Pular para o conteúdo principal


USE OS HEADPHONES, POR FAVOR - MANHÃ DE CARNAVAL

E ele ainda estava com os ouvidos zunindo em virtude do barulho e da agitação daquela multidão, somado ao fato de que ele consumiu vários litros de álcool e dezenas de cigarros. E tudo numa noite só. E ele estava cansado. Muito cansado, porém feliz. O sol estava quase nascendo e todos da casa já deviam estar dormindo, exaustos. Inclusive ela, desmaiada de sono e bebida. Mas ele não. Ele estava lá, acordado, à beira da piscina, pensando e pensando e pensando e desejando que o sol levasse horas para nascer. Que a bonita pintura do sol nascendo naquele horizonte cinza durasse por horas e horas. Somente para que ele pudesse sorrir. Sorrir ainda mais. Mas ele sabia que isso não ia acontecer. O dia estava nascendo, independente da sua vontade, as pessoas iriam acordar em breve e eles iriam embora daquele sítio para suas vidas ordinárias e rotinas comuns. Mas antes disso, ele sabia que ela iria lembrar do seu beijo roubado e da sua declaração de amor. E ele não sabia se isso era bom ou ruim. Arroubos de carnaval. Desejos bons. Mas, no fundo, ele não estava disposto a pensar o que iria acontecer. Mais importante era o que já aconteceu durante a madrugada – pensou, enquanto tirava toda a sua roupa para jogar-se naquela piscina fria, ainda não aquecida por aquela manhã de quarta feira de cinzas. E o que a madrugada testemunhou, nem o sol vai poder apagar...ainda bem...



Marcha da Quarta Feira de Cinzas
(Vinícius de Moraes)

Acabou nosso carnaval
ninguém ouve cantar canções
ninguém passa mais
brincando feliz
e nos corações
saudades e cinzas
foi o que restou
Pelas ruas o que se vê
é uma gente que nem se vê
que nem se sorri
se beija e se abraça
e sai caminhando
dançando e cantando
cantigas de amor
E no entanto é preciso cantar
mais que nunca é preciso cantar
é preciso cantar e alegrar a cidade
A tristeza que a gente tem
qualquer dia vai se acabar
todos vão sorrir
chegou a esperança
é o povo que dança
feliz a cantar
Porque são tantas coisas azuis
há tão grandes promessas de luz
tanto amor para dar que a gente nem sabe
Quem me dera viver prá ver
e brincar outros carnavais
com a beleza dos velhos carnavais
que marchas tão lindas
e o povo cantando seu canto de paz
seu canto de paz...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

APAGUE A LUZ, POR FAVOR? boomp3.com Então é assim que termina? – ele pensou, enquanto a chuva desabava sobre o seu corpo inerte. Ele estava só, parado em frente ao velho apartamento deles, no Centro Velho, apenas olhando o passado. Acaba assim? Desta forma idiota? Eu aqui, parado como um imbecil na frente da minha ex-casa, debaixo de chuva torrencial e com uma mochila cheia de livros e fotos rasgadas? - Quer ajuda, doutor? – perguntou o porteiro, sempre gentil - Está chovendo demais e o Senhor aí, parado na “trovoada”. - Não, obrigado Carlos. Já estou indo – ele respondeu, seco – Já estou indo. Ficou em silêncio por alguns instantes, apenas sentindo o sabor das lágrimas e da chuva. Após tentar acender um cigarro molhado, virou e foi embora de vez daquele lugar. E foi embora para sempre do único lugar em que ele foi, por algum tempo, verdadeiramente feliz. O único lugar em que ele foi, por algum tempo, verdadeiramente apaixonado. ... Mas, e como começa? Começa com um toque, com um gesto...
MILAGRES E NOITES DE VERÃO boomp3.com - Lá vai – ela gritou enquanto arremessava a garrafa na parede, meio “bebinha”, meio “zonza”, toda alegre. Higher than the Sun. Breakfast Club. Ele apenas sorriu. - Mais uma, yeaaaahhh – ela gritou de novo, antes de arremessar a segunda garrafa long neck de cerveja na mesma parede. - Deste jeito os vizinhos vão reclamar, chamar a polícia, nos bater, sei lá – ele disse. Disse só para registrar, pois, na verdade, ele pouco se importava com as conseqüências daquilo tudo. Ela olhou para ele de uma forma divertida e adoravelmente negligente. A mesma forma divertida e negligente que ele estava tão acostumado a curtir ao longo daqueles mais de cinco anos de amizade e delírio. – Quer saber? Quero que os vizinhos se fodam – gritou e caiu na gargalhada – Olhe para nós. Olhe. Bêbados como qualquer coisa, hein? Bêbados e sentados numa quebradinha de uma vila escura, enquanto todos estão lá dentro bebendo, dançando, fumando, amando. Enquanto a festa come solta ...

BEING BORING

- Você me ama MESMO? Ama de verdade? – ela perguntou, com ênfase. Ele sorriu, abriu seu melhor sorriso, ajeitou sua barba rala e vagabunda e respondeu – Claro que sim. Claro que te amo. Ela sorriu em resposta. Nada mais. - Qual a razão da pergunta? – ele disse – Você me acha velho demais? – perguntou – Me acha mentiroso? – insistiu. Ela apenas sorriu. Nada respondeu. - Diz – ele insistiu – Você me acha velho ou gordo ou falso demais? Ela abriu o seu mais delicioso sorriso. Nada disse mais uma vez. Ele ficou irritado – Não vai dizer nada, porra? – berrou – Não percebe a minha barba de velho? Minhas manchas vermelhas no rosto? Você é cega ou o quê? Ela apenas consentiu com sua cabeça recheada de cabelos negros soltos e disse tranquila – Não vou dizer porra nenhuma. Preciso? Você não percebe no meu olhar os meus sentimentos? Coitado - Te amo, porra. Apenas isto – disse, com afeto, açúcar e amor. Muito amor. Ele sorriu constrangido. Ela disse – Trouxa. Ele concordou...

WITH A LITTLE HELP FROM MY FRIENDS

Hoje em dia, todos os meus amigos me detestam. Todos. Simplesmente todos. Hoje em dia eu tenho certeza disso. E, na verdade, são amigos porque eu ainda assim os considero. Unilateral e solitariamente, ainda assim eu os considero. Mas, triste, eu sei que apenas eu ainda os considero. No meu pequeno e inchado coração, eles ainda são meus amigos. Recuso a aceitar o oposto. Recuso a reconhecer o contrário. Simplesmente recuso. E o que eu fiz de tão grave? Tudo. Simplesmente tudo. Cometi os piores erros que se pode cometer. Menti, fraudei, trapaceei, não fui sincero, errei, não acertei, quis, não quis, fugi, corri, zombei, deixei na mão, enfim, fiz tudo aquilo que não se deve fazer com amigos. Nunca. Nunca, nunca e nunca. E, desta forma, por óbvio que todos, mas todos os meus amigos hoje me detestam. Amigos reais, virtuais, imaginários, inimigos, enfim, todos e todos e todos. De todos os tipos, cores, formatos, sexos e maneiras. Cometi toda sorte de crime que se possa ima...

NADA PODE SER ASSIM

Nada pode ser assim. Nada pode ser assim. Beijos mal dados, saliva mal gasta, suor desperdiçado, tragos incompletos, desejos incertos. Nada pode ser assim. Nada. Definitivamente. Definitivamente. Tudo o que ele queria era sentir o gosto dela. O gosto do seu batom, o gosto dos seus lábios, o gosto dos seus seios. O gosto. De tudo. Absolutamente de tudo. Um gosto bom. De rock ou blues ou uma linda canção de Sinatra. Nada mais que isso. Mas nada pode ser assim. Nada pode ser assim. Beijos mal dados, saliva mal gasta, suor desperdiçado, tragos incompletos, desejos incertos. Nada pode ser assim. Nada. E os olhos de ambos brilhavam quando estavam frente a frente. Brilhavam e brilhavam e brilhavam. Como crianças. Apaixonadas. Adolescentes. Apaixonados. Adultos. Como eles. Apenas como eles. Mas nada pode ser assim. Definitivamente nada pode ser assim. Por pior ou mais desordenado e desorganizado que seja. Nada pode ser assim. ...