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A ÁGUA TURVA PODE VIRAR GELO? (BEBIDA)

- O que você quer comigo? ela perguntou, ansiosa e com pouca paciência.
- Nada, eu só quero que você me dê um sorriso. É muito? – ele retrucou, com um olhar longo.
- Quer saber a verdade? É pedir muito sim. É pedir algo que está além das minhas forças, da minha vontade, do meu saco. É pedir mais do que eu estou ou jamais estive disposta a te dar. É pedir algo que eu não quero fazer. Principalmente fazer por você. Um idiota, um babaca, que acha que pode envolver as pessoas com essa conversa mole, irritante, recheada de frases feitas e de situações hipotéticas exaustivamente revistas na sua mente doentia, de forma a que nada dê errado para você. Nunca. Estou farta de você. Farta. Já te dei todas as chances e você parece que sempre quer mais. Sempre quer mais, como uma forma de me testar. Uma forma de querer saber até onde eu agüento. Uma forma de me esgotar exaustivamente. Cansei disso. Cansei do seu jogo. Cansei de você, dos seus vícios, de tudo. Você quer que eu canse de viver? Caralho. Não acha que pede demais?

Ele permaneceu em silêncio, calmo, tentando assimilar a porrada que tomou, tentando entender a onda de revolta que o atropelou. A onda de revolta que destruiu qualquer tentativa dele em querer quebrar o gelo. Depois de alguns minutos em silêncio, ele insistiu – Mas eu não tenho mais nenhuma...

-...não. Nenhuma chance, nenhuma esperança, nenhuma oportunidade, nenhum espaço, nada. Porra nenhuma. Você não tem direito a nada da minha vida. Nada! – ela gritou, dando um tapa no seu braço. Forte. Barulhento.

- Mas eu não vou mais... – ele tentou falar

-...beber? – ela interrompeu, com a voz sussurrada e com desespero no olhar – Ou será que não vai mais me bater, me ofender, me envergonhar, me fazer chorar, me machucar? É isso o que você vai dizer? É isso o que você vai me prometer? Quantas vezes você já me prometeu esse tipo de coisa? Quantas vezes seu filho da puta? – ela gritou.

Ele fixou seus olhos no chão e permaneceu em silêncio, apenas torcendo para que ela acabasse logo com tudo aquilo.

- Deus! Eu me odeio com todas as forças, por te amar tanto assim. Você não merece isso. Não mesmo!

Ele levantou e foi saindo do apartamento, deixando ela com a cabeça apoiada sobre a mesa da cozinha, chorando sem parar.

- Posso te ligar? – ele perguntou, não obtendo resposta – Qualquer hora eu te ligo, então. Beijo – finalizou, saindo e fechando a porta devagar.
Assim que ouviu a porta se fechar ela disse em um tom baixo, inaudível, desesperado – Claro que pode me ligar. Você sabe que pode me ligar...você sabe que pode me ligar...idiota...

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NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
APENAS RELÂMPAGOS... O beijo que você me deu sob o sol A chuva molhando os campos de maçã (Sob o Sol - Vibrosensores) Lembro que choveu MUITO naquela tarde. Muito mesmo. Mais do seria normal em qualquer outro dia, em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Tudo estava bem, mas o céu, como puro capricho, decidiu se rebelar. O céu, assim de repente, tornou-se cinza. Absurdamente cinza. Cinza chumbo, quase noite. E choveu muito mesmo naquela tarde. Como jamais eu pensei que poderia chover em qualquer outro dia normal. Em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Lembro-me que eu estava no parque central, quieto, pensando nas verdades que eu havia ouvido e arquitetando uma fuga mirabolante do viciado e repetitivo labirinto caótico que a minha vida havia se transformado. Lembro-me que não estava sol, nem tampouco abafado, e que, portanto, não havia tantas nuvens no céu capazes de provocar aquela tempestade. Não mesmo. Mas, ainda assim tudo aconteceu. Não me dei conta, e,