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SOMENTE GDANSK


- E então? – Luisa perguntou.
Carol nada disse e abaixou a cabeça.
E acendeu um cigarro. Mais um. Apenas mais um naquela noite repleta de chuva e trovões.
Tempestade.
Cores e raios.
Apenas mais um cigarro.
Um cigarro e vários trovões.
- Não abaixa a cabeça, caralho. Não abaixa. Apenas responda – disse com rispidez e com todas as letras. E a rispidez das palavras ditas com todas as letras é bem mais forte do que uma porrada.
Bem mais forte.
Muito mais.
E Carol continuou em silêncio.
- Não vai dizer nada? Nada? Nada mesmo?
- Não quero – Carol respondeu.
Luisa a olhou com surpresa. Disse – Não quer? Não quer me dizer nada? – insistiu.
- Não – Carol respondeu e deu uma tragada forte em seu cigarro vagabundamente light.
- Não posso acreditar – Luisa disse.
Carol a observou com surpresa e emendou – O que quer que eu diga? Não posso dizer nada. Nada.
Luisa a olhou com carinho e supremo amor. Apenas disse – Nada?
E Carol começou a lacrimejar.
E abraçou Luisa com tanta força que quase partiu aquela pequena garota ao meio.
E se beijaram como não houvesse amanhã.
Gdansk? Danzig. Cidade Livre que permitia à Polônia acesso ao mar Báltico.
Acesso ao amor e tudo mais que podemos imaginar.
Tudo mais.



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