- Mas você é mais nova, né? Mais de dez anos a menos do que eu –
ele disse, todo receoso, todo “cheio de dedos” e evitando fitar de forma direta
os seus lindos olhos verdes.
Medroso do caralho.
Ela suspirou e deu uma tragada forte no seu Marlboro (hábito de
velho – ele pensou). Ela tomou um gole do seu Jack Daniels (bebida de velho –
ele pensou) e apenas olhou para cima, como se pedisse força e paciência aos
céus.
- Não que eu seja babaca ou preconceituoso ou não acredite no
amor ou coisa parecida – ele disse desculpando-se – Até já gostei muito de
mulheres mais novas – completou.
- Não? Não é babaca? – ela perguntou, sem o menor saco.
Ele o encarou com muito carinho e respondeu certo e seguro –
Não. Não sou. Apenas talvez eu não seja a pessoa certa para você. Ao menos
creio eu. Não quero te deixar triste.
- Você é meio idiota para sua idade, sabia? – ela disse – Honre
a porra destes fios brancos na sua barba. Assuma o que quer.
Ele ficou inseguro.
Ela ficou puta.
- Mas... – ele tentou dizer, porém foi bruscamente interrompido
por ela - Mas o quê? Mas o quê? Deixa de ser otário. Não estou dizendo para
ficarmos juntos? Preciso falar mais?
Ele abaixou a cabeça e disse impreciso – Sabe. Nunca gostei de
bandas velhas, de canções antigas. Sempre achei que no máximo três ou quatro
anos e uns dois álbuns fossem suficientes. Jamais achei que poderia sofrer na
prática e na minha vida com esta teoria absurda de descarte. Nunca.
Ela sorrriu e disse feliz e simpática – Bem, eu prefiro as
bandas mais experientes. Os acordes soam melhores. A emoção é maior. Você não é
descartável. Longe disso. É um imbecil, mas jamais descartável.
- Te amo – ele disse.
- Também. Babaca! – ela respondeu.
E todos nós ficamos velhos, nâo?
O amor que faça o mesmo, mas conserve seu frescor e delícia. Sempre.
Comentários
Nossa, como eu gosto desse...