Estranho. Achei que fosse. Costumo sempre dar uma olhadinha no banco de trás quando um passageiro sai do meu taxi, para evitar que eles percam as coisas. Esta foto não estava aqui, não. Mas tudo bem. Obrigado moça – concluiu, fechando a porta e acelerando em direção a novos caminhos. Lia ficou estática enquanto o táxi partia. Viu o veículo branco desaparecer entre os outros carros da avenida e não se moveu. Pensou em como era idio

IMPROVÁVEL CENA

- Você é um tremendo babaca, sabia? – Aline disse, com uma raiva enorme contida na entonação de cada sílaba. Ele ficou em silêncio. Um derrotado em um cenário absolutamente inacreditável. Uma praia em um dia de verão. - Um tremendo idiota. Eu devia desistir de tudo e mandar você para o inferno. Não sei a razão de eu insistir tanto. - Desculpa, Aline – Pedro disse, em um tom baixo e arrependido. - Desculpa? Desculpa? Desculpa a puta que o pariu. Você sempre fode com tudo, com estas besteiras que vive dizendo. Pára de pensar que o mundo gira ao seu redor. Pára, por favor. Eu estou de saco cheio disso. De saco cheio, entendeu? - Entendi. Quer um sorvete? – perguntou Pedro, de forma quase infantil. Aline pôs as mãos na cabeça e achou que estava vivendo uma viagem lisérgica, repleta de coelhos, Alices, chapeleiros malucos, elefantes coloridos, e Pedros tresloucados. - Quer? – ele insistiu. - Quero, vai. Você vai querer de qual sabor? – Aline perguntou. - Baunilha e você? - Pega

A VOLTA

É difícil voltar. Difícil mesmo. É difícil voltar a escrever como antes. Muito difícil. Eu costumava escrever demais. Escrevia muito, muito, muito. Cheguei a postar contos quase diariamente durante algum período. Sim, durante algum período consegui esta façanha. E adorava fazer isto. Talvez a coisa mais importante da minha vida. A coisa mais realizadora. O ato mais feroz e feliz. Acontece que as coisas mudam, nós envelhecemos, e a vida passa a ser cada dia mais selvagem e cruel, absolutamente cruel. Pensei e pensei e pensei e cheguei a conclusão de que devia me afastar de tudo. Me afastar dos meus escritos, dos meus contos, do Clube Varsóvia, enfim. Nunca consegui deletar todo este blog, embora tenha tido vontade inúmeras vezes, desde que parei de escrever. Pensei, pensei e pensei muito de novo e cheguei a conclusão de que sou forte. Desatei alguns nós importantes e difíceis e voltei a ser leve e solto. Voltei a ser feliz com pequenos prazeres. Decidi voltar. E mais forte e melhor.