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FOI VOCÊ. DERRUBANDO O CREPÚSCULO


Ele acendeu (mais) um cigarro naquela sala escura e solitária.
Quase fim da madrugada.
Quase fim da madrugada.
Ele deu uma tragada longa e virou (mais) um copo americano de vodka barata naquela sala escura e solitária.
Mais um cigarro.
Mais fumaça.
Mais vodka.
Mais lembranças.
Muito mais lembranças.
Muito mais.
E nenhum incenso aceso.
Nenhum.
Falta dela.
E o batom dela era muito, mas muito vermelho.
Muito mesmo.
Disso ele sempre lembrou.
Sempre.
Batom vermelho daqueles que sequer “desmontam” na piscina de uma apresentação de nado sincronizado.
Sequer “desmontam” em qualquer ocasião.
Jamais.
Água, tempestade ou beijos ardentes.
E a luminosidade era nula ou quase pouca naquela sala vazia, exceto pela chama opaca e amarela do cigarro vagabundo que ele fumava.
Quase fim da madrugada.
Quase fim.
E ele sequer queria levantar do sofá para virar o lado do seu velho disco de vinil cujo lado B já havia acabado há tempos.
Ele acendeu (mais) um cigarro naquela sala escura e solitária.
Quase fim da madrugada.
Quase fim da madrugada.
Ele de uma tragada longa e virou (mais) um copo americano de vodka naquela sala escura e solitária.
Mais um cigarro.
Mais fumaça.
Mais uma vodka vagabunda.
Mais lembranças.
Muito mais lembranças.
Muito mais.
E nenhum incenso.
Nenhum.
E o batom dela era muito, mas muito vermelho.
Muito mesmo.
E, na verdade, era tudo o que ele queria sentir naquele fim de madrugada.
Tudo o que ele queria sentir.
Aquele batom vermelho.
Apenas isso e tudo mais.
Tudo.


“crepúsculo
cre·pús·cu·lo
sm
1 Luminosidade que precede o nascer do Sol ou persiste por algum tempo após o ocaso e que provém da dispersão da luz solar nas camadas superiores da atmosfera.
2 O tempo que dura essa luminosidade.
3 FIG Perda da força ou da importância; decadência, declínio, ruína.
4 P US, FIG O momento inicial de alguma coisa; começo, princípio, prelúdio.”




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NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
APENAS RELÂMPAGOS... O beijo que você me deu sob o sol A chuva molhando os campos de maçã (Sob o Sol - Vibrosensores) Lembro que choveu MUITO naquela tarde. Muito mesmo. Mais do seria normal em qualquer outro dia, em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Tudo estava bem, mas o céu, como puro capricho, decidiu se rebelar. O céu, assim de repente, tornou-se cinza. Absurdamente cinza. Cinza chumbo, quase noite. E choveu muito mesmo naquela tarde. Como jamais eu pensei que poderia chover em qualquer outro dia normal. Em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Lembro-me que eu estava no parque central, quieto, pensando nas verdades que eu havia ouvido e arquitetando uma fuga mirabolante do viciado e repetitivo labirinto caótico que a minha vida havia se transformado. Lembro-me que não estava sol, nem tampouco abafado, e que, portanto, não havia tantas nuvens no céu capazes de provocar aquela tempestade. Não mesmo. Mas, ainda assim tudo aconteceu. Não me dei conta, e,