Pular para o conteúdo principal

Tudo O Que Eles Queriam


leia e ouça: coyote theory || this side of paradise

 “So if you’re lonely, no need to show me

If you’re lonely, come be lonely with me”


Tudo o que ele queria era ser feliz. 

Tudo.

Tudo o que ela queria era fazê-lo sorrir.

Tudo.

Tudo o que eles queriam era ficar juntos.

Tudo.

Sentados na cama, em lotus, com luz baixa no quarto e sombras por todos os lados, ela o observava e ouvia as palavras que ele disparava em grito, como um pedido de socorro abafado e preso por tanto tempo. Uma mensagem em uma garrafa lançada ao mar e, enfim, encontrada. S.O.S. Palavras cuspidas que remetiam lembranças de algo muito, muito ruim. Algo mal. Nada bom. Lembranças do que ele nunca precisou. Nunca. Passado.

Passado mesmo, pois, agora, doce presente, ela estava lá.

Com ele.

Atenta.

Desperta.

Aflita.

Aflita, porém firme.

Segura.

Forte como ele precisava que ela fosse.

Forte como eles precisavam que eles fossem.

Forte como a vida, 

Forte como a verdade.

Ela o observava com intensidade e amor. Minutos que pareceram horas. Ela, por vários momentos, quis mergulhar na piscina verde água dos seus olhos e tentar, de alguma forma mítica, como algum conto nórdico antigo, tocar aquela alma e cicatrizar qualquer ferida que pudesse estar lá. Qualquer uma. Qualquer uma que restasse. E, sim, ainda havia marcas.

Mas elas desapareceriam. Sim, desapareceriam mesmo.

E tudo o que ela queria era fazê-lo feliz. 

Tudo. 

Tudo.

E com seus dedos longos e finos, ela tocou suavemente o rosto dele tão lindo e grande, com seus cabelos desgrenhados grudados no suor da testa e das lágrimas que não paravam de escorrer pela maçã suave do seu rosto, agora vermelho. Ela o acolheu. Ele permitiu. Ela o segurou pelo queixo e, doce, o fez levantar a cabeça. Encarou aqueles lindos olhos verdes. Os olhares, então, se misturaram em um só. Fixos. Verdadeiros. Intensos. As lágrimas dos dois transbordavam pelas respectivas faces. No fundo dos olhares trocados por ambos, havia muito mais que amor. Muito mais.

Havia afeto, doçura, cuidado, carinho, respeito, conexão, cumplicidade, magia, visibilidade, segurança e vida. Muita vida. E, naquele momento, naquele exato momento, enfim ele sorriu… e ela também. 

Naquele instante, mágico e eterno momento, ele percebeu que poderia ser feliz na sua vida. 

Nova vida.

Nova vida.

Enfim, sorrisos.

Enfim, paz.

Enfim, amor.

Enfim, ela

Enfim, ele,

Enfim… ELES.

Tudo o que ele queria era ser feliz. 

Tudo.

Tudo o que ela queria era fazê-lo sorrir.

Tudo.

Tudo o que eles queriam era ficar juntos.

Tudo.

E ficaram.

Com amor… com muito e muito e muito… 

Amor

Todinho deles, esse sentimento mágico apenas chamado… AMOR!


“So if you’re lonely, no need to show me

If you’re lonely, come be lonely with me”



Photo by: (n/d only 1968)




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PASSE-ME O SAL PARA EU BOTAR NA SOBREMESA?

- Não há nada a desculpar – ele disse pouco tranquilo, muito mentiroso, entre os copos de vodka, as mesas e o barulho do Clube Varsóvia, tentando desviar do olhar adorável, inesquecível e maravilhoso daquela garota à sua frente. Ele a amava. Ela o olhou com ternura e amizade e fez um carinho breve e gentil no seu cabelo. Por instantes, breves instantes, ela lembrou de todo o afeto e paixão que sentiu por ele no passado. Todo o carinho, o afeto e o amor que sentiu por ele em um passado não tão distante. Como foram felizes. - Fica tranquila – ele disse e continuou - Nada a desculpar mesmo. Tudo em ordem do meu lado – ele prosseguiu – Você gosta de MPB mesmo. Eu detesto – completou, com um sorriso. - Você mente mal. Muito mal mesmo sabia? Quase um canastrão – ela brincou e continuou – Esqueceu que te conheço há um tempinho? - Muito tempo? – ele perguntou, tentando disfarçar, enquanto acendia um Marlboro – Dentre as mentiras da vida, duas nos revelam mais – recitou, citando a antiga c...

TEMPESTADES DE NATAL

Ela acordou de repente, com um grito. Era madrugada e ela acordou absolutamente assustada. Estava suada e sua cama completamente encharcada. Suor frio. O pesadelo havia sido insano. Era preciso ter nervos de aço para dormir naqueles dias. Nervos de aço. E ela levantou da cama tremendo. Foi direto para a cozinha, se é que há diferença entre o quarto e a cozinha naquela porra de apartamento em que ela morava. Ou se escondia? Ao lado do filtro de água pegou um copo americano. Abriu o armário e encheu de conhaque. Não conhaque dos bons, claro. Ela não tinha grana para este tipo de luxo. O máximo que ela conseguia comprar era algum destilado vagabundo, sempre dos mais baratos. Sempre dos mais escrotos. Seu fígado já nem se importava. Ele estava pouco se fodendo com o líquido, o cérebro queria o efeito. Sentou à mesa e pegou seu maço de cigarros. Os cigarros sim, mais caros do que o usual. Morrer de tédio ou morrer de vodka barata ok, mas se é para morrer de câncer causado por cigarro, que...

Going Down

leia e ouça: lou reed || going down “... Time's not what it seems. It just seems longer, when you're lonely in this world. Everything, it seems, Would be brighter if your nights were spent with some girl Yeah, you're falling all around. Yeah, you're crashing upside down. Oh, oh, and you know you're going down For the last time …” Lou Reed || Going Down E o sonho avançava. Apenas avançava. A noite tinha apenas começado. … - Ei mocinha. Mocinha? Me ouve? Ela chacoalhou os cabelos castanhos desgrenhados, um monte de nós sem sentido, apenas ela, virou o rosto confuso e encarou aquele sujeito grande, intimidador, com cara de bravo e que estava imóvel à sua frente, um verdadeiro brusco naquele cenário. - Então, me ouve? Está me ouvindo? - aquele grandalhão insistiu - Me ouve, porra? - disse, de modo grosseiro. Ela olhou com um tanto de medo e sem saber exatamente o que fazer, o que dizer, o que mexer, o que responder, nada disse. Apenas, nada disse. - Você entende? É surd...

NOSSO SUOR SE MISTUROU DEMAIS...

- Nosso suor, se misturou demais ... – ela cantarolou baixinho. Bem baixinho, emitindo sinais, mas não de propósito. Ele ouviu e respondeu de pronto – Música antiga, hein? Está ficando saudosa ou velha mesmo? – perguntou grosso, tosco, otário, como sempre fez, sem desviar os olhos do seu jornal. Ela apenas sorriu. Sabia que ele não era assim. Ele apenas se fazia – e gostava muito disso - de filho da puta. - Canção antiga. Vintage total. Vintage total. Mas vintage tá na moda , não é mesmo? – ele emendou – Veja o bando de velhos ouvindo discos de vinil por aí. - Você é um babaca – ela respondeu. Ele apenas sorriu. Tinha certeza disso. - Nosso suor, se misturou demais ... – ela cantarolou novamente. Desta vez não tão baixinho, não tão tímida. Não tão baixinho, nem um pouco tímida. Forte. Segura. Decidida. Sabia o queira, mas não achava o alvo. - Também acho – ele concordou, fechando o jornal com média força e suspirando forte – E não sei exatamente o que fazer. D...