OUÇA: sebastian roca || honestly
Nem dez e meia da manhã de uma segunda-feira –
ela pensou enquanto dirigia o seu carro pela Avenida Central.
Nem dez e meia da manhã de uma segunda-feira e
ela relembrou o dia.
Repassou o dia como se já tivesse acabado.
Como se fosse muito.
Como se fosse longo.
Como se os segundos fossem séculos.
Como se os segundos fossem dias.
Pela janela do seu carro, ela observou o sol
implacável da manhã de inverno tentando invadir sua retina.
Retina fixa na imagem dele.
Memória congelada nas horas que teve.
Madrugada inquieta e turbulenta, repleta de
desejos, sonhos, vontades e poesias.
Repleta dele.
Repleta dela.
Juntos.
Como um.
Você É a poesia – ela lembrou do que ele falou
antes de ir.
Enfático.
Ela sorriu.
Estava leve.
Você É a poesia – repetiu o pensamento.
Nem dez e meia da manhã de uma segunda-feira.
Ela desejou que o tempo parasse e pudesse sentir
novamente tudo o que sentiu na madrugada.
Tudo.
Exatamente tudo.
Cada detalhe.
Cada sensação.
Cada aroma.
Cada sabor.
Tudo.
Absolutamente tudo.
O sabor de camomila dos seus lábios.
O aroma de sândalo do incenso.
O sabor de hortelã do seu suor.
O aroma de madeira do seu pescoço.
O sabor de pele do seu corpo.
O aroma dos dois se entregando.
O aroma dos dois se tocando.
Todo aroma.
Todo sabor.
Cúmplices.
Eles.
A madrugada toda.
O tempo todo.
Todo aroma.
Todo sabor.
Todo gosto.
E o café.
O aroma e o sabor do café.
O café coado que ele preparou para ela.
Para ela acordar.
E a buzina do carro atrás dela a fez despertar
para a vida e para a vida voltar a andar.
Nem dez e meia da manhã de uma segunda-feira –
ela pensou com um sorriso estampado no rosto, enquanto dirigia o seu carro pela
Avenida Central.
E os azulejos?
Os azulejos explodiram na área de serviço.
E quem se importa?
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