Querida Nina,
Espero que você esteja bem. De verdade eu espero.
Espero que todos os seus sonhos, desejos, vontades, tesões, delírios, viagens, enfim, toda a sua VIDA esteja – definitivamente – da forma como você sempre quis, sempre sonhou, sempre imaginou. Como está o curso de fotografia? Bom? Ainda está fazendo? Você tinha talento para isso,sabe? Sempre soube disso, porém nunca disse diretamente a você. Nunca te disse o quanto você era boa em tirar fotografias, retratos, enfim, tudo o que se refere a isso. Talvez tenha sido medo de te perder para a vida (o que acabou rolando), talvez tenha sido mero despeito pelo fato de eu não ser bom em absolutamente porra nenhuma. Absolutamente porra nenhuma. Péssimo escritor, péssimo ator, péssimo músico, péssimo homem, péssimo estudante, péssimo caráter, péssimo ouvinte, péssimo companheiro, péssimo amigo, pés... tá, tá bom, posso escutar sua voz aguda dizendo “Pára com esta auto-comiseração, caralho. Você não é tão importante assim. Entenda isso.”. Já parei Nina. Foi só um surto, as usual. E quer saber, querida, quer saber a mais cruel e dura realidade? Eu realmente entendi que não sou tão importante assim mesmo. O mundo não gira ao meu redor, por mais que eu queira desesperadamente isso. As pessoas não estão aqui nesta vida besta, apenas com o intuito de me conhecer. As pessoas não estão aqui para isso. As pessoas estão aqui porque estão e eu sou apenas eu, o que, convenhamos, não é necessariamente a melhor e nem tampouco a pior coisa do mundo. Tem lá suas vantagens, e também, como tudo, suas desvantagens. A verdade é que eu andei pensando muito em todas as coisas que você sempre me disse. Sim, todas aquelas verdades doloridas que você insistia em repetir ao longo dos anos em que nos conhecemos. Tudo aquilo que você insistia em me fazer acreditar. E quer saber? Eu resolvi parar de me sentir tão inútil e velho assim. Sim, sou velho e tals, mas não um inútil. Enfim, deixa isso para lá, que isto é assunto para algum dia, alguma outra carta, alguma outra conversa. Para quando nos vermos pessoalmente again. Hmmmm. Vai demorar? Você pretende ficar muito aí? Não acha que está na hora de voltar? Não, né? Bem, ao menos eu tentei...rsrsrs. Você está bem? Feliz? Contente? Satisfeita? Viva? Alegre? Como você está? Espero que esteja bem. Desejo isso a você todos os dias em minhas pequenas orações (sim, também não sou mais ateu, surpreenda-se). Espero, sempre, que minhas pequenas orações e desejos encontrem você bem e feliz. Aonde quer que seja. Gosto de pensar que você está sempre assim. Gosto mesmo. Aquele teu sorriso de girassol naquela tarde de primavera. Lembra? Ai ai...sinto sua falta querida, e por mais que você não esteja perto e não esteja em lugar nenhum aonde eu possa tocá-la ou sentir o cheiro de papaia verde dos seus cabelos, a verdade é que você bem que poderia estar por perto. De verdade. Bem, acho que deve estar cansada de ler estas palavras repetidas. Vou indo agora, lembrando que ainda não tenho notebook e nem computador e, muito menos, e-mail. Este cartão postal continua sendo meu canal de comunicação com você e o mundo exterior. Espero que receba e não se importe e que me escreva (se quiser e se tiver tempo).
Gosto de saber novidades.
Beijos.
Seu.
A.
ps: comprei um cd de um cara chamado Jens Lekman. Você que está nas redondezas européias devia tentar ouvir. Vai gostar. É tua cara. Well, ao menos é a tua cara que eu costumo lembrar.
Comentários
nesse momento me lembro de você atrás da porta fazendo charme, e depois aparecendo de cuecas novas, com pose de marinheiro e sorriso meio torto, de cabelo despenteado. tão pateta...e eu achava tão sexy!
...e novidades eu só terei quando parar de responder seus cartões.
ps: e compre umas dúzias de cachecóis, aqui faz bastante frio. espero ter escolhido certo o seu assento, não quero que ninguém chato sente ao seu lado na viagem.
ps:2 tá tocando stray cats no meu mp3 player... já me dá vontade de dançar.
guardando todos os beijos do mundo,
nina.