Boa noite, senhoras e senhores, boa noite.
Sejam bem vindos ao maior espetáculo da Terra.
O espetáculo mais aguardado de todos os tempos.
O espetáculo mais esperado e desejado por todos.
Um espetáculo de dor, suor e verdade.
Um espetáculo desastroso. Difícil de assistir.
Um espetáculo que causa asco a vencedores de toda sorte.
Boa noite senhoras e senhores, jovens e crianças.
Boa noite a todos os presentes.
Boa noite e agradeço, desde já, o estômago forte de vocês.
Estômago forte para fortes.
Sacos de avião para os fracos.
Fracos não têm vez na representação da patifaria e da idiotice, neste espetáculo de erros e erros e erros.
Poucos acertos.
Circo de horrores.
Peep show desastrado.
E digo isto uma vez que o astro principal de tal espetáculo ignóbil é um imbecil. Um tolo. Um desqualificado, sem coração, sem sangue nas veias, sem lágrimas nos olhos. Sem nada que possa ser aproveitado, sem nada que possa ser elogiado. Sem sexo, sem nexo, sem causa. Sem nada atraente. Absolutamente nada atraente.
E o circo esta noite não traz nenhum palhaço, nenhum domador, nenhum engolidor de espada ou mesmo equilibrista. Ninguém que possa causar risos e gargalhadas ou admiração e inspiração. Vamos rir da vida errada representada neste palco.
Vida repleta de desprezo a tudo.
Vida repleta de escolhas erradas.
Vida.
Boa noite senhoras e senhores.
E me desculpe, mais uma vez, por apresentar isto a vocês: ou seja, EU...
...
Ele acordou com a boca seca e uma dor de cabeça dilacerante.
Não podia acreditar que tinha bebido tanto na noite anterior. Seu pulmão parecia um trator velho. Repleto de fumaça de cigarros baratos.
Pôs-se em pé e caminhou com dificuldade até a cozinha. Bebeu dois copos americanos de água, como se fosse um beduíno.
Foi até a sala e viu o pequeno pedaço de papel.
Leu as palavras (mal) escritas durante seu porre solitário.
Colocou na vitrola um vinil dos anos oitenta, daqueles que causam enfado nos adolescentes de hoje.
Sentou perto da janela, esperando que o sol espancasse o seu rosto barbeado e sujo da manhã.
Chorou como uma criança boba.
Decidiu que não teria mais este sonho.
Decidiu mudar o espetáculo.
Fosse o que fosse necessário.
Fosse o que fosse necessário.
Comentários