Pular para o conteúdo principal
DAVID BOWIE EM OPOSTOS

ÓPERA ROCK

- Alô? – ele perguntou, impaciente.

Do outro lado, apenas silêncio.

- Alô, porra. Quem é? Isa? É você? – ele agora gritou, com a paciência toda para lá de Saturno.

Do outro lado, apenas nada.

- Preciso repetir? Preciso dizer todas aquelas coisas que nos machucam de novo? Preciso mesmo? Preciso, puta que o pariu? Por quê raios você insiste em me atormentar? Por quê? Por quê? Já não fizemos o suficiente um ao outro?

Do outro lado, apenas dor.

Ele calou a maldita boca e ficou em silêncio, apenas segurando o telefone e ouvindo a respiração dela, a respiração tão angustiada e fodidamente familiar.

Do outro lado, um murmúrio – Você ia acreditar se eu dissesse que quero tentar? Somente tentar?

Como resposta um grito, um murro imbecil na parede e um quadro quebrado – Voltar? Voltar? VOLTAR? – ele urrou – Como assim, simplesmente voltar?

Do outro lado, apenas angústia e arrependimento.

- Você sabe tudo o que aconteceu entre nós? Você percebeu? Você sentiu? Sentiu?

Ela ficou em silêncio e foi a última vez que ouviu o som doce da sua voz, um tom de ópera rock como David Bowie jamais cantou...

CANÇÃO DE AMOR

- Alô? – ele perguntou, calmo.

Do outro lado, apenas sorrisos.

- Alô. Quem é? Isa? É você? – ele agora disse sereno, como se fosse de hortelã.

Do outro lado, apenas medos bobos.

- Preciso repetir? Preciso dizer tudo aquilo de novo? Preciso mesmo? Preciso? Por quê você insiste em duvidar? Por quê? Por quê? Já não fiz o suficiente? – ele disse, doce.

Do outro lado, apenas alívio.

Ele calou a boca e ficou em silêncio, apenas segurando o telefone e ouvindo a respiração dela, a respiração que ele queria tão próxima.

Do outro lado, uma confissão – Você ia acreditar se eu dissesse que quero tentar? Somente tentar?

Como resposta um grito de alegria, um murro imbecil na parede e um quadro quebrado – Tentar? Tentar? Tentar? – ele urrou de prazer – Somente tentar? Eu quero isto e tudo o mais.

Do outro lado, apenas constrangimento feliz, como adolescente excitada.

- Você sabe tudo o que aconteceu entre nós ontem, né? Você percebeu? Você sentiu? Sentiu? Te amo, porra – ele emendou – E você sabe disso, sempre soube.

E ela ficou em silêncio desajeitada, sorrindo por ter descoberto o amor e feliz por ter percebido o som doce da sua voz, num tom de canção de amor como David Bowie jamais cantou...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
DETESTANDO SÁBADOS, DOMINGOS, SEGUNDAS, TERÇAS... POR FAVOR, USE OS HEADPHONES (TORI AMOS – I DON´T LIKE MONDAYS) Ele estava sem muito saco naquela noite de sábado, mas, ainda assim, graças à insistência deles, resolveu sair com os seus amigos para beber, dançar, conversar, fumar, enfim, viver uma típica noite de sábado como faz todo ser humano que está...vivo. E, ainda que não fosse esse exatamente o seu caso, lá foi ele, mais uma vez, ao Clube Varsóvia, para sentar e fumar um Marlboro atrás do outro, enquanto os seus amigos dançavam e se embriagavam. E enquanto a música preenchia o ambiente de modo devastador e o álcool começava a cumprir o seu papel de desinibidor supremo, ele fez exatamente como a sua mente solitária havia, cruel e repetidamente, planejado antes da chegada dos seus amigos. Ficou prostrado em uma cadeira nada confortável do Varsóvia, ouvindo o som e apenas olhando a diversão, como se ela não lhe fosse jamais permitida. Mas o acaso conspira. Entre

TO THE END

- O que vc quer de mim? – ela perguntou, aos gritos – Que porra você quer de mim?. Ele olhou para o chão, triste. Não queria responder, não sabia responder. Preferiu o silêncio. - Vai responder, seu filho da puta? Vai? – ela gritou, enquanto dava socos no peito dele. Socos não fortes, porém socos repletos de raiva, desespero e dor. Ele ficou em silêncio. Ficou em total e absoluto silêncio, sem ter nada a dizer. Ela ter visto aquele beijo já era o suficiente. - Seu idiota. Seu completo e estúpido idiota. Sai daqui. Agora! – ela gritou. E ele saiu do pequeno apartamento e foi embora, descendo as curtas escadas daquele prédio tão antigo. E enquanto descia, podia ouvir, com desespero, o choro e a dor daquela garota tão especial, outrora o grande amor da sua vida. E caiu em choro e lamento. Pobre diabo...