Pular para o conteúdo principal
BOBAGENS SOBRE CÚPIDOS SÁDICOS

Não há inspiração alguma. Não. Definitivamente não há qualquer inspiração. Nem uma foto, nem um desejo, nem um sorvete, uma dor, uma paixão, uma vida, uma morte. Não. Nada disso. Definitivamente, não há inspiração nesta manha tão cheia de chuva e nuvens chumbo. Pode ser o fim, o começo, o meio, qualquer coisa, mas o caminho parece liso, branco, único. Nada a dizer, nada a declamar, nada pelo que morrer, nada pelo que sonhar. O vazio entediante do espaço explode como uma tragada de nicotina no seu pulmão. E quando o tédio e o vazio são as coisas mais ressonantes em uma vida, ah, aí talvez seja melhor apenas chorar. beber umas tequilas, fumar algum cigarro. Entorpecentes. Escutar um disco de jazz antigo, mas jazz, porra, é das coisas mais chatas que existem na vida. Chato, chato, chato. Não que não seja maravilhoso ser Thelonious Monk ou John Coltrane. Neon e fumaça. Não, é chato apenas porque te faz sonhar e flutuar e lembrar do quão medíocre é e sempre será a sua vida. Melhor um punk rock. Nada como um punk rock para te cansar, distrair, pular, beber, fumar e perder ar. Nada como a vida. mas uma vida cheia, não uma vida rasa, uma vida intensa, não uma vida rala, sem sal, insípida. Não. Uma vida gorda, uma vida cheia, uma vida repleta de tudo o que se pode fazer debaixo do sol. Uma vida ilustre. Uma vida bacana. Uma vida que valha a pena contar aos netos, se é que eles existirão. E se não existirem, foda-se. Os enfermeiros estarão lá para isso mesmo. Para trocar o soro que vai te manter vivo e para ouvir toda a sorte de besteiras e mentiras e maldades e passagens e contos que você viveu ou não viveu. Até o último suspiro. Até o último olhar. Não há inspiração alguma. Nenhuma canção que possa invadir os ouvidos e ativar no cérebro cansado e derretido, alguma lembrança memorável. Não. Nenhuma foto e nenhuma visão. Nada. E tem o vídeo de uma canção antiga do REM. Uma canção do século passado, quando imaginávamos que este século sequer existiria. Uma canção antiga e devastadora, uma canção antiga e arrebatadora. It´s the end of the world as we know it (and I feel fine). É o fim do mundo como o conhecemos (e eu me sinto bem). É esta a maldita tradução. De qualquer forma, no vídeo, tem um garoto e uma casa abandonada e semi-destruída. Apenas isso. E o garoto está com seu skate e usa a casa de todas as formas possíveis. Ele dança, ele canta, ele pula, ele manobra, enfim, ele vive. Ele VIVE. Entendem? Conseguem entender? Como se não houvesse nada além do último luar. Como se não houvesse nada além de hoje. E o mundo não acaba no final. Pior para nós. Pior para quem espera e não vive. Não há inspiração alguma. Não. Não mesmo. E no final das contas, o mundo deveria ter mais cupidos. Cúpidos sádicos e cheios de raiva e vontade de usar suas flechas doces e encantadoras. Flechas em corações e cúpidos sádicos. Definitivamente, haveria mais com o que sonhar...

sem dúvida...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
DETESTANDO SÁBADOS, DOMINGOS, SEGUNDAS, TERÇAS... POR FAVOR, USE OS HEADPHONES (TORI AMOS – I DON´T LIKE MONDAYS) Ele estava sem muito saco naquela noite de sábado, mas, ainda assim, graças à insistência deles, resolveu sair com os seus amigos para beber, dançar, conversar, fumar, enfim, viver uma típica noite de sábado como faz todo ser humano que está...vivo. E, ainda que não fosse esse exatamente o seu caso, lá foi ele, mais uma vez, ao Clube Varsóvia, para sentar e fumar um Marlboro atrás do outro, enquanto os seus amigos dançavam e se embriagavam. E enquanto a música preenchia o ambiente de modo devastador e o álcool começava a cumprir o seu papel de desinibidor supremo, ele fez exatamente como a sua mente solitária havia, cruel e repetidamente, planejado antes da chegada dos seus amigos. Ficou prostrado em uma cadeira nada confortável do Varsóvia, ouvindo o som e apenas olhando a diversão, como se ela não lhe fosse jamais permitida. Mas o acaso conspira. Entre

Brindando Palavras Repetidas

  leia e ouça: richard hawley || coles corner - Você é repetitivo. Ele a olhou com uma surpresa muda,  - Você é muito repetitivo - ela disse, certeira, sabendo que o havia atingido em seu ponto mais fraco, mais vulnerável, mais dolorido. Não sorriu. Ele a olhou com certa surpresa sabendo que, no fundo, ela estava certa - Como assim? - perguntou, querendo ter certeza. - Repetitivo. Repetitivo. Você usa as palavras de forma inconsequente e repete sempre as mesmas coisas. Faz isso o tempo todo. - Faço? - ele disfarçou. Ela então sorriu levemente - Claro que faz. Mas o que me deixa ainda mais fascinada é esta sua cara de pau. Você sabe que é assim, desse modo, desse jeito e ainda assim continua nesta direção. Ele fingiu indignação, mas por puro orgulho. Ela estava absolutamente certa. Ele tomou um gole do que estava bebendo e ficou quieto, esperando a próxima porrada. - Não? Você não sabe disso? - ela insistiu. - Talvez - admitiu, sem admitir. - Então, por que você não tenta mudar? - Você