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PARA GARRAFAS QUEBRADAS, NADA COMO LUVAS DE VELUDO

- Então, tá! – ele disse, com a voz delirante, quase todo chapado pelas doses cavalares de vodka, por ele ingeridas naquele boteco cravado no centro da cidade – Então, tá! – ele continuou - Vamos imaginar tudo isso como um grande engano, um grande, um enorme, um monstruoso erro de cálculo. Um mal entendido. Que acha? Vamos encarar as coisas dessa forma? Tudo fica mais fácil.
- Para quem? – ela perguntou, incrédula – Fica tudo mais fácil para quem? – perguntou com os olhos frios, enquanto acendia o seu inseparável Marlboro Light.
Ele a olhou com espanto, não podia acreditar em tudo aquilo. Não podia mesmo – Talvez para nós dois. Talvez para nossa amizade. Talvez para o mundo – ele exagerou.
Ela deu uma tragada forte e profunda no seu cigarro, e disparou com a sua voz rouca e penetrante – Não posso acreditar que você vai negar isso a nós. Não posso mesmo. Porra cara, jamais pensei que você fosse este tipo de babaca, de covarde, de bundão, de idiota. Declarações de amor são o que para você? – ela perguntou.
Ele suspirou em desespero e disse, quase sem voz – Declarações de amor de amigas queridas, de pessoas que eu adoro, de pessoas que são a minha própria vida, de pessoas adoráveis e lindas como você, são como cacos de garrafas quebradas, podem machucar para caralho. – ele argumentou, arrasado.
- E não vale a pena? – ela perguntou, cruel.
Ele encarou o chão, com muito cuidado para não esbarrar nos olhos pretos daquela moça linda sentada à sua frente. Encarou o chão e ficou em silêncio, enquanto escolhia cuidadosamente as melhores palavras a dizer, sem machucar. Não foi necessário.
- Tudo bem – ela disse – Tudo bem. Não precisa dizer nada. Mais nada. Quer mais vodka?
Ele concordou com a cabeça e disse, aliviado – Eu te amo amiga.
Ela apenas apagou o cigarro e deu um sorriso, feliz e infeliz por tudo estar de volta ao seu lugar. Como era antes. Como era antes daquela semana começar...


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NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
APENAS RELÂMPAGOS... O beijo que você me deu sob o sol A chuva molhando os campos de maçã (Sob o Sol - Vibrosensores) Lembro que choveu MUITO naquela tarde. Muito mesmo. Mais do seria normal em qualquer outro dia, em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Tudo estava bem, mas o céu, como puro capricho, decidiu se rebelar. O céu, assim de repente, tornou-se cinza. Absurdamente cinza. Cinza chumbo, quase noite. E choveu muito mesmo naquela tarde. Como jamais eu pensei que poderia chover em qualquer outro dia normal. Em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Lembro-me que eu estava no parque central, quieto, pensando nas verdades que eu havia ouvido e arquitetando uma fuga mirabolante do viciado e repetitivo labirinto caótico que a minha vida havia se transformado. Lembro-me que não estava sol, nem tampouco abafado, e que, portanto, não havia tantas nuvens no céu capazes de provocar aquela tempestade. Não mesmo. Mas, ainda assim tudo aconteceu. Não me dei conta, e,