Eduarda cantarolou baixinho como uma idiota a canção assim que a ouviu ecoando das caixas de som da sua velha vitrola. Suave e conhecida melodia. Densas e conhecidas memórias. Angústia e constrangimento pelos erros cometidos. Erros praticados e repetidos. Erros perpetrados sem cuidado, em uma espécie de looping eterno. Erros. Apenas erros com os quais ela tinha intimidade dada a insistência em cometê-los. Eduarda fechou os olhos lentamente e tamborilou os seus longos e finos dedos de desenhista sujos de carvão na amassada caixa de fósforos, esperando com o cigarro apagado descansando em seus lábios, ainda mais lindos na cor cereja. Ela cantarolou baixinho uma última vez. Uma última vez. Sabia que a música acabaria logo e ela? Bem, Nanda já estaria com as malas feitas e fora do quarto, pronta para sair antes mesmo de a porra da canção terminar. Pensado e ocorrido. Assim que abriu os olhos Eduarda viu Fernanda parada em frente ao quarto com a sua mala pronta e a mochila nas costas.