Pular para o conteúdo principal


TUDO O QUE DEVERIA SER. TUDO O QUE PODERIA SER.
 
- Você vai mesmo viajar? - ele perguntou atônito, bobo, aflito.
Um menino.
Um grande covarde.
Ela o encarou com um carinho antigo mas apenas respondeu de forma direta, simples e seca - Sim. Eu vou. Eu vou viajar. Não vai me ver por um bom tempo.
Ele a encarou de forma assustada, indefesa, incrédula - E nós? - perguntou, ainda mais atônito, ainda mais bobo, ainda mais aflito. Um pobre menino covarde.
Ela suspirou de forma entediante e de saco visivelmente cheio - Nós? - retrucou - Nós? - perguntou quase aos gritos.
Ele apenas assentiu com a cabeça. Nada mais disse.
Ela bufou e disse - Não há "nós" - Não há. Existe eu e você. E você é um babaca. Um tremendo covarde e babaca. Te odeio idiota - finalizou, determinada.
Ele apenas chorou. Não sabia o que responder.
- Existia "nós" quando você ficou com aquela vadia? - ela disparou - Existia? - insistiu - Você lembrou de nós? - completou.
Ele ficou em silêncio. Absoluto silêncio.
A noite era a música.
- Não. Não lembrou - ela retomou - Então querido, não há "nós". Nunca mais. Nunca mais. "Nós" não existimos mais. Seu otário e grande filho da puta.
E restou o silêncio das palavras.
E a noite, esta grande trilha sonora, presenciou como se termina um romance, uma estória de amor. Um conto e tudo o mais.
De forma cruel e direta.
Direta.
Muito cruel.
Tudo o que poderia ser. Tudo o que efetivamente deveria ser.
Não fossem os erros.
Os muitos erros.
Por todos cometidos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.

Brindando Palavras Repetidas

  leia e ouça: richard hawley || coles corner - Você é repetitivo. Ele a olhou com uma surpresa muda,  - Você é muito repetitivo - ela disse, certeira, sabendo que o havia atingido em seu ponto mais fraco, mais vulnerável, mais dolorido. Não sorriu. Ele a olhou com certa surpresa sabendo que, no fundo, ela estava certa - Como assim? - perguntou, querendo ter certeza. - Repetitivo. Repetitivo. Você usa as palavras de forma inconsequente e repete sempre as mesmas coisas. Faz isso o tempo todo. - Faço? - ele disfarçou. Ela então sorriu levemente - Claro que faz. Mas o que me deixa ainda mais fascinada é esta sua cara de pau. Você sabe que é assim, desse modo, desse jeito e ainda assim continua nesta direção. Ele fingiu indignação, mas por puro orgulho. Ela estava absolutamente certa. Ele tomou um gole do que estava bebendo e ficou quieto, esperando a próxima porrada. - Não? Você não sabe disso? - ela insistiu. - Talvez - admitiu, sem admitir. - Então, por que você não tenta mudar? - Você

PASSE-ME O SAL PARA EU BOTAR NA SOBREMESA?

- Não há nada a desculpar – ele disse pouco tranquilo, muito mentiroso, entre os copos de vodka, as mesas e o barulho do Clube Varsóvia, tentando desviar do olhar adorável, inesquecível e maravilhoso daquela garota à sua frente. Ele a amava. Ela o olhou com ternura e amizade e fez um carinho breve e gentil no seu cabelo. Por instantes, breves instantes, ela lembrou de todo o afeto e paixão que sentiu por ele no passado. Todo o carinho, o afeto e o amor que sentiu por ele em um passado não tão distante. Como foram felizes. - Fica tranquila – ele disse e continuou - Nada a desculpar mesmo. Tudo em ordem do meu lado – ele prosseguiu – Você gosta de MPB mesmo. Eu detesto – completou, com um sorriso. - Você mente mal. Muito mal mesmo sabia? Quase um canastrão – ela brincou e continuou – Esqueceu que te conheço há um tempinho? - Muito tempo? – ele perguntou, tentando disfarçar, enquanto acendia um Marlboro – Dentre as mentiras da vida, duas nos revelam mais – recitou, citando a antiga c