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APENAS RELÂMPAGOS...

O beijo que você me deu
sob o sol
A chuva molhando
os campos de maçã

(Sob o Sol - Vibrosensores)

Lembro que choveu MUITO naquela tarde. Muito mesmo. Mais do seria normal em qualquer outro dia, em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Tudo estava bem, mas o céu, como puro capricho, decidiu se rebelar. O céu, assim de repente, tornou-se cinza. Absurdamente cinza. Cinza chumbo, quase noite. E choveu muito mesmo naquela tarde. Como jamais eu pensei que poderia chover em qualquer outro dia normal. Em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Lembro-me que eu estava no parque central, quieto, pensando nas verdades que eu havia ouvido e arquitetando uma fuga mirabolante do viciado e repetitivo labirinto caótico que a minha vida havia se transformado. Lembro-me que não estava sol, nem tampouco abafado, e que, portanto, não havia tantas nuvens no céu capazes de provocar aquela tempestade. Não mesmo. Mas, ainda assim tudo aconteceu. Não me dei conta, e, de repente, tudo aconteceu. O céu tornou-se cinza. Absurdamente cinza. Corri para qualquer lado, apenas com o intuito de me proteger da tempestade. Não deu tempo e fui atingido por uma enchente de gotas gordas, gotas enormes, capazes de molhar muito uma pessoa naquele parque. Parei assim que alcancei uma marquise de cimento, feia, mas que bem serviu para me abrigar, temporariamente, da tempestade. Sem ar pela corrida, sentei-me no chão inundado e acendi um cigarro para foder de vez meu pulmão. Pus-me a observar as pessoas correndo para um lado e para outro, à procura de um abrigo. Senti-me estranho diante daquele balé desarticulado praticado no parque central. Senti-me muito estranho. E, de repente, um estrondo gigantesco me fez cerrar os olhos bruscamente. Um raio caiu próximo ao lago do parque. Lembrei-me que raios causavam-me medo. Tanto medo quanto o causado pela solidão e pelo meu coração estilhaçado. Senti-me estranho. E triste, muito triste, afinal no meio da tempestade, lembrei-me do beijo que ela me deu naquele parque. Sob o sol. Chorei como uma criança aflita... e, eu, que nem religião tinha, me peguei rezando para a tempestade passar...

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NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.