BETTE DAVIS (INVEJA)
Aquele era o último final de semana do verão. E ela estava toda feliz. Finalmente havia encontrado um alguém interessante para ficar, beijar, curtir e namorar durante o verão. E isso era bom. E isso era raro. Ela não era muito boa na arte de se dar bem, sentimentalmente falando. E não era feia ou desagradável. Longe disso. Sabia conversar sobre diversos assuntos, lia, ouvia música, ia ao cinema, pintava, enfim, era uma mulher interessante. Tinha consciência disso. Mas era insegura e talvez esse fosse o seu maior mal. Insegurança não combina com verão – costumava dizer sua amiga Bia – Nem com homens – pensou, enquanto arrumava umas fotos no seu quarto. Por isso estava feliz em ter encontrado Edu. Feliz como há tempos não se sentia. Feliz como poucas vezes se sentiu. E no meio de todos esses pensamentos o telefone tocou e ela voltou ao mundo normal.
- Alô – disse, animada, na esperança de que fosse Edu, mudando de idéia quanto a programação noturna.
- Oi Estela. Aqui é a Luka, tudo bem?
- Tudo e você? Vai à festa na casa do Olavo, hoje?
- Talvez. Olha, você sabe que eu sou sua amiga, não?
- Claro, claro que sei.
- E você sabe que eu não ligaria para te aborrecer se não fosse algo muito sério, não?
- O que aconteceu? – perguntou Estela, agora aflita.
- Eu sei que você está numa boa com o Edu e que ele tem sido super legal com você nesse verão, mas a verdade é que ele é um filho da puta.
- O quê? – disse, assustada Estela, sentindo seu estômago atravessado na garganta.
- Ele te convidou para ir a festa hoje? – perguntou Luka, indignada.
- Não. Ele me disse que tinha um compromisso da família. Sei lá que droga ele tinha para fazer. Por quê?
- Ele acabou de me ligar para perguntar se eu queria ir com ele, disse que já havia te dispensado e estava livre hoje.
- Como assim? perguntou, desesperada, Estela.
- Ele é um filho da puta. Olha Té, desculpa eu estar te falando isso assim, mas preciso que você saiba. Você é minha amiga. Uma das melhores. E você já sofreu uma puta sacanagem com o Paulo e não merece isso. Não mesmo. Não vou deixar que nada de mal te aconteça de novo.
- Podemos nos falar amanhã? – perguntou com a voz trêmula e fina, Estela – Preciso desligar, não estou bem.
- Quer que eu vá para aí? Eu posso ir.
- Não. Não...preciso ficar sozinha. Obrigado. Beijo.
- Beijão querida. Se precisar me liga, tá? Qualquer horário.
- Pode deixar. A gente se fala – finalizou Estela, desligando o telefone, permanecendo estática ao seu lado, sem saber o que fazer, além de gritar.
- Você não presta, Luka. Definitivamente. – disse Bia, ao mesmo tempo em que olhava a amiga desligar o telefone.
- Ora. A Estela tem que deixar de ser imbecil – disse, com um sorriso cínico no canto do rosto – Quem ela pensa que é para competir comigo? Ela sabia que eu estava muito afins de ficar enlouquecidamente com ele. E não foi a primeira vez que ela fez isso. Outras vezes ela se deu bem. Muito bem. Dessa vez as coisas foram diferentes. Ele caiu na minha deliciosa conversa e também se deu mal. Nesse ménage sem nexo, ninguém ficou com ninguém. E você sabe que eu gosto muito dela. Quero sua amizade e preciso ensinar a ela como chorar - completou.
- Eu acho que isso ela já sabe – emendou Bia, sorrindo seu pior sorriso.
- Vamos dançar?
- Vamos – respondeu Bia – Só me avisa antes com quem você quer ficar – disse, gargalhando.
Sorrindo, Luka respondeu – Pode deixar. Pode deixar...
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