Pular para o conteúdo principal
KNOCK DOWN

Eu estava lá.

De joelhos.

E eu sentia o sangue escorrer pela garganta e descer rumo ao estômago. Direto. Sem volta. Sem pudor.

Eu estava lá.

De joelhos no ringue imaginário.

Eu estava lá porque, convenhamos, eu merecia estar.

Porrada direta, certeira no queixo.

Porrada direta, certeira aonde quer que fosse.

E tudo por causa de palavras mal faladas, palavras imbecis que me fizeram perceber como sou velho, idiota, desinteressante e sem assunto.

Apenas um ultrapassado. Adolescente tardio e ridículo. Infame. Otário.

Por conta disso, eu estava lá, prostrado no ringue, à beira do inevitável nocaute.

E não havia ninguém, definitivamente, que pudesse me ajudar.

Não aquela hora de um sábado á noite.

Não mesmo.

Continuei inerte e de joelhos, sabendo-me culpado por falar demais. Culpado por errar demais. Culpado por ter medo. Culpado por ser tolo. Culpado por sentir culpa.

Apenas um velho e idiota culpado.

E, com certeza, eu sabia naquela noite, que o que ela menos queria era um pedido de desculpas.

E este pedido seria o knock out total.

Por isso fiquei em silêncio, apenas lamentando o gosto amargo de sangue invadindo meu estômago.

Imbecil...

Comentários

Cruel disse…
Muito bom conto!
Engraçado que ontem vi o Popó perder uma luta e fiquei com vontade de escrever algo.
Não sobre ele, mas sobre luvas, ringues, pelavras...sei lá!
E hoje dei de cara com seu texto.
Gostei do seu Blog.
Abraços
Anônimo disse…
Voltou e nem avisou?
Fico feliz que tenha voltado

Postagens mais visitadas deste blog

DISCOS DE VINIL NÃO SALVAM VIDAS? - Discos de vinil não salvam vidas - Bia sentenciou, profana e canalha Nanda abriu os olhos em choque - Não? Como não? - Não, porra. Definitivamente, discos de vinil ou fitas cassete ou ipods ou seja lá o diabo, não salvam vidas. Não. - Você enlouqueceu? - disse Nanda. Bia sorriu um sorriso sinistro, triste, inadequado à felicidade. Adequado ao seu momento. - Claro que salvam. Se você não desistir de se matar ao ouvir Marvin Gaye e Tammi Terrell juntos e cantando apaixonadamente, então não sei o que mais pode te ajudar. - Nhá. Isso é para você, ingênua e esperançosa. - Se eu me fodesse, não me afogaria em etanol barato. Me afogaria em lágrimas ao som de um bom soul dos 60s. Estaria salva. - Que patético. - Você precisa de um choque de realidade. Um choque de vida. Você precisa de cores. = Vai começar. Já te disse para parar - pediu Bia. - Parar nada. Você precisa mesmo. De vida, porra. - Pára de encher. Você está me irritando - disse Bia. - Eu preciso ...
O SECAR DAS LÁGRIMAS (É TÃO DOCE) "...it´s getting better all the time..." - Puca cantarolou do nada, para espanto de Lee. - Está? - Lee perguntou, completando na seqüência - E meu Deus, você vai sussurrar esta canção a tarde toda? - Claro que sim - Puca respondeu - Estou feliz, pô. Não vejo o menor problema em expressar isto. - Você é um saco. ...it´s getting better prá lá, it´s getting better prá lá. E peraí porra, isto é Beatles? Certo? - Lee perguntou fast and furious, após cair a ficha. Puca olhou com um ar fake de superioridade para a amiga e com um sorriso quase revelador, apenas assentiu com a cabeça. - Jesus, como você está ficando cafona, Puca - Lee reclamou - O que pode estar ficando melhor nesta porra de dia cinza? Ainda mais ao som de uma banda dos meus pais? - Como você é pesssimista Lee. Caráleo. Como você é pessimista. Você é uma garota tipicamente "quarta feira de cinzas". Um porre não, uma ressaca completa. Você sucks demais. Lee sorriu com a bri...

Going Down

leia e ouça: lou reed || going down “... Time's not what it seems. It just seems longer, when you're lonely in this world. Everything, it seems, Would be brighter if your nights were spent with some girl Yeah, you're falling all around. Yeah, you're crashing upside down. Oh, oh, and you know you're going down For the last time …” Lou Reed || Going Down E o sonho avançava. Apenas avançava. A noite tinha apenas começado. … - Ei mocinha. Mocinha? Me ouve? Ela chacoalhou os cabelos castanhos desgrenhados, um monte de nós sem sentido, apenas ela, virou o rosto confuso e encarou aquele sujeito grande, intimidador, com cara de bravo e que estava imóvel à sua frente, um verdadeiro brusco naquele cenário. - Então, me ouve? Está me ouvindo? - aquele grandalhão insistiu - Me ouve, porra? - disse, de modo grosseiro. Ela olhou com um tanto de medo e sem saber exatamente o que fazer, o que dizer, o que mexer, o que responder, nada disse. Apenas, nada disse. - Você entende? É surd...

PRETÉRITO

pretérito  pre.té.ri.to adj ( lat praeteritu ) Que passou; passado. sm Gram Tempo verbal que exprime ação passada ou estado anterior; passado. P. imperfeito: tempo que indica uma ação passada, em relação ao presente, e que estava se exercendo quando outra se realizou: Estudava, quando ele entrou. P.-mais-que-perfeito: tempo que exprime ação anterior a outra, que já é passada no momento em que se fala: Ele partira, quando eu cheguei. P. perfeito: tempo que exprime ação passada e liquidada: Ele viajou. Futuro do p.: tempo que substituiu o antigo "condicional", e em que o processo indicado como posterior a um momento do passado é anterior ao momento em que se fala. Refere-se comumente a processos que não chegaram a realizar-se: Morreria se não viesses . (MICHAELIS: Dicionário Língua Portuguesa) Pretérito. Em poucas e rasas linhas, o “pretérito” é apenas o “ tempo do verbo que determina estado ou ação anterior ”, conforme ela leu em algum lugar por aí. Sem se ...

NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios. ...