Três da manhã.
A noite daquela sexta estava apenas começando.
Apenas começando.
O Clube Varsóvia estava cheio, como sempre.
Como sempre.
Mesmo com a chuva despencando lá fora.
Despencando em baldes, não em gotas. Não em gotas.
Ao menos a luz não caiu.
Ao menos nenhum imbecil pediu música.
Ao menos até aquele momento.
Mas, ok.
Ele estava em casa, cercado de seus vinis, de seus
pendrives, de seu notebook, enfim, de tudo o que precisava para tentar fazer as
pessoas dançarem.
Estava dentro do seu aquário minúsculo com todos
estes aparelhos, apenas escolhendo as músicas e observando as pessoas dançando,
beijando, cheirando, fumando, curtindo, rindo, olhando umas as outras. Uma
deliciosa caça de gatos e ratos sob aquelas luzes incansáveis que não paravam
de brilhar e girar sua mente como um disco de vinil.
E, mesmo querendo estar sozinho, ele estava dentro
do seu aquário.
Dentro do seu minúsculo, porém adorável e seguro
aquário.
No Clube Varsóvia.
Um cosmonauta ilhado dentro da sua nave.
Apenas com a sua música, com os seus problemas, as
suas doenças, as suas dores, as suas necessidades, a sua saudade. Muita
saudade. Muita saudade.
Mas ninguém precisava saber disso.
Ninguém.
Ninguém precisava saber disso.
O que precisavam era de músicas felizes.
Muito felizes.
Ele tinha que tocar músicas compostas de pílulas
rosa e balas em forma de acordes mal performados ou batidas eletrônicas.
Conforme o momento.
Conforme a nicotina.
Conforme a taxa etílica.
Conforme o nível de endorfina da pista.
E já eram quatro horas da manhã.
A noite já havia começado.
Começado há tempos.
O Clube Varsóvia ainda mais cheio, como sempre
naquele horário.
Como sempre.
E ele, o “responsável” pela dança precisava tocar
as canções felizes, embora, definitivamente, ele não quisesse.
Não mesmo.
Ao menos não naquela noite.
Não naquela noite.
Mas ninguém precisava saber disso.
Ninguém.
Pílulas rosa e balas em forma de acordes mal
performados ou batidas eletrônicas fazem todos dançarem. Todos dançarem.
Tônica da noite.
Isto é o que importa.
Mais uma noite em Varsóvia.
No Clube Varsóvia.
E, do nada, uma garota bem bonita deixou um bilhete
mal feito em um guardanapo vagabundo e o escorregou para os seus dedos entre as
frestas do seu aquário.
Sorriu, piscou o seu olho direito e partiu.
Ele ficou surpreso.
Bastante surpreso.
Bastante.
E leu o que estava escrito.
Sorriu como um tolo.
Um tolo.
Esqueceu as músicas, esqueceu a pista, esqueceu o
aquário e sorriu.
Apenas sorriu.
Muito feliz.
Muito feliz mesmo.
Decidiu tocar apenas o que queria dali para frente.
Apenas o que queria.
Canções sobre pílulas rosa e balas em forma de
acordes mal performados ou batidas eletrônicas para fazer todos dançarem. Todos
dançarem.
Inclusive ele.
Um Cosmonauta fora de órbita.
Na Ionosfera, apenas lembrando e desejando aquelas
pernas tatuadas.
Dela.
E ela?
Estava lá.
Era o que o bilhete dizia.
Bebendo e o observando dentro do aquário.
Depois de tanto tempo.
Tanto tempo.
O que dizia o bilhete?
Nada além de uma deliciosa caça de gata e rato sob
aquelas luzes incansáveis que não paravam de brilhar e girar a mente do DJ como
se fora um velho disco de vinil.
Ele sorriu ainda mais percebendo ela sentada no bar
o fixando, com suas lindas pernas tatuadas ao lado da sua linda amiga delivery de bilhetes.
Ele estava na Ionosfera.
Ionosfera.
E a observando.
Cruzamento delicioso de olhares.
Ela, do balcão do bar.
Ele, da sua isolada nave cosmonauta.
Ela apenas esperando ele parar.
Ele desejando muito isso.
Apenas parar e ir até ela.
Eles?
Apenas esperaram a noite acabar para, assim, a
noite realmente começar...
Começar...
E ele era o DJ.
Ele decidia tocar.
Definitivamente.
Simples assim.
E quem sabe o que é a Ionosfera?
Quem sabe naquela hora da madrugada...
Naquela hora da madrugada.
Apenas eles.
Apenas eles.
“IONOSFERA
substantivo feminino
Camada da atmosfera terrestre que contém cargas elétricas (íons e elétrons livres), situada entre a estratosfera e a exosfera, a aprox. 50 km –80 km de altitude”
Camada da atmosfera terrestre que contém cargas elétricas (íons e elétrons livres), situada entre a estratosfera e a exosfera, a aprox. 50 km –80 km de altitude”
(Dicionário Houaiss)
Simples assim.
“D.J.
I'm home, lost my job, and incurably I'll
You think this is easy, realism
I've got a girl out there, I suppose
I think she's dancing
Feel like Dan Dare lies down
I think she's dancing, what do I know?
You think this is easy, realism
I've got a girl out there, I suppose
I think she's dancing
Feel like Dan Dare lies down
I think she's dancing, what do I know?
I am
a D.J., I am what I play
Can't turn around no, can't turn around, no, oh, ooh
I am a D.J., I am what I play
Can't turn around no, can't turn around, no, oh no
Can't turn around no, can't turn around, no, oh, ooh
I am a D.J., I am what I play
Can't turn around no, can't turn around, no, oh no
I am
a D.J., I am what I play
I got believers
Believing me, oh
I got believers
Believing me, oh
One
more, weekend, of lights and evening faces
Fast food, living nostalgia
Humble pie or bitter fruit
Fast food, living nostalgia
Humble pie or bitter fruit
I am
a D.J., I am what I play
Can't turn around no, can't turn around no, ooh
Can't turn around no, can't turn around no, ooh
I am
a D.J., I am what I say
Can't turn around no, can't turn around, ooh
I am a D.J., I am what I play
I've got believers
Believing me
Can't turn around no, can't turn around, ooh
I am a D.J., I am what I play
I've got believers
Believing me
I am…”
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