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COMO SE APENAS A BOA SORTE PUDESSE AJUDAR

Ela entrou no seu quarto escuro. Não acendeu as luzes. De modo algum. Preferiu acender apenas uma vela de cor barbante ao invés de ligar a luz. Ao menos era possível enxergar o que precisava. Na verdade, não precisava nem enxergar muito. Já havia deixado tudo preparado. Tudo. Era só pegar as roupas que gostava mais, os seus cigarros, alguns poucos livros e um ou dois discos que gostava mais. Não precisava mais do isso. Não sabia se o lugar para onde estava indo podia acomodar muito mais do que isso. Seu corpo não parava de coçar. As feridas estavam irritando. Em poucos minutos ela arrumou tudo. Colocou sua pequena mochila em cima da cama e pôs-se a observar o seu quarto. Uma última contemplação. Seus olhos foram e voltaram e quando ela deu-se conta, estavam cheios de lágrimas. Mas não eram apenas lágrimas de alívio. Eram lágrimas de dor, de ódio, de revolta, de saco cheio, de arrependimento por não ter tomado qualquer atitude antes. Por não ter percebido que a sua vida e a de mais ninguém era o que, de fato, importava. Sabia que não tinha tanta força assim, mas, fazer o quê? Saiu do quarto sem olhar para trás, batendo a porta com muita força. Ele não estava lá e ela deixou a casa sem se despedir. Sem dar um último abraço. Parou do lado de fora e sentou-se no meio fio. Estava chovendo muito, porém isso não a incomodou. Começou a chorar com muita, mas muita força, como se o seu grito pudesse tirar toda a dor, como se a tempestade pudesse limpá-la e como se a maldita coceira pudesse sumir. Depois de alguns minutos, acendeu um Marlboro molhado e começou a andar pela rua, deixando tudo aquilo para trás, como se isso fosse possível...

Do lado de dentro, em cima da mesa da cozinha, apenas um bilhete de adeus e um desejo de boa sorte...nada mais do que isso...nada mais...




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NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
APENAS RELÂMPAGOS... O beijo que você me deu sob o sol A chuva molhando os campos de maçã (Sob o Sol - Vibrosensores) Lembro que choveu MUITO naquela tarde. Muito mesmo. Mais do seria normal em qualquer outro dia, em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Tudo estava bem, mas o céu, como puro capricho, decidiu se rebelar. O céu, assim de repente, tornou-se cinza. Absurdamente cinza. Cinza chumbo, quase noite. E choveu muito mesmo naquela tarde. Como jamais eu pensei que poderia chover em qualquer outro dia normal. Em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Lembro-me que eu estava no parque central, quieto, pensando nas verdades que eu havia ouvido e arquitetando uma fuga mirabolante do viciado e repetitivo labirinto caótico que a minha vida havia se transformado. Lembro-me que não estava sol, nem tampouco abafado, e que, portanto, não havia tantas nuvens no céu capazes de provocar aquela tempestade. Não mesmo. Mas, ainda assim tudo aconteceu. Não me dei conta, e,