- Parabéns – ela disse ao telefone, toda sem graça.
Ele sentiu o sangue gelar ao perceber e descobrir de quem era a voz do outro lado da linha. Ficou em silêncio.
Ela continuou – Nada? Não vai dizer nada? Nem murmurar um obrigado?
Ele ficou furioso com a pergunta – E, por acaso, eu deveria agradecer?
Ela respirou fundo e disse, tentando amenizar – Talvez, quem sabe. Sei que eu não deveria ter ligado e nem nada, mas achei que poderia tentar. Poderia tentar te dar os parabéns hoje, seu aniversário.
- Você é uma idiota mesmo – ele emendou, bravo – Sabia que eu cheguei a cogitar a sua ligação, mas pensei que você não seria tão lunática assim. Achei que você fosse um pouco mais normal, um pouco menos inconseqüente. Errei, claro.
- Você não sabe de muita coisa a meu respeito, pelo que percebo. Tira conclusões precipitadas, me julga, me cobra, me acusa. Não quer nem escutar nada. Não quer saber o que houve, o que aconteceu, se eu, de fato, estava a fim de beijar aquele cara, se eu...
- Chega desta bobagem – ele gritou, interrompendo o discurso dela – Chega disso. Cansei, porra. Você estava lá, estava beijando aquele idiota no Clube Varsóvia aquela noite. O que quer que eu diga? Posso saber? Ok, beleza, beija lá e vamos em frente? Porra, não sou tão moderno assim, não sou tão indie assim. Não sou. Simplesmente não sou. Fiquei puto e pronto. Estamos aqui hoje, cada qual no seu canto, cada qual feliz – finalizou.
- Feliz? – ela perguntou.
Ele ficou em silêncio. Sentiu sua garganta apertar violentamente após aquela pergunta. Sentiu vontade de abrir a janela e gritar para a noite que surgia lá fora.
- Então, feliz? – ela insistiu – Se você disser que está, então beleza, desligo aqui e vamos embora. Do contrário, será que é tão foda assim ouvir e desculpar alguém?
Ele continuou em silêncio por alguns instantes. Como naquele clichê tão antigo, lembrou de cada minuto que viveram juntos. Cada ida ao Varsóvia, cada porre, cada beijo, cada foda, cada ácido que tomaram juntos. Cada detalhe. Cada segundo. Como numa canção dos Reis Roberto|Erasmo, ele decidiu acabar com tudo. Ali e naquele instante – Feliz. Extremamente feliz e contente e a fim de outros caminhos. O nosso acabou. Não sei se de forma certa ou errada, não sei se de forma besta ou não, não sei se devia desculpar, enfim, não sei julgar e nem dizer porra nenhuma. Monogâmicos são esquisitos. Porém, detestei te ver beijar aquele cara. Porque me pareceu, naquele momento, que você estava muito feliz. Feliz pacas. E detestei isto. Muito mais que o próprio beijo. Então, valeu, pronto, acabou. Beleza?
Ela respirou fundo e tentou conter o som da sua respiração pesada, fruto de lágrimas e tristeza – Beleza. Nos vemos qualquer dia. Parabéns e seja feliz. Beijos.
E desligaram o telefone. Tristes. Muito tristes. Ela simplesmente acendeu um baseado e ele arremessou o celular na parede. A noite estava apenas começando e eles, de fato, nunca mais se viram...
Comentários
http://qualquernotaserve.blogs.sapo.pt/