OUÇA: glaciers || winter Não havia luz. Não. Nada de luz. E, ainda assim, ele permanecia esparramado no sofá, olhando atento para a fraca luz azul que saía da tela do seu celular, apenas a observar as barras indicativas do status da bateria do aparelho, diminuírem. Diminuírem rapidamente. Diminuírem de forma inadequada e veloz. De modo incrivelmente injusto. Ao menos naquela noite. Ao menos naquela madrugada. E ele, ainda assim, apenas observava e aguardava – sem paciência - algum pop-up explodir na porra da tela de seu celular e anunciar uma nova mensagem dela. Apenas observava, enquanto ouvia o som dos trovões que explodiam sem parar naquela noite. Não havia luz elétrica no apartamento. Havia apenas a luminosidade dançante provocada pelas velas vagabundas que formavam figuras disformes e incríveis na parede descascada do seu apartamento. Pequeno apartamento à luz de velas. Não havia energia e nem previsão de retorno da eletricidade. Chuva implac...