Pular para o conteúdo principal


POR FAVOR, USE O HEADPHONE - A PONTE (CASINO)

ESTRADAS VAZIAS E PONTES NO CHÃO...


"Faz um tempo que
Eu já falo mesmo em me mudar...
"

Ela pensou que seria possível esquecer os seus problemas. Todos os seus problemas. Ela pensou que seria fácil. Simples como tomar um destilado forte. Uma anfetamina demente. Acreditou que, para tanto, apenas um carro bastaria. Um carro que a levasse para longe dali e seguisse por todas as estradas possíveis, todos os caminhos imaginários, ou não. E assim ela fez.

Em um dia úmido e cinza - como os seus olhos - ela acordou bem cedo. Era madrugada, quase manhã. Encheu a sua mochila velha com uma porção de maços de cigarro; fitas cassete com as músicas prediletas; livros de poesia barata; e, fotos antigas. Fotos suas e de seus amigos. Fotos que ela adorava, caso sentisse saudade. Entrou em seu carro velho, adoravelmente sujo e despedaçado, o ligou e saiu por aí. Sem destino, sem saber para onde ir, sem saber se iria voltar. Ou querer voltar.

E ela rodou e rodou e rodou por várias estradas, por vários quilômetros e por vários dias. Parou, vez ou outra, em alguma pousada para descansar. Mas não desejou dormir em nenhuma delas. Dormindo, ela sabia que podia sonhar e, na verdade, isso era o que ela menos queria naqueles dias. Medo de pesadelos. Medo de pesadelos.

E, após alguns dias, ela percebeu que não poderia mais simplesmente se enganar e rodar por aí. Ela se deu conta de que era impossível simplesmente fugir dos seus problemas. Entrou em um estado de desespero quase sufocante. Absolutamente angustiante. Resolveu então acelerar ainda mais o seu carro, como se fosse possível descolar da sua própria sombra.

Mas, não era possível, definitivamente não era...

De repente, como se o acaso conspirasse, ela teve que frear bruscamente. À sua frente não havia mais para onde ir. À sua frente havia apenas a estrada fechada e uma ponte destruída. Não havia mais para onde ir. Simplesmente não havia mais...

Ela, sempre linda, mudou de idéia quanto a desistir da sua vida. Ao invés de simplesmente dar meia volta naquele asfalto escuro para enfrentar o seu destino, ela ali ficou. Parou o carro, ligou o rádio no último volume, desceu do veículo, sentou-se sobre o capô imundo de pó e vento, acendeu um cigarro e ficou lá, apreciando o pôr do sol e sentindo o frio do começo da noite na estrada aberta. Não seria, com certeza, naquele instante, mas a ponte ainda iria se reerguer para ela poder dar o fora dali. Ainda que dependesse apenas da sua própria força... ela estava certa disso...



"Faz uma semana e meia que a estrada abriu
A ponte feita às pressas
E a janela canta
O carro sujo, esperto, o conserto, o rádio, a roda, o vento, faz uma
Semana e meia que marcamos compromisso
Eu faço qualquer coisa só pra ver de novo
O tom de pele, o rosto, o riso, a brincadeira
E os discos
Faz um tempo que
Eu já falo mesmo em me mudar
Largar esse trabalho chato e contra-produtivo,
Pra ver televisão, pra ler uns livros,
Rasgar jornais, rever os amigos.
Faz um frio à noite na estrada aberta
À frente as férias auto-impostas
automóveis, risos
Faz tempo, faz tempo.
Há quanto tempo,
Há quanto tempo
".





Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Luar || Penumbra || Sonho || Amor

leia e ouça: Sunset Rollercoaster - I Know You Know I Love You “ Watch the sky, you know I Like a star shining in your eyes Sometimes I wonder why Just wanna hold your hands And walk with you side by side I know you know I love you, baby I know you know I love you, baby ” (Sunset Rollercoaster - I Know You Know I Love You) Penumbra. Madrugada. 4:10 da manhã. Luz? Apenas a luz do luar combatendo as frestas da persiana mal fechada e que estava sofrendo bastante com as rajadas do vento cortante vindo ao seu encontro de forma incessante e dura. Sábado. Frente fria. Penumbra. Madrugada Amor. 4:13 da manhã. Luz? Apenas a dela. Do delicioso e escultural corpo. Dela. Aquele corpo nu ao seu lado, descoberto delicadamente e de forma não intencional pelos movimentos da noite. Linda. Sensual. Impecável. Escultura para os apaixonados. Como ele. E ele apenas a observava sob a luz do luar forte. Lua cheia. Lua cheia de amor, paixão, ímpeto, vontades, desejos, lua cheia. Lua cheia de vida. Lua cheia d...

Ela Gritou

leia e ouça || Echo And The Bunnymen || Back of Love “ I'm on the chopping block chopping off my stopping thought self doubt and selfism were the cheapest things i ever bought when you say it's love d'you mean the back of love when you say it's love d'you mean the back of love? ” Madrugada. Silêncio. Vida. Noite. Um cigarro aceso. Vários cigarros acesos. Um copo americano cheio de álcool. Vários copos. Lágrimas. Choro. Vida. Madrugada. Silêncio. Horas. Noite. Tudo. Tudo. Madrugada. Vida. Ela. E ela? Ela apenas gritou. E de forma tão alta e tão forte e em um tom nada brando, em ato de coragem, em gesto de desespero. Ela gritou. Ela apenas gritou. Imaginava ele no aeroporto indo embora. Naquela noite. Naquela maldita noite. Indo para uma viagem insana em países nórdicos desconhecidos. Ela chorou. Ela gritou. Tentou de tudo para ficar com ele. Tentou de tudo para ser feliz. Tudo. E foi. Foi MUITO feliz ao lado dele. Mas, agora, sobrou o cigarro aceso, o incenso queiman...

Going Down

leia e ouça: lou reed || going down “... Time's not what it seems. It just seems longer, when you're lonely in this world. Everything, it seems, Would be brighter if your nights were spent with some girl Yeah, you're falling all around. Yeah, you're crashing upside down. Oh, oh, and you know you're going down For the last time …” Lou Reed || Going Down E o sonho avançava. Apenas avançava. A noite tinha apenas começado. … - Ei mocinha. Mocinha? Me ouve? Ela chacoalhou os cabelos castanhos desgrenhados, um monte de nós sem sentido, apenas ela, virou o rosto confuso e encarou aquele sujeito grande, intimidador, com cara de bravo e que estava imóvel à sua frente, um verdadeiro brusco naquele cenário. - Então, me ouve? Está me ouvindo? - aquele grandalhão insistiu - Me ouve, porra? - disse, de modo grosseiro. Ela olhou com um tanto de medo e sem saber exatamente o que fazer, o que dizer, o que mexer, o que responder, nada disse. Apenas, nada disse. - Você entende? É surd...

Talvez

leia e ouça: Sinéad O'Connor || Love Letters   “ Love letters straight from you heart Keep us so near while apart I'm not alone in the night When I can have all the love that you write I memorize every line And I kiss the name that you sign, oh And darling then I read again Right from the start Love letters straight from your heart ” Talvez Talvez ser Talvez crescer Talvez nascer Talvez viver Talvez morrer Morrer? Não Talvez… Apenas talvez Talvez Talvez ser Madrugada Olhos da lua Cores fatigadas Talvez Talvez apenas ser Vida cruel que suga e é sugada Talvez Ser Talvez todo dia Talvez toda noite Talvez todo dia Talvez sorte  Talvez não Talvez má sorte Talvez não Talvez bom azar Talvez não Talvez tudo Talvez nada Talvez vida Talvez morte Talvez uma jornada Talvez Talvez necessário dizer  O que precisaria ser dito Talvez não manter Abafado este grito Talvez Talvez beleza Talvez tristeza Talvez grandeza  Talvez lerdeza Talvez vida Talvez não Talvez tudo Talvez nada ...

FIREWORKS

- Ai, que merda! - ela gritou, visivelmente irritada. - Tá louca? - ele respondeu, surpreso com o tom de voz dela. - Odeio esta música. DJ idiota - ela emendou - O Clube Varsóvia já foi melhor. Imbecil de escolher isto para o ano novo. - Você é louca? - ele perguntou, sério. - Não, porra, sou louca não. - Mas parece. Caralho. Há quanto tempo você vem no Varsóvia e NUNCA disse isso. O que há? Algum problema? - ele perguntou. Ela balançou a cabeça e seus olhos ficaram cheios de água - Nada - ela disse e confirmou - Nada. Não aconteceu porra nenhuma. - Como assim, nada? - ele questionou - Desde quando você fica transtornada assim? Por tão pouca coisa? Desde quando uma canção escolhida por um DJ idiota te tira do sério? - Nada, puta que o pariu. Nada. Pode ser? - ela disse, bastante brava. - Qual seu problema Lisa? Posso saber? Ela apenas abaixou a cabeça. - Me diz - ele insistiu. Ela ficou em silêncio por alguns instantes e emendou - Hoje é primeiro de Janeiro. Ele a olho...