- E
ainda alguém beija ouvindo The Smiths? – ele perguntou a ela do seu jeito totalmente
desastrado, totalmente desastrado, sentado a uma mesa do Cube Varsóvia com ela
naquela noite de sexta feira, a linda garota ruiva.
Ela
apenas sorriu e tomou mais um gole de seu gim. Mais um gole do seu gim, repleto
de limão e gelo.
-
Ainda? Ainda alguém com menos de “duzentos
anos” beija? – ele insistiu com o seu melhor tom de voz canalha.
Ela
apenas sorriu.
Silêncio.
Nada
respondeu.
Ele
deu de ombros e acendeu um novo cigarro antes de dizer – Mas também, ninguém
mais toca The Smiths, certo? – perguntou.
Ela
deu um suspiro e olhou para o alto antes de, finalmente, responder – Depende.
Ele
a olhou com surpresa.
-
Depende? – perguntou.
Ela
deu mais um gole do seu gim e disse firme – Sim. Depende.
Ele
a olhou em desafio e perguntou novamente – Depende do que?
Ela
o encarou com ternura e muito amor e pouca paciência e respondeu – Depende de
quem você quer conquistar, de quem você quer ficar, da quantidade de gim que
você bebeu e, finalmente, da sua amizade com o DJ do Clube em que você está com
o otário que você quer beijar.
E, a
um simples sinal dos seus cabelos ruivos, a música mudou e The Smiths começou a
tocar ao sorriso lindo dela e para a surpresa dele.
Os
olhos de ambos brilharam.
Ele
deu mais um trago de seu cigarro.
Ela
deu mais um trago de seu gim.
E
olhos?
Brilharam
ainda mais.
Beijos?
E os
beijos?
Ainda
que desastrados e de forma inusitada, aconteceram.
Especiais
e típicos de tudo o que o Clube Varsóvia já viu.
Densos,
tensos e deliciosos.
Inusitados.
Típicos.
Típicos,
de quem ama e usa subterfúgios para ser feliz.
Baratos
vulgares e deliciosos.
Um
jogo de gatos e ratos.
Apenas
eles.
Ainda
que ao som do velho The Smiths numa noite de sexta no Clube Varsóvia os beijos
sempre podem acontecer.
Sempre
podem acontecer.
Comentários