Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de julho, 2006
EM SANTA TEREZA, VOCALISTAS TRISTES CANTAM APENAS BALADAS AMARGAS OU TRIP-HOP Ela ouvia, nítido, o barulho das pessoas ferozes à frente do palco. Uma pequena turba àvida por acordes e guitarras e espetáculo. Você ainda tem medo? - a voz dele ecoou na sua lembrança. O Clube era pequeno. Por mais que o seu primeiro show como cantora fosse uma lembrança adolescente, ela, definitivamente, nunca se acostumaria com o barulho das pessoas e com o cheiro de cerveja e fumaça e maconha que sempre impregnava a atmosfera dos pequenos clubes aonde tocava. Cheiro de pessoas reunidas e desejos. Você é linda. Suavemente linda e apaixonante. Doce. Tão fodidamente doce. Algum idiota anunciou e a banda subiu ao palco. Alguns aplausos, alguns gemidos, assobios, enfim, a reação de sempre. As usual. Ela, mais uma vez, se viu diante de uma platéia. Mais uma vez, ela não estava feliz. Você tem uma obssessão em ser triste. Uma espécie de fixação que eu não quero, e não pretendo, nunca entender. Os acordes começ
ODEIE-ME DOMINATRIX Alguém já viu olhos verdes tão gordos e lindos? Ela era fatal. Uma inebriante Femme Fatale como a canção de Lou Reed e seu underground de veludo. Absolutamente fatal. Fatal e forte e firme e segura e decidida e atrevida e ousada e centrada e todos os demais adjetivos utilizados sem vírgula entre eles. Adjetivos verdeiramente adjetivos. E exatos. Ela era fatal e simplesmente o ignorava. Culpa dele? Claro que sim. Idiota ao extremo, não percebeu que, na verdade, além dos saltos agulha e do corselet preto e do chicote prateado, havia uma garota de olhos gordos e verdes com medo. Insegura e menina demais. Insegura e menina demais para ser deixada de lado. Ele não percebeu. Só isso. Pobre idiota, covarde e medroso. Azar o dele. Agora é tarde para arrependimentos e desculpas. Agora é tarde demais. E nos guardanapos de papel escritos à mão por ele em madrugadas frias e úmidas e bêbadas, repousava a sua culpa e o seu desejo. Não me ignore. Odeie-me dominatrix. E apenas os t
CINEMA MUDO Tensão. Havia tensão no ar. Definitivamente, havia muita tensão. - Você precisa dizer as coisas sem pensar. Precisa fazer mais vezes isto - ela pediu, impaciente - Precisa ser mais seguro. precisa ser mais você. - Preciso? - ele respondeu, pensando muitas vezes antes de responder - É que eu nunca sei quando você fala sério. Ela encarou o teto, irritadíssima e disparou - Faça como quiser, seu porra pretensioso. Quem disse que é para você saber o que penso - Quem disse? Ele nada disse. Pensou em dizer diversas coisas, óbvio, mas ficou em silêncio. Ficou em silêncio tentando achar a palavra perfeita, a frase certa, a entonação adequada, mas, ainda mais uma vez, ficou apenas em silêncio. - Vou indo, então - ela falou - Estou com fome, preciso comer alguma coisa. - Agora? - É, agora, qual o problema? - Nada, mas já são duas da manhã. - E, por acaso, ninguém pode ter fome às duas da manhã? - Não precisa ficar puta - ele pediu, sabendo que havia feito merda a noite toda. Ela olhou
Estava receosa... Señor Varsóvia nunca dera as chaves nas mãos de ninguém antes. O clube estava vazio. A porta fez eco quando ela a abriu. Foi até o bar, pegou uma garrafa de vodca de um jeito meio "foda-se. já que eu to aqui..." Ligou o som... dançou rindo, ao lembrar de tantas bobagens que ele falava quando lhe entregou a chave... "Ok" pensou, "não vou abusar muito disso aqui... não vou mudar nada... gosto das paredes, gosto desse teto imundo..." Mas acima de tudo, gostava dele... Señor Varsóvia... Sentiu-se despreparada para a missão, mas foi em frente. Abriu o cofre, pegou toda a grana, cartas e outras porcarias de lá de dentro, enfiou na mochila velha e saiu com a garrafa de vodca na mão. Trancou a porta, mas deixou uma fresta da janela aberta... se ela quisesse voltar, pularia. Sem a permissão dele. Sabia que eles se encontrariam em algum lugar... Ele não deixaria as chaves com aquela garota que também falava apenas bobagens.. NUNCA MAIS... ele não e
E ELA AINDA MORAVA EM NITERÓI - Você nunca fala sério? - ele perguntou. Ela sorriu, tímida, e ficou em silêncio. - Nunca? - ele insistiu. - Talvez. Deveria? - ela arriscou, sem saber até que ponto podia chegar. Ele olhou para o céu, meio irritado e disse, em um tom de voz mais alto - Claro que sim. Claro que sim. Você tem que aprender a falar sério - insistiu - Ao menos uma vez na vida. Ela sorriu - Não sei. Definitivamente não sei o momento. Não sei o exato momento em que um olhar deve ser substituído por uma palavra. - Não? - ele perguntou. - Não - ela respondeu. - Então deixa eu te dizer uma coisa, minha querida. Algo simples, porém inédito nas nossas conversas. - Você está bravo? - ela perguntou. Ele sorriu, doce - Não, claro que não. Ela retribuiu o sorriso, curvando suavemente os lábios vermelhos, num esboço de simpatia. - Na verdade - ele prosseguiu - Você parece que foge. A todo momento parece fugir. - De quem? - ela perguntou, mordendo os lábios, esperando que ele errasse a re