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Mostrando postagens de 2022

Vinte

  leia e ouça: anthony lazaro || someone like you - Ei, hoje não é o último dia da primavera, início do verão? – ele perguntou, enquanto observava o sol morrer pela janela, quieto, belo, brilhante. Precisamos celebrar - concluiu. - Que dia é hoje? – ela perguntou. - Dia 20 – ele respondeu, enquanto deixava a paisagem do pôr do sol para lá e se concentrava em um casal de velhinhos fantásticos que andavam de mãos dadas pela calçada. - Não. Amanhã é o último dia da primavera, então – ela disse, com um sorriso adorável indo em sua direção e com aqueles olhos verdes tão e tão e tão e tão devastadores. Linda. Apenas ela. Ele sorriu e emendou - Eu detesto quando a primavera termina. Eu simplesmente detesto quando as coisas, no geral, terminam. Eu não gosto disso. Não gosto do fim das coisas, não gosto de encerramentos. Não gosto de fins. Eu sempre choro nas cerimônias de encerramento das olimpíadas, copa, essas coisas – disse, com um sorriso. Lindo, por sinal, e prossegui

Olhos Verdes

leia e ouça: ride || polar bear “ ... she knew she could fly like a bird  but when she said ‘please raise the roof higher' nobody heard they never noticed a word the light bulbs burn,  her fingers will learn … ” E, do fundo do armário, como mágica, aquele pedaço de papel surgiu no meio de meias ímpares e roupas amassadas. Simplesmente surgiu. E, ela, surpresa e de primeira, conseguiu conter as lágrimas ao segurar aquele pequeno pedaço de papel verde água em suas mãos pequenas e delicadas.  Frágeis. Suadas.  Geladas.  Aflitas. Nervosas. Tristes. Ela, sim, conteve as lágrimas e lembrou do exato momento em que tocou pela primeira vez aquele pedaço de papel. A tristeza passou por UM segundo e ela sorriu da beleza daquele momento. Esqueceu o tremor das mãos e, firme, segurou o papel para seus olhos esmeralda dançarem  e dançarem e dançarem novamente por toda a extensão daquele pedacinho de papel. Correu e correu os olhos pelo desenho de palavras à sua frente. Linda combinação de vogais,

Carvão

leia a ouça: stray fossa || better late than E lá estavam os dois sentados na sala de estar da casa dela. Dois. Os dois. Sempre os dois. Amor. Eles… - Desenha algo para mim? Ele pediu, doce e inseguro. Ela sorriu linda e disse o encarando com seus olhos verdes, grandes e intensos – Oras, não sei desenhar. Você sabe disso. Não sei rabiscar nadinha. Tenho outras habilidades, mas não o desenho. Ele devolveu o sorriso, sorriso agora ainda mais intenso e respondeu - Ah, por favor, tente desenhar qualquer coisa. Qualquer rabisco. Ela o encarou divina com seu olhar esmeralda e respondeu decidida - Claro. Desenho. O que o senhor sedutor em pedidos impossíveis gostaria que eu rabisque? Ele a olhou feliz por vários instantes e disse - O que você quiser. O que te inspira. Qualquer coisa. Qualquer coisa…. desenhe o meu amor por você… - disse, e essa afirmação última em um tom quase inaudível. Ela percebeu o som das palavras quase não ditas, o encar

Não Há Mais O Suor Nas Mãos

leia e ouça: the smiths || asleep (piano cover - youtube channle Erzsébet Abyzou) Silêncio.  Ela olhou ao redor da sala e havia apenas silêncio. O silêncio intenso reinava na sala. A ausência de ruídos contrastava com um solene objeto deixado no canto da sala. Um piano. Sim, apesar do silêncio quase absoluto mortificando o ambiente, o piano estava lá. Intimidador, quieto, solene, impositivo, marcante e… esperando, apenas esperando por ela, como esteve por muito tempo. Tempo demais que ela deixou passar sem perceber.  Ela olhou ao redor da sala e havia apenas silêncio. Esfregou as mãos e percebeu o frio. Geladas. As suas mãos pequenas estavam incrivelmente geladas. Ela estava com as mãos polares como nunca. Ainda bem que minhas unhas estão pintadas em vermelho - ela pensou em um momento banal - Descascadas? Ok, mas o vermelho esconde o roxo do frio, desse gelo, desse medo - continuou em pensamento, lembrando, ainda mais uma vez, como suas mãos estavam frias. Sensação

Tudo O Que Eles Queriam

leia e ouça: coyote theory || this side of paradise  “So if you’re lonely, no need to show me If you’re lonely, come be lonely with me” Tudo o que ele queria era ser feliz.  Tudo. Tudo o que ela queria era fazê-lo sorrir. Tudo. Tudo o que eles queriam era ficar juntos. Tudo. Sentados na cama, em lotus, com luz baixa no quarto e sombras por todos os lados, ela o observava e ouvia as palavras que ele disparava em grito, como um pedido de socorro abafado e preso por tanto tempo. Uma mensagem em uma garrafa lançada ao mar e, enfim, encontrada. S.O.S. Palavras cuspidas que remetiam lembranças de algo muito, muito ruim. Algo mal. Nada bom. Lembranças do que ele nunca precisou. Nunca. Passado. Passado mesmo, pois, agora, doce presente, ela estava lá. Com ele. Atenta. Desperta. Aflita. Aflita, porém firme. Segura. Forte como ele precisava que ela fosse. Forte como eles precisavam que eles fossem. Forte como a vida,  Forte como a verdade. Ela o observava com intensidade e amor. Minutos que pare