- Você o quê? – ele perguntou visivelmente
irritado.
Muito irritado.
Ela deu de ombros, tomou um gole da sua bebida e
deu um trago de seu cigarro.
O décimo nono da noite de muitos outros que ainda
viriam.
- Repete porra – ele falou em um tom mais alto, mas
não desrespeitoso.
Ela ignorou. Apenas ignorou.
- Não vai dizer nada? – ele perguntou.
Ela deu um discreto sorriso e respondeu – Não.
Nada. Não tenho nada para te falar além do que já disse. E falei demais, por
sinal – emendou.
- Ah, uma letra de música dos anos setenta que nem
minha avó lembra mais.
Ela sorriu cínica e mais uma vez tomou um gole da
sua bebida e deu um trago no seu cigarro.
O vigésimo da noite.
- Você me jurou mentiras? – ele perguntou de forma
aflita – É isso? Mentiras? Perguntou – Mentiras? - Insistiu.
Ela
parou e o encarou direto antes de dizer – Sim. Jurei o que podia e o que não
podia. Mas, agora estou livre. Sigo sozinha, assumindo meus pecados, se é que
eles existam. Se é que existam nos meus caminhos tortos. Se é que existam
pecados. E como diziam na canção que nem “sua avó” se lembra eu “... Rompi tratados / Traí os ritos / Quebrei a
lança / Lancei no espaço / Um grito, um desabafo” e foda-se você. Sou mais
eu – disse ao acender o vigésimo primeiro cigarro da noite e beber a quinta
dose da sua bebibda preferida.
E
quanto à noite?
Acabou.
E a
chuva começou a cair.
E
ninguém precisa jurar mentiras.
Nunca.
Bem...
só as necessárias.
Só
as necessárias.
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