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IMPROVÁVEL CENA


- Você é um tremendo babaca, sabia? – Aline disse, com uma raiva enorme contida na entonação de cada sílaba.
Ele ficou em silêncio. Um derrotado em um cenário absolutamente inacreditável. Uma praia em um dia de verão.
- Um tremendo idiota. Eu devia desistir de tudo e mandar você para o inferno. Não sei a razão de eu insistir tanto.
- Desculpa, Aline – Pedro disse, em um tom baixo e arrependido.
- Desculpa? Desculpa? Desculpa a puta que o pariu. Você sempre fode com tudo, com estas besteiras que vive dizendo. Pára de pensar que o mundo gira ao seu redor. Pára, por favor. Eu estou de saco cheio disso. De saco cheio, entendeu?
- Entendi. Quer um sorvete? – perguntou Pedro, de forma quase infantil.
Aline pôs as mãos na cabeça e achou que estava vivendo uma viagem lisérgica, repleta de coelhos, Alices, chapeleiros malucos, elefantes coloridos, e Pedros tresloucados.
- Quer? – ele insistiu.
- Quero, vai. Você vai querer de qual sabor? – Aline perguntou.
- Baunilha e você?
- Pega um de morango para mim, vai – ela pediu, fazendo um carinho nos seus cabelos quase raspados.
E, olhando para aquele adulto que mais parecia um garoto medroso, Aline percebeu que, na verdade, o medo dele era apenas uma desculpa. Uma desculpa de mau gosto para alguém que estava com problemas para viver a vida. Problemas para viver a vida. E decidiu, de forma certa, que ele era, mesmo, o grande amor da sua vida...

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NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
APENAS RELÂMPAGOS... O beijo que você me deu sob o sol A chuva molhando os campos de maçã (Sob o Sol - Vibrosensores) Lembro que choveu MUITO naquela tarde. Muito mesmo. Mais do seria normal em qualquer outro dia, em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Tudo estava bem, mas o céu, como puro capricho, decidiu se rebelar. O céu, assim de repente, tornou-se cinza. Absurdamente cinza. Cinza chumbo, quase noite. E choveu muito mesmo naquela tarde. Como jamais eu pensei que poderia chover em qualquer outro dia normal. Em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Lembro-me que eu estava no parque central, quieto, pensando nas verdades que eu havia ouvido e arquitetando uma fuga mirabolante do viciado e repetitivo labirinto caótico que a minha vida havia se transformado. Lembro-me que não estava sol, nem tampouco abafado, e que, portanto, não havia tantas nuvens no céu capazes de provocar aquela tempestade. Não mesmo. Mas, ainda assim tudo aconteceu. Não me dei conta, e,