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Mostrando postagens de novembro, 2004
VENUS IN FURS Uma cena de cinema. Calor. Quente. Noite. Verão. Nudez. Paixão. Fantasia. Garoto. Garota. Os dois estão nus, enlaçados sobre o sofá, como se fossem um. Clichê moderno e banal e vulgar, mas convenhamos, plenamente usual. Os dois estão nus, trepando e fodendo e se amando sobre o sofá de veludo. Ambos nus, ambos nus, mas ela, em verdade, menos despida do que ele. Well, ao menos no quesito roupa. Há meia, espartilho, corpete, couro e pele. Sapatos de salto alto. Sem sapatos. Ela menos despida, mas não menos excitada. Sente o calor exalar como chuva ácida dos seus lábios, dos seus poros, dos seus dedos, dos seus seios, do seu sexo. Sexo úmido, molhado e ensopado. Tesão é o que ela sente, e o seu corpo vibra e treme, como um acorde psicodélico lindo, emitido por um violino desorientado, desafinado, drogado, Sonic Youth, divino. Ela sente muito tesão. Muito. Ele também. As fantasias são densas, tensas, trêmulas, chiques, vulgares, deliciosas, amorosas, maravil
BICICLETAS NÃO PRECISAM DE TEMPO - Andar de bicicleta? – ele perguntou, quase surpreso, quase sorrindo, quase feliz – A esta hora? Às quatro da manhã? Ela deu um sorriso delicioso e jogou sobre o seu corpo nu apenas uma camiseta surrada do The Clash. Levantou do colchão e disse, baixinho – Exato, mocinho. Bicicleta. Tem hora para isso? – questionou. - Bem, você sabe, não? A cidade é violenta, a madrugada é sempre uma armadilha, e, pior, está chovendo muito – ele disse, enquanto enchia um copo americano com água gelada. - Qual o problema? Tem coisas bem piores do que andar de bicicleta na chuva, não? - E tem coisas bem melhores também, você não acha? – ele insistiu – Como fazer sexo selvagem em cima deste sofá velho. Ela apenas sorriu. - Tudo bem, tudo bem, tudo bem – ele repetiu - Com e por você, eu sou capaz de qualquer coisa. - Vamos lá, então – ela disse, vestindo um casaco e pegando as suas chaves. ... E nos dias de hoje, passado tanto tempo e tantas lágrimas e ta
espantei o mau agouro joguei sobre minha cabeça um copo cheio de conhaque conhaque velho conhaque barato atraí o tédio atraí o velho pulei do prédio prédio velho como toda a minha vida
ENCONTRANDO MOTIVOS PARA TER UM MOTIVO Não havia sol, mas aquele finzinho de tarde estava quente e abafado como há tempos ele não lembrava. Apesar disso, de todo aquele calor de verão insuportável, não havia muitas pessoas na praia. Estranho – ele pensou. Definitivamente, não havia quase ninguém curtindo a brisa do mar naquela tarde suada. De qualquer forma, ele era uma destas poucas pessoas e, porra, ele estava muito feliz com isso. O baseado estava no fim, quase queimando a ponta dos seus dedos. O cd, com as milhares de músicas em mp3 que ele havia baixado, também já estava acabando e o fone de ouvido começava a incomodar. A lata de cerveja jogada na areia, ao seu lado, já era passado há muito tempo. Ele percebeu que mais um dia estava acabando. Não havia sol e a noite começava a querer invadir, de uma vez por todas, aquele cenário de final de tarde. Ele sorriu, feliz da vida, lembrando da noite anterior e de tudo o que havia descoberto e sentiu uma imensa falta
SOMBRA E FUGA Ela estava cansada. Estava tão cansada como jamais havia imaginado estar. Seus pés doíam, suas mãos tremiam, suas veias eram puro destilado tóxico. Sua cabeça nem parecia mais existir. Seus olhos estavam opacos, sem aquele brilho verde que sempre esteve presente. Seus cabelos estavam sujos. Ela estava cansada. Tão cansada como jamais imaginou alguém poder ficar. Seus dedos estavam frios e suados. Suas pernas mal apoiavam seu pequeno e outrora delicioso corpo. A caneta tremia e ela não conseguia escrever nenhuma palavra. Nenhuma palavra. A madrugada era alta. Dali a poucos instantes, talvez o sol, talvez a chuva, pouco importa, iria aparecer e matar a noite. Mais um longo dia para ela. Ela estava cansada. Tão cansada que resolveu sair. Ir embora sem mensagem nenhuma. Ela abriu a porta e foi embora. De uma vez por todas. Sem saber para onde ir, sem saber do que fugir. Sem saber?