Pular para o conteúdo principal

IDIOTA


- Difícil me amar, não? – ele perguntou, certo da resposta, certo da idiotice da pergunta – Difícil ficar comigo, não é?
Ela consentiu com a cabeça, balançando os seus cabelos loiros, e deu um sorriso lindo, brilhante. Nada disse.
- Besta – ele prosseguiu.
Ela deu uma gargalhada e emendou – Não é que é difícil te amar ou ficar com você. O fato é que você é um idiota presunçoso. Acha que o mundo gira ao seu redor. Devia pensar mais antes de agir. Devia pensar mais antes de falar estas bobagens que fala. Devia prestar atenção ao seu redor.
- Como assim? – ele perguntou.
- Já reparou na quantidade de besteiras que você faz? Já? E são sempre as mesmas. Repetidamente sempre as mesmas besteiras. Você, sem querer ou não, não sei, acaba sempre jogando tudo fora. Acaba sempre fodendo tudo. Você desperdiça sempre as melhores oportunidades em qualquer aspecto da sua vida, seja ele profissional, amoroso, whatever. E o pior, você sempre pede ajuda e é incapaz de perceber quem te ajudou ou olhar ao redor para entender o que está acontecendo.
Ele abaixou a cabeça e disse, sem graça – Sou tão imbecil assim?
Ela sorriu e deu um gole do seu conhaque. O Clube Varsóvia estava tão cheio e repleto de Estelas, Marias, Ricardos, enfim, repleto de gente interessante e feliz. Ela não estava com saco para piedade e comiseração.
- Veja – ela respondeu – Não é exatamente isto. Não é que você seja desinteressante ou imbecil ou idiota. Você, na minha opinião, modesta opinião, aliás, apenas não deixa a gente gostar de você. Você, com este seu jeito “foda-se”, apenas faz com que as pessoas se afastem de você. Você, me parece de forma deliberada, apenas não quer que alguém goste de você. Não quer que ninguém se aproxime. Isto é foda.
Ele olhou atentamente para ela – E, vamos supor, que eu realmente não queira que as pessoas se aproximem de mim. Há algo de errado nisto?
Ela tomou mais um gole do seu conhaque, acendeu um cigarro e olhou diretamente para ele. De forma direta, disparou – Você não percebe, não é mesmo? – perguntou.
- Olha Letícia, eu estou um pouco cansado deste papo. Já volto. Quem sabe encontro alguém que me queira – disse, levantando-se da cadeira e indo em direção ao banheiro do Clube Varsóvia.
- Imbecil – ela disse, em voz alta - Preciso desenhar que te amo, seu babaca.
E a noite prosseguiu da forma como começou. Com Marcelo e Letícia apenas como bons amigos.
Apenas como bons amigos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
E QUEM DISSE QUE AS COISAS NÃO PODEM SER ASSIM? APENAS SIMPLES... - Pára! Ela ouviu a frase e virou a cabeça rapidamente. Queria saber de quem era aquela voz doce e suave, porém firme e ligeira, que havia dito a tal palavra para ela. - Pára! Assim – ele repetiu. Ela encarou o dono da voz com uma certa irritação. Apenas para disfarçar. Ele era lindo. Olhos escuros, cabelos pretos longos, um queixo quase barbado, regular e quadrado, e um sorriso sensacional. Estimulante. Aparentemente sincero e interessante. Ela apenas o encarou em silêncio, agora sem qualquer irritação disfarçada. Ele sorriu simpático, querendo quebrar o gelo – A posição do seu rosto daria uma foto. Um retrato lindo, sabe? Por isso pedi, quer dizer, quase mandei, né? Você ficar parada. Queria congelar o momento. Ela segurou um sorriso, apenas para querer parecer ser um pouco mais teimosa. Um pouco mais difícil. Ele ofereceu uma bebida. - Não sei o que está bebendo – ela disse – Como posso aceitar? Ele continuou com o co

Brindando Palavras Repetidas

  leia e ouça: richard hawley || coles corner - Você é repetitivo. Ele a olhou com uma surpresa muda,  - Você é muito repetitivo - ela disse, certeira, sabendo que o havia atingido em seu ponto mais fraco, mais vulnerável, mais dolorido. Não sorriu. Ele a olhou com certa surpresa sabendo que, no fundo, ela estava certa - Como assim? - perguntou, querendo ter certeza. - Repetitivo. Repetitivo. Você usa as palavras de forma inconsequente e repete sempre as mesmas coisas. Faz isso o tempo todo. - Faço? - ele disfarçou. Ela então sorriu levemente - Claro que faz. Mas o que me deixa ainda mais fascinada é esta sua cara de pau. Você sabe que é assim, desse modo, desse jeito e ainda assim continua nesta direção. Ele fingiu indignação, mas por puro orgulho. Ela estava absolutamente certa. Ele tomou um gole do que estava bebendo e ficou quieto, esperando a próxima porrada. - Não? Você não sabe disso? - ela insistiu. - Talvez - admitiu, sem admitir. - Então, por que você não tenta mudar? - Você