Pular para o conteúdo principal


A DOR DE OS OLHOS NÃO ENXERGAREM (ciúme)

Já passava das duas da manhã quando ele decidiu sucumbir ao barulho daquela porra de telefone. Era a terceira vez que tocava no meio da noite durante aquela semana. E todas as vezes ele acordou e ele atendeu e ele não obteve resposta. Não era ninguém. Aliás, era alguém. Alguém muito próximo e alguém que ele conhecia bem, mas que se limitava a respirar e a não se identificar. Ele já não sabia mais o que fazer. Não sabia mais o que dizer. Ele apenas queria que aquele martírio acabasse e ele pudesse, enfim, dormir em paz e seguir a sua vida. Mas o barulho do telefone durante a madrugada era implacável.

- Alô – ele disse, com a voz afogada em sono.
Apenas silêncio foi a resposta.
- Alô. Porra, porra, porra – ele gritou - Será que dá para você ligar para cá e ao menos dizer alguma coisa Mariana? Caralho. Será que vou ter que passar o resto das minhas madrugadas tendo que atender aos seus telefonemas insanos e insensatos. O que você ainda quer de mim? O que você quer? – ele perguntou, enfurecido.
- Eu quero você – uma voz pálida, fina, sem brilho, respondeu do outro lado da linha. Uma voz que lembrava vagamente aquela que um dia havia sido Mariana. A sua Mariana.
Depois de alguns segundos de silêncio, ele disse, em tom de voz baixo, bem baixo – Porra Mariana. Não faça isso. Por favor. Não faça isso comigo, contigo, com nosso futuro. Pára. Vá viver o que você tem que viver. A nossa história já deu. Já foi. Acabou. Você sabe disso, não? Eu sei que você sabe. Pára de insistir. Por favor.
- Eu apenas quero você de volta para mim – ela repetiu.
- Você já me teve. Inteiro e por completo. E aí, decidiu que eu deveria ter outra pessoa. E aí, pensou que eu deveria ter essa outra pessoa enquanto estava com você. Aí imaginou e delirou e pirou e me acusou e foi além do que qualquer outra pessoa poderia imaginar. Você e esse seu ciúme doentio, essa vontade de achar que o mundo inteiro conspira contra você.
- Eu posso me enganar? – ela perguntou, contendo o choro.
- Não. Eu cansei disso. Simplesmente cansei. E eu posso voltar a dormir? Creio que já conversamos tudo sobre isso não? – ele retrucou, ríspido.
- Tá. Durma bem – ela respondeu, triste.
- Tchau – ele disse, desligando o telefone e desconectando a linha, na seqüência. Voltou para a cama, apagou a luz, acendeu um cigarro e ficou lá sentado, pensando em como as coisas poderiam ser diferentes se ambos tivessem agido de formas diferentes – Eu não entendo isso. Não entendo. Nunca a traí... – ele pensou.
Ela permaneceu com o telefone preso ao ouvido por alguns minutos mesmo depois de ele ter desligado, como se estivesse em uma espécie de transe. Depois, deixou o telefone explodir no chão, sem o menor cuidado, ao mesmo tempo em que começava a chorar copiosamente – Por que isso? Por que isso? Por que ele me deixou...eu não entendo – pensava, entre lágrimas e lágrimas...



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
DETESTANDO SÁBADOS, DOMINGOS, SEGUNDAS, TERÇAS... POR FAVOR, USE OS HEADPHONES (TORI AMOS – I DON´T LIKE MONDAYS) Ele estava sem muito saco naquela noite de sábado, mas, ainda assim, graças à insistência deles, resolveu sair com os seus amigos para beber, dançar, conversar, fumar, enfim, viver uma típica noite de sábado como faz todo ser humano que está...vivo. E, ainda que não fosse esse exatamente o seu caso, lá foi ele, mais uma vez, ao Clube Varsóvia, para sentar e fumar um Marlboro atrás do outro, enquanto os seus amigos dançavam e se embriagavam. E enquanto a música preenchia o ambiente de modo devastador e o álcool começava a cumprir o seu papel de desinibidor supremo, ele fez exatamente como a sua mente solitária havia, cruel e repetidamente, planejado antes da chegada dos seus amigos. Ficou prostrado em uma cadeira nada confortável do Varsóvia, ouvindo o som e apenas olhando a diversão, como se ela não lhe fosse jamais permitida. Mas o acaso conspira. Entre

TO THE END

- O que vc quer de mim? – ela perguntou, aos gritos – Que porra você quer de mim?. Ele olhou para o chão, triste. Não queria responder, não sabia responder. Preferiu o silêncio. - Vai responder, seu filho da puta? Vai? – ela gritou, enquanto dava socos no peito dele. Socos não fortes, porém socos repletos de raiva, desespero e dor. Ele ficou em silêncio. Ficou em total e absoluto silêncio, sem ter nada a dizer. Ela ter visto aquele beijo já era o suficiente. - Seu idiota. Seu completo e estúpido idiota. Sai daqui. Agora! – ela gritou. E ele saiu do pequeno apartamento e foi embora, descendo as curtas escadas daquele prédio tão antigo. E enquanto descia, podia ouvir, com desespero, o choro e a dor daquela garota tão especial, outrora o grande amor da sua vida. E caiu em choro e lamento. Pobre diabo...