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Mostrando postagens de fevereiro, 2018

ACORDES

E era ele e sua guitarra verde velha. Apenas os dois: Ele e os seus acordes - além de um sofá horroso, um apartamento velho e um copo de gim. Sem gelo. Sem ar condionado. Sem suor. Sem nada. Nada mais. Nada mais. Apenas acordes mal tocados. E eles rolavam noite afora. Descontrolados. Deliciosos. Acordes. Apenas acordes. Misturados ao barulho da chuva. Misturados ao som do salto alto da vizinha de cima. Delícia de saltos e unhas vermelhas pintadas. Acordes misturados aos sons da noite. Ao som das unhas da sua vizinha. Ao som dos seus dedos. Acordes. Apenas acordes. Dedos delicados e sensíveis. Acordes misturados aos deliciosos barulhos da madrugada. Sons deliciosos. Os barulhos da sua vida. Medíocre, porém adorável vida. Nada mais que isso. E pode haver mais? Pode? E você me diz aonde ir. Aonde ir... “One sign said north one sign said east so I went south …”

A NOITE É (OU FOI) UMA PRINCESA

- Você não entendeu porra nenhuma do que eu disse, não é?– ele perguntou e gritou descontrolado. Ela sorriu de forma irônica e respondeu – Não? Vá se foder seu otário. Você é um imbecil. Um imbecil completo.  Eu entendi bem a porra toda. Eu entendi tudo. Vai com ela, filho da puta. Vai com ela para a porra da festa. Ele olhou para o alto e nada disse. Apenas suspirou. Suspirou forte. - O que foi? – ela perguntou - Deixou de ser o bonzão, o cara legal, o super amigo daquela vaca? – disse de forma amarga. - Você não entendeu merda nenhuma do que eu disse – ele repetiu menos descontrolado – Ela apenas quer minha companhia. Apenas minha companhia. Nada a ver, além disso. Ela chorou. Ele não. - Olha, faça o que você quiser – ela disse - O que quiser. Mas me deixe em paz. Pode ser? – perguntou com os olhos vermelhos, aflitos, desesperados. Ele quase chorou. Quase. - Eu recordo uma canção antiga – ela disse. Dizia assim: “ A noite é princesa, caída por mim, no lado d

COSMONAUTA DJ

Três da manhã. A noite daquela sexta estava apenas começando. Apenas começando. O Clube Varsóvia estava cheio, como sempre. Como sempre. Mesmo com a chuva despencando lá fora. Despencando em baldes, não em gotas. Não em gotas. Ao menos a luz não caiu. Ao menos nenhum imbecil pediu música. Ao menos até aquele momento. Mas, ok. Ele estava em casa, cercado de seus vinis, de seus pendrives, de seu notebook, enfim, de tudo o que precisava para tentar fazer as pessoas dançarem. Estava dentro do seu aquário minúsculo com todos estes aparelhos, apenas escolhendo as músicas e observando as pessoas dançando, beijando, cheirando, fumando, curtindo, rindo, olhando umas as outras. Uma deliciosa caça de gatos e ratos sob aquelas luzes incansáveis que não paravam de brilhar e girar sua mente como um disco de vinil. E, mesmo querendo estar sozinho, ele estava dentro do seu aquário. Dentro do seu minúsculo, porém adorável e seguro aquário. No Clube Varsóvia. Um cosmona

GOTAS DE SUOR QUE NÃO MOLHARAM NADA E NEM MOLHARÃO MAIS NINGUÉM

O relógio avançava e avançava e avançava. Ponteiros a mil. Mil. Velocidade máxima. Total Sandra Bullock para quem tem mais de duzentos anos. Velocidade máxima. Ponteiros voando. Alta madrugada. Muito alta madrugada. Mas ela não dormia. Definitivamente Estela não dormia. A insônia reinava. A insônia reinava, porém não sozinha. Não sozinha. A fumaça era a rainha. A real rainha. A fumaça predominava em todo o ar que se poderia, eventualmente, respirar naquele apartamento de merda em que ela morava no centro antigo da cidade. Aquele minúsculo apartamento de único cômodo (cômodo?). A fumaça fazia o ar fugir pelas mínimas frestas do apartamento, de tão densa que aquela fumaça era. Fumaça de ódio, fumaça de dúvida, fumaça de ressaca, fumaça de amor mal resolvido, fumaça imaginária, fumaça de cigarro barato comprado no centro da cidade junto a um camelô qualquer. E Estela estava nervosa. Muito nervosa. Ansiosa. Muito ansiosa. Muito nervosa e ai

Nunca republiquei

Nunca republiquei mas hj não deu. Republico. Muito oportuno. Muito... CARNAVAL, REVEILLON E MPB Ela gostava de MPB. Ele não. Ela acreditava no além. Ele não acreditava em nada além dele. Ela gostava de tudo, menos de Elis Regina. Ele gostava de tudo, mais de Ramones. Ele a amava. Ela também. Ele não sabia nada. Ela o ensinou. Ele aprendeu. Eram duas figuras totalmente diferentes uma da outra, porém muito iguais. Esquisito não? O destino existe? Será? - Você me ama? – ele perguntou inseguro demais apesar da sua idade, segurando-a pelos seus ombros largos e deliciosos com paixão e muito tesão. Com muita paixão e muito tesão. Amava (ela e os seus ombros desnudos). Ela sorriu. Muito mais nova que ele, muito mais nova que ele, porém muito mais madura, com certeza – Claro. Claro que amo, seu bobo. Ele chorou. Ela sorriu. Sorriu e secou as suas lágrimas. - Não chora – ela pediu – Por favor. - Não consigo – ele respondeu. - Não? – ela i

UMA NOITE DE CHUVA NO HOTEL VARSÓVIA

Ela estava sentada com as pernas bem dobradas, encostada junto à parede daquele quarto vagabundo do Hotel Varsóvia. Debaixo da esquadria da janela da sala daquele apartamento vagabundo em que estava hospedada. Uma droga. Uma porra de apartamento. Ao menos sozinha. Ao menos. No escuro, sentada com as pernas bem dobradas, quase com câimbras que sequer sentia, ela apenas via a sombra noir dos relâmpagos que davam as caras lá fora, intermitentemente. Uma droga. Uma porra de apartamento. Uma porra de Hotel Varsóvia. Ao menos sozinha. Acuada e assustada. Acuada e assustada. Bem, nada estranho. Nada estranho. Nada estranho vindo do seu cotidiano. Acuada e assustada era apenas ela na sua melhor forma. Na sua pior forma. Na forma de sempre. Tola as usual . E a chuva parecia ser despejada do céu pelos anjos – Anjos? Que porra é essa? - através de enormes baldes. Enormes baldes, repletos de água doce e ao mesmo tempo amarga. Água das nuvens, dos rios, d

ELES

- Você não é homem?  - ela perguntou. Ele ficou sem graça. Silêncio. Mortal. Denso. Tenso. Ele nada disse. - Não é? – ela perguntou novamente – Responde caralho. Seu imbecil. Silêncio. Mortal. Denso. Tenso. E ele, ainda mais uma vez, nada disse. - Idiota – ela praguejou, ríspida, após mais um gole da sua cerveja. - Imbecil – ela insistiu. E ele nada disse por instantes e após algum tempo respondeu – Tem uma canção que diz assim... “... Qual a palavra que nunca foi dita, diga Qualquer maneira de amor vale aquela. ...” Eu sei que voc~e só ouve punk e rock, mas eu posso ser imbecil, mas ainda amo. Não sou tão tolo assim – disse. - Amo o que tem que ser amado – finalizou. Ela olhou para o alto e disparou – Qual a palavra que nunca foi dita? “Imbecil”. Tá bom para você? – preguntou. Ele nada disse. Apenas sorriu. Mas com ternura ela prosseguiu – Mas você é foda. Um imbecil adorável e de quem não posso ficar longe. Nunca. Nunca me

VELUDO AZUL

E ele adorava veludo. Adorava veludo, bebidas, músicas boas e lingeries. E mulheres com pouco espaço nas costas entre tatuagens. E ele adorava veludo. E grafite. Adorava o cheiro do batom e o gole de saliva que insistia em roubar dela. Línguas. Dedos. Pele. Unhas. Cheiros. Perfumes. Veludo. - Posso? – ele perguntou. Ela concordou com a cabeça, trêmula. Úmida. A sua mão invadiu as suas pernas longas. Longas pernas de uma dama. Suspense antes de atingir o objetivo... deixá-la louca. Lingerie? Não havia mais. Corpos? Dois. E ele adorava veludo. Adorava veludo, bebidas, músicas boas e lingeries. Mas... gostava mais de mulheres lindas e nuas. Machista? Nunca. Canalha? Talvez. Mas um canalha sempre respeitando o toque. Sempre respeitando o toque do veludo azul no veludo... rosa. Rosa e úmido. Com cheiro de flores, vinho tinto e uma noite inesquecível. Ele adorava veludo. Ela? Ainda mais... ainda mais. E sonhos? Os me