Ele desceu do táxi todo afoito, meio sem ar, muito sem graça. Respirou fundo, ajeitou seu cabelo curto e suspirou. Nunca a tinha visto pessoalmente. Nunca. A conhecia apenas por fotos e coisa que tais. Adentrou ao saguão do aeroporto e olhou ao redor. Como um estranho, como um perdido, como um curioso. Mirou ao redor por vários instantes e no meio daquele caleidoscópio confuso de pisos quadriculados percebeu uma garota nervosa, toda irritada, toda confusa, com o saco cheio, brigando com uma máquina automática de check-in. Visivelmente puta. Visivelmente irritada. Irritada como um cão. Ele a olhou, uma, duas, três vezes e enfim se deu conta e percebeu saber de quem se tratava. Era ela. Definitivamente. Camisa larga, bermuda curta, pernas e braços tatuados, cabelos soltos e curtos. Ele sorriu. Então ele a estava vendo pela primeira vez. Linda. Linda demais, mesmo toda atrapalhada com a máquina automática de check-in de um aeroporto fuleiro. Não sabia aonde olhar, o que fazer, o que dizer. Linda. Demais. Havia tatoos por todos os lados. Pensou novamente no que dizer e hesitou de abordá-la como um louco. Imaginou como seria o seu perfume. Foi a primeira sensação que teve ao se aproximar, antes de falar com ela. Divino. Divino. Ele chegou.
- Moça?
Ela o olhou com dúvida, com dúvida – Moço? – respondeu incrédula – Então você veio – prosseguiu.
Ele apenas sorriu.
- Precisou esperar dez anos para me ver? – ela perguntou.
Ele assentiu com a cabeça – Um bastardo medroso – e sorriu.
- Medroso demais – ela disse com afeto – Mais do que imagina – continuou.
- Tudo tem seu tempo – ele disse.
- É, quem sabe. Tudo tem seu tempo – ela concordou.
Adorável check-in desastrado.
Adorável encontro desastrado e muito, muito desastrado.
Mas ainda assim... adorável.
Depois?
Depois uma amizade se fez.
Um táxi, um outro aeroporto com mais pisos quadriculados, uns cigarros mal resolvidos e a ausência do beijo. O Beijo que nunca houve, mas com o amor que sempre esteve lá...
Comentários