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O QUE VOCÊ VAI FAZER QUANDO DEIXAR DE SER TRISTE?

- O que você vai fazer quando deixar de ser triste? – ela perguntou, assim, rápida e certeira, enquanto acendia um cigarro.
- O quê? – ele respondeu.
- O que você vai fazer quando deixar de ser triste? – ela insistiu – É uma pergunta simples.
- É Elvis Costello isso, não é?
- Exato. Uma de suas belas canções – ela respondeu – Aprendi isso assistindo a peça “A Vida é Cheia de Som e Fúria” sobre aquele filme Alta Fidelidade, do carinha que amava música mais do que tudo na vida. E me surpreendi como a frase dessa música combina com você.
- Por que você acha isso? Sou triste? Muito triste?
- Não o tempo todo, mas o tempo suficiente para me deixar preocupada com você.
- Eu não sou triste – ele mentiu – E não precisa se preocupar.
- Olhe, eu sou sua amiga há praticamente dez anos e tudo o que eu sei é que você é uma pessoa maravilhosa, cheia de vida, com ótimas idéias, com bom gosto, com bom humor, enfim, com tudo o que é minimamente necessário para ser feliz e ser amado. No entanto, querido, você insiste em ser amargo e insiste em afastar as pessoas ao seu redor e insiste em querer parecer uma pessoa insuportável. Isso tudo é medo? – ela perguntou, já sabendo a resposta, afinal o conhecia há vários anos.
Ele olhou em seus olhos por breves instantes, enquanto completava o seu copo com aquela vodka de quinta categoria que estavam tomando – Não. Não é medo – ele disse – É apenas bom senso. É apenas discernimento. É saber que você não é capaz...
- ...capaz do quê? Porra!!! Capaz do quê? – ela o interrompeu, irritadíssima - Que espécie de lixo você tem nessa cabeça idiota, que o impede de perceber quem é você – completou, puta, completamente irada.

Ficaram em silêncio por alguns instantes e ele disse, numa voz sorridente, quase sarcástica – Bem, se eu deixar de ser triste um dia, a primeira coisa que vou fazer é evitar, sistematicamente, tomar essa droga de vodka de quinta categoria.
- E asegunda – ela perguntou de volta, sorrindo
- Bem, eu vou passar a usar guarda chuva colorido em dias de chuva – respondeu

Gargalhando ela emendou – Bem, ao menos é um começo. Ao menos é um começo. Te amo seu trouxa, brinda comigo vai, ainda que com essa vodka de péssimo gosto.



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NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
APENAS RELÂMPAGOS... O beijo que você me deu sob o sol A chuva molhando os campos de maçã (Sob o Sol - Vibrosensores) Lembro que choveu MUITO naquela tarde. Muito mesmo. Mais do seria normal em qualquer outro dia, em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Tudo estava bem, mas o céu, como puro capricho, decidiu se rebelar. O céu, assim de repente, tornou-se cinza. Absurdamente cinza. Cinza chumbo, quase noite. E choveu muito mesmo naquela tarde. Como jamais eu pensei que poderia chover em qualquer outro dia normal. Em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Lembro-me que eu estava no parque central, quieto, pensando nas verdades que eu havia ouvido e arquitetando uma fuga mirabolante do viciado e repetitivo labirinto caótico que a minha vida havia se transformado. Lembro-me que não estava sol, nem tampouco abafado, e que, portanto, não havia tantas nuvens no céu capazes de provocar aquela tempestade. Não mesmo. Mas, ainda assim tudo aconteceu. Não me dei conta, e,