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Mostrando postagens de janeiro, 2018

CÉU LÍQUIDO

Ele estava sentado com as pernas bem dobradas, encostado junto à parede. Debaixo da esquadria da janela da sala daquele apartamento vagabundo em que ele morava. Uma droga. Uma porra de apartamento. No escuro, sentado com as pernas bem dobradas, quase com câimbras que sequer sentia, ele apenas via a sombra noir dos relâmpagos que davam as caras lá fora, intermitentemente. Acuado e assustado. Acuado e assustado. Bem, nada estranho. Nada estranho vindo dele. Acuado e assustado era apenas ele na sua melhor forma. Na sua pior forma. Na forma de sempre. Tolo as usual . E a chuva parecia ser despejada do céu pelos anjos – anjos? Que porra é essa? - através de enormes baldes. Enormes baldes, repletos de água doce e ao mesmo tempo amarga. Água das nuvens, dos rios, dos Alpes, de lágrimas e de tudo o mais o que parecesse líquido. Mas, ainda assim, o seu baseado insistia em permanecer aceso preso entre seus lábios. Insistia amigavelmente. Bom amigo. Seu único

EU DANÇARIA SINATRA COM VOCÊ

- Dançaria? – ele perguntou surpreso e extremamente animado – Dançaria mesmo Sinatra comigo? Ela apenas sorriu e nada disse. Nem um contra argumento. Nada. - Dançaria? Mesmo? Mas e o punk, o hard core, o rock e o caralho a quatro que você tanto gosta? Você dançaria mesmo? – repetiu. Ela sorriu e respondeu – Claro que sim. Claro. Com você eu dançaria qualquer coisa. Até tango. Ele pareceu um bobo. - Me leve para a lua então. - Como? – ela perguntou. - A lua. Me leve até ela. FLY ME TO THE MOON “ Fly me to the moon and let me play among the stars Let me see what spring is like on Jupiter and Mars In other words Hold my hand In other words darling, kiss me Fill my heart with song And let me sing forever more You are all I long for All I worship and adore In other words Please be true In other words I love you Fly me to the moon Jupiter and Mars Fly me to the moon Jupiter and Mars Fly me to the moon Fly me to the moon Fly me to the moon Fly

DEE DEE

- Você não gosta de Sinatra? – ele perguntou surpreso. Ela sorriu seu sorriso mais lindo, mais fofo, mais terno e amplo e deu mais um gole da sua vodka. Ele pareceu surpreso – Mas que tipo de pessoa não gosta de Sinatra? Não entendo – Mafioso, bonito, cantor, cool, enfim, tudo de bom. E usava uns ternos e chapéus lindos. Grafite. Fora as mulheres com quem saiu. - Bonitão você é cego ou não me conhece? – ela respondeu – Está vendo a minha camiseta surrada aqui? Ele sorriu. - É, está bem surrada mesmo. - Muito uso, otário. Ele sorriu, sem graça. - O que está escrito nela? – ela perguntou cínica. Ele sorriu como um bobo e respondeu tímido – Dee Dee Ramone. Sou um idiota mesmo. Ela sorriu – Não é não. Apenas deixa as pessoas levarem a sua vida e gosta de Frank Sinatra e dos Ramones também. Sujeito difícil você. Muito difícil. Ele assentiu com a cabeça e disse – Sou mesmo, mas sabe de uma coisa? Ela negou com a cabeça e esperou a resposta dele. - Fly me to the Mo

JURANDO MENTIRAS

- Você o quê? – ele perguntou visivelmente irritado. Muito irritado. Ela deu de ombros, tomou um gole da sua bebida e deu um trago de seu cigarro. O décimo nono da noite de muitos outros que ainda viriam. - Repete porra – ele falou em um tom mais alto, mas não desrespeitoso. Ela ignorou. Apenas ignorou. - Não vai dizer nada? – ele perguntou. Ela deu um discreto sorriso e respondeu – Não. Nada. Não tenho nada para te falar além do que já disse. E falei demais, por sinal – emendou. - Ah, uma letra de música dos anos setenta que nem minha avó lembra mais. Ela sorriu cínica e mais uma vez tomou um gole da sua bebida e deu um trago no seu cigarro. O vigésimo da noite. - Você me jurou mentiras? – ele perguntou de forma aflita – É isso? Mentiras? Perguntou – Mentiras? - Insistiu. Ela parou e o encarou direto antes de dizer – Sim. Jurei o que podia e o que não podia. Mas, agora estou livre. Sigo sozinha, assumindo meus pecados, se é que eles existam. Se é que existam

OUVINDO CORES

- O que você pretende? – Tina perguntou de forma apressada para Lia – O que pretende? Investir em nada? Nada? Em quem nem quer saber de você? – disse de forma cruel. Lia abaixou a cabeça e nada disse. Limitou-se ao seu baseado vagabundo e sua vodka de quinta categoria. - Não adianta Lia, porra. A caixa postal do seu celular ordinário jamais vai receber uma mensagem dela. Ela te deu um foda-se, entende? Entende? Lia olhou-a trêmula, esperando apoio, apenas apoio – Talvez não. Talvez não. Talvez ela não tenha conseguido ligar. Apenas isso. Apenas não tenha conseguido ligar. Tina olhou para o alto sem a menor paciência. A menor paciência. Ficou em silêncio. - Sabe de uma coisa? – pergunntou Lia. Tina respondeu seca, porém com afeto – Nem tenho idéia, Lia. Nem tenho idéia, ainda mais vindo de você. Nem tenho idéia. - Eu gosto de ouvir cores – disse Lia direta. Tina a olhou com espanto e disse – Ouvir cores? Tem certeza que, ao menos desta vez você comrpou um baseado não

BEIJOS MAIS DO QUE PROVÁVEIS

- E ainda alguém beija ouvindo The Smiths? – ele perguntou a ela do seu jeito totalmente desastrado, totalmente desastrado, sentado a uma mesa do Cube Varsóvia com ela naquela noite de sexta feira, a linda garota ruiva. Ela apenas sorriu e tomou mais um gole de seu gim. Mais um gole do seu gim, repleto de limão e gelo. - Ainda? Ainda alguém com menos de “ duzentos anos ” beija? – ele insistiu com o seu melhor tom de voz canalha. Ela apenas sorriu. Silêncio. Nada respondeu. Ele deu de ombros e acendeu um novo cigarro antes de dizer – Mas também, ninguém mais toca The Smiths, certo? – perguntou. Ela deu um suspiro e olhou para o alto antes de, finalmente, responder – Depende. Ele a olhou com surpresa. - Depende? – perguntou. Ela deu mais um gole do seu gim e disse firme – Sim. Depende. Ele a olhou em desafio e perguntou novamente – Depende do que? Ela o encarou com ternura e muito amor e pouca paciência e respondeu – Depende de quem você quer conquistar, de quem