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PERFUMES QUE ESCAPAM (QUANDO SEUS VIDROS SE QUEBRAM)

O bar estava lotado. Bem, na verdade ele estava mais do que lotado, ele estava no limite do suportável. No limite tênue do suportável. Cheio de pessoas, risadas, sorrisos, bebidas, cigarros, sonhos, mentiras, verdades, desejos, frustrações, energias, música, perfumes, perfumes, perfumes, perfumes...

Ele estava encostado no balcão, tomando uma cerveja qualquer. Não era, com certeza, o dia mais feliz da sua vida. Ele estava sozinho e cansado de pensar em todas as besteiras e bobagens que disse e ouviu dela. Todas as besteiras e bobagens que ambos fizeram. Cúmplices num amor descuidado, cheio de rastros, lágrimas, decepções, mas muitos, muitos sorrisos.

Ele olhava a multidão e não sabia direito, a razão de estar encostado no balcão daquela espelunca de bar. Melhor do que ouvir baladas tristes no aparelho de som da sala – ele pensou, sem firmeza.

De repente, em meio a toda aquela vida que girava ao seu redor, ele sentiu um delicado e adorável odor invadindo, penetrando, arruinando a sua vida.

Olhou para todos os lados como desesperado. Sem rumo. Como louco. Queria saber se ele podia ter tanta sorte – ou seria azar? – refletiu. Queria saber se era ela.

Percebeu que o perfume era o mesmo. A garota não...

Pagou a conta com rapidez e foi para casa na carona de lágrimas contidas. Estava pronto para ouvir baladas tristes no aparelho de som da pequena sala do seu apartamento... de preferência, sem nenhum odor. Sem nenhum aroma. Apenas com o sabor do fracasso.

Algo mais do que usual para as suas madrugadas. Mais do que usual...


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NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
APENAS RELÂMPAGOS... O beijo que você me deu sob o sol A chuva molhando os campos de maçã (Sob o Sol - Vibrosensores) Lembro que choveu MUITO naquela tarde. Muito mesmo. Mais do seria normal em qualquer outro dia, em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Tudo estava bem, mas o céu, como puro capricho, decidiu se rebelar. O céu, assim de repente, tornou-se cinza. Absurdamente cinza. Cinza chumbo, quase noite. E choveu muito mesmo naquela tarde. Como jamais eu pensei que poderia chover em qualquer outro dia normal. Em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Lembro-me que eu estava no parque central, quieto, pensando nas verdades que eu havia ouvido e arquitetando uma fuga mirabolante do viciado e repetitivo labirinto caótico que a minha vida havia se transformado. Lembro-me que não estava sol, nem tampouco abafado, e que, portanto, não havia tantas nuvens no céu capazes de provocar aquela tempestade. Não mesmo. Mas, ainda assim tudo aconteceu. Não me dei conta, e,