- Como assim? – ele perguntou surpreso.
Ela o olhou com dó, com pena, com compaixão, com sinceridade. Sentimentos
à parte. Não respondeu. Nada. Melhor assim.
- Como assim? – ele insistiu.
- Como assim o quê? – ela perguntou, tentando disfarçar o
indisfarçável. Tentando evitar o inevitável.
- Como assim, porra? Como? – ele perguntou novamente, agora
visivelmente bravo.
- Assim. Simples assim.
- Assim? – ele insistiu incrédulo – Assim? Você não me quer mais
e diz isto desta forma. De cara seca e lavada. Simples assim?
Ela tomou um gole do seu copo de vodka e apenas o encarou.
Preferiu o silêncio.
- Assim? – ele disse surpreso.
- Assim. Simples assim. Apenas isto. Agora vamos ter uma
conversa normal ou você prefere ficar neste diálogo insano e infantil? –
perguntou ela após “matar” o resto da vodka em seu copo americano.
Ele suspirou e disse com fina ironia – Você é engraçada.
Engraçada demais eu diria. Engraçada demais.
Ela o olhou com um misto de curiosidade e pena e perguntou
distante – Engraçada? Não entendi.
- Engraçada. Apenas engraçada. Não entendo você. Ontem, hoje
mesmo, estava tudo bem. Agora você me vem com esta. Cansou de mim e blá blá blá.
Você é louca? – perguntou ele, num tom desesperado.
Ela disfarçou um sorriso discreto e respondeu seca – Não. Nunca
fui louca. Nunca. Você é que não entende e nem quer entender os sinais. O que
sinto. O que desejo. Apenas isto. Simples assim – emendou.
- Idiota – ele disse em suspiro – Imbecil. Eu te amo.
Ela levantou-se e disse áspera – Agora não adianta as suas
grosserias. Nem isto. Idiota e imbecil é você.
Ele começou a chorar como um bobo e suplicou como uma criança –
Não vai. Fica. Por favor.
- Não dá. Você sabe. – ela respondeu não sem antes o olhar com a
admiração distante gravada pelos anos juntos e foi embora. Nada disse e sequer
bateu a porta.
Ele ficou lá. Sozinho e sem nada entender. Sozinho e sem nada
entender, porém sabendo todos os erros que cometeu ao longo dos anos, Sabendo
todos os erros que cometeu ao longo dos anos...
Simples assim...
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