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JURANDO MENTIRAS


- Você o quê? – ele perguntou visivelmente irritado.
Muito irritado.
Ela deu de ombros, tomou um gole da sua bebida e deu um trago de seu cigarro.
O décimo nono da noite de muitos outros que ainda viriam.
- Repete porra – ele falou em um tom mais alto, mas não desrespeitoso.
Ela ignorou. Apenas ignorou.
- Não vai dizer nada? – ele perguntou.
Ela deu um discreto sorriso e respondeu – Não. Nada. Não tenho nada para te falar além do que já disse. E falei demais, por sinal – emendou.
- Ah, uma letra de música dos anos setenta que nem minha avó lembra mais.
Ela sorriu cínica e mais uma vez tomou um gole da sua bebida e deu um trago no seu cigarro.
O vigésimo da noite.
- Você me jurou mentiras? – ele perguntou de forma aflita – É isso? Mentiras? Perguntou – Mentiras? - Insistiu.
Ela parou e o encarou direto antes de dizer – Sim. Jurei o que podia e o que não podia. Mas, agora estou livre. Sigo sozinha, assumindo meus pecados, se é que eles existam. Se é que existam nos meus caminhos tortos. Se é que existam pecados. E como diziam na canção que nem “sua avó” se lembra eu “... Rompi tratados / Traí os ritos / Quebrei a lança / Lancei no espaço / Um grito, um desabafo” e foda-se você. Sou mais eu – disse ao acender o vigésimo primeiro cigarro da noite e beber a quinta dose da sua bebibda preferida.
E quanto à noite?
Acabou.
E a chuva começou a cair.
E ninguém precisa jurar mentiras.
Nunca.
Bem... só as necessárias.

Só as necessárias.

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NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
APENAS RELÂMPAGOS... O beijo que você me deu sob o sol A chuva molhando os campos de maçã (Sob o Sol - Vibrosensores) Lembro que choveu MUITO naquela tarde. Muito mesmo. Mais do seria normal em qualquer outro dia, em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Tudo estava bem, mas o céu, como puro capricho, decidiu se rebelar. O céu, assim de repente, tornou-se cinza. Absurdamente cinza. Cinza chumbo, quase noite. E choveu muito mesmo naquela tarde. Como jamais eu pensei que poderia chover em qualquer outro dia normal. Em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Lembro-me que eu estava no parque central, quieto, pensando nas verdades que eu havia ouvido e arquitetando uma fuga mirabolante do viciado e repetitivo labirinto caótico que a minha vida havia se transformado. Lembro-me que não estava sol, nem tampouco abafado, e que, portanto, não havia tantas nuvens no céu capazes de provocar aquela tempestade. Não mesmo. Mas, ainda assim tudo aconteceu. Não me dei conta, e,