OUÇA: ludovico einaudi || nuvole bianche
O
suor escorria pela sua testa.
Muito.
Gotas
grandes e pesadas.
Gotas
nervosas escorrendo sobre o seu belo rosto.
A
respiração?
A
respiração estava ofegante.
Bastante.
Sem
inspiração.
A
tela à sua frente permanecia em branco.
Branco
o suficiente para lhe dar medo.
Muito.
Medo
de não criar.
Medo
de não gritar ao mundo tudo o que queria.
Medo
de as pessoas não saberem o que ela tinha a dizer.
E
precisava dizer.
Muito.
E
o suor?
Bem,
ele ainda estava lá.
E
ela imaginava que para pintar o que queria, deveria ter toda a técnica,
disciplina e plasticidade que não teve ao longo de muito tempo.
Ao
longo dos últimos anos.
Ao
longo dos últimos anos em que se prendeu.
O
suor escorria pela sua testa.
Muito.
Gotas
grandes e pesadas.
E
a respiração estava ainda mais ofegante.
Muito
mais.
E
a tela continuava em branco.
Intocada.
Como
uma alma virgem a ser desvendada.
Lágrimas?
Bem,
elas também estavam lá.
Também
estavam lá.
Todas
e junto com ela.
Como
em um passe de mágica, ela virou o olhar
para o alto e percebeu os tijolos aparentes no alto do teto de seu ateliê.
Eles
estavam lá.
Todinhos.
Ajeitados
como nunca.
Ajeitados
como sua vida nunca foi.
Eles
estavam lá, com tudo o que representavam.
Sentiu
uma alegria imensa.
Imensa.
Chorou.
Respirou
fundo, fechou os olhos e sentiu um toque na alma.
Um
toque violeta.
Respirou
ainda mais fundo, agora sem ofegar, e sentiu o aroma de café bom penetrar em
seu peito.
Aroma
de café bom.
Sorriu
com os olhos fechados.
Segurou
com força o pincel angular em sua mão direita e gritou.
O
grito do sim.
O
grito do aceite.
As
cores brotaram, as cores explodiram.
Não
importava se era óleo ou acrílicas, as cores criavam formas lindas.
Uma
espécie de espelho do que ela sentia por dentro.
Energia
violeta como nunca.
Felicidade
e regozijo.
Orgasmo
de paz.
Tintas,
pincéis e lágrimas. A combinação perfeita.
E
ninguém sabia disso.
E
ninguém sabia disso, até então.
E,
quando ela acabou, exausta e feliz, a sua tela pareceu um sonho.
Mágica.
Pintura
linda.
E
com um sorriso, ela se lembrou de como chegou até ali.
De
todas as pessoas que importavam e dos sussurros constantes que ouvia em seus
sonhos tão bons.
O
suor parou de escorrer por sua testa.
Veio
a leveza.
A
paz.
Apenas
a calma.
Técnica?
Disciplina?
Plasticidade?
Não.
Nada
disso.
O
que ela precisava, na verdade, era apenas do seu coração para transformar os
seus pincéis em varinhas de condão.
Pincéis
sendo varinhas mágicas.
E
ela conseguiu isso, com o seu coração.
Ela
precisou apenas ouvi-lo para ser feliz.
Muito
feliz.
O
som do seu coração transformando pincéis em varinhas mágicas.
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