Pular para o conteúdo principal
O PRÓXIMO, POR FAVOR...

- Por que você não se leva a sério? - ela perguntou direta, tentando entendê-lo, ao menos uma vez.

Ele permaneceu onde estava, deitado no sofá e esforçando-se para continuar quieto. Não queria todo aquele peso. Não aquela noite.

Ela suspirou com força, querendo deixar claro o quão puta estava com ele e insistiu - Será que é tão difícil responder? É tão difícil para você se respeitar?

Ele jogou o Marlboro dentro da lata vazia de cerveja e a arremessou na parede suja do seu quarto. Pulou do sofá com muita raiva e disparou, com o saco cheio. Muito cheio - Porque eu preciso não me levar a sério, sabe? Eu preciso não me levar a sério. É a única forma de eu entender a razão de tudo isso que está acontecendo entre a gente. Eu preciso ser insano, pois, do contrário, vou ficar igual a você. Com estas suas neuroses, medos, paranóias, com todo este seu ressentimento e dor e culpa. Com essa sua "normalidade" demente. Uma garota mimada que não sabe ser feliz, pois sempre sente culpa em amar alguém. Sente raiva por amar alguém tão fodido como eu, que sequer tem grana para comprar uma droga de uma pizza num sábado à noite. O problema nesta sua infelicidade, nesta sua merda, não sou eu, será que você não percebe? - ele gritou, querendo socar o mundo, querendo ser cruel e atingí-la aonde a dor fosse mais forte, aonde a tristeza fosse mais amarga, aonde sangrasse mais.

Os olhos dela encheram-se de lágrimas, mas ela não chorou. Sabia que ele queria ver isso. Ver lágrimas e dor. Foi forte o bastante para não ceder a este capricho dele. Este último capricho filho da puta.

Ele parou de falar e olhou para ela e teve vontade de morrer. Teve vontade de morrer ali mesmo, naquela sala ridícula. Aquela garota frágil era tudo para ele. Tudo. Arrependeu-se de todas as palavras erradas que havia dito e ajoelhou-se à frente dela, querendo voltar no tempo.

Após instantes de cinema, ela suspirou aliviada e pôs-se a acariciar os longos cabelos dourados e sujos dele.Ele permaneceu ali, ajoelhado e com a sua cabeça por entre as lindas pernas dela.

- Por que você se leva tão a sério? - ele perguntou, com a voz rasa, cheia de fagulhas.

Ela sorriu, aliviada - Eu levo a sério você, idiota. Eu levo a sério nós dois...

E foi a última noite em que eles brigaram, pois, afinal, foi a última noite em que se viram.

Viva o amor acabado. Triste amor enterrado.

O próximo, por favor...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
APENAS RELÂMPAGOS... O beijo que você me deu sob o sol A chuva molhando os campos de maçã (Sob o Sol - Vibrosensores) Lembro que choveu MUITO naquela tarde. Muito mesmo. Mais do seria normal em qualquer outro dia, em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Tudo estava bem, mas o céu, como puro capricho, decidiu se rebelar. O céu, assim de repente, tornou-se cinza. Absurdamente cinza. Cinza chumbo, quase noite. E choveu muito mesmo naquela tarde. Como jamais eu pensei que poderia chover em qualquer outro dia normal. Em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Lembro-me que eu estava no parque central, quieto, pensando nas verdades que eu havia ouvido e arquitetando uma fuga mirabolante do viciado e repetitivo labirinto caótico que a minha vida havia se transformado. Lembro-me que não estava sol, nem tampouco abafado, e que, portanto, não havia tantas nuvens no céu capazes de provocar aquela tempestade. Não mesmo. Mas, ainda assim tudo aconteceu. Não me dei conta, e,