Pular para o conteúdo principal


QUANDO CAMINHAR SOB A CHUVA MOLHA ALGO MAIS DO QUE OS PÉS

Você é uma inútil. Você não sabe nada da vida. Pensa que tudo vai acontecer do jeito que você imagina? Do jeito que você quer? Da maneira que você pensa que pode suportar? A vida, mocinha, é muito diferente do que você imagina. Você nunca viveu. Você não sabe o que é isso. Você acha que sabe tudo, mas não passa de uma criancinha mimada, sem a menor noção do mundo ao seu redor. Idiotinha presunçosa.

Caminhando sob a chuva as palavras não saíam da sua mente. Ela ficava repetindo-as, repetindo-as, repetindo-as, como um efeito fade away em alguma guitarra distorcida. Aliás, sua vida tinha virado uma guitarra distorcida. Um som nada uniforme, nada melódico, nada bom. Sua vida tinha desabado. E lá estava ela, caminhando sob a chuva e carregando aquela maldita mala pesada, com parte dos seus dezoito anos de vida dentro dela. E as palavras iam e vinham, porém não abandonavam a sua mente.

Não me diga que sabe o que quer, não me diga isso. Você acha que é capaz de decidir o melhor rumo para a sua vida, mas não é. Quantas vezes eu tenho que lhe dizer isso? Quantas vezes? Parece que você não escuta, parece que você é surda. Não quer ouvir e eu já estou de saco cheio de ficar repetindo isso, como um disco riscado. Você não entende ou não quer entender?

E as suas lágrimas confundiam-se com a chuva pesada que molhava o seu corpo e tornava aquela maldita mala ainda mais pesada do que o costume. Ela não sabia para onde ir, o que fazer, o que esperar. Tudo o que sonhava era com um gole de café bem quente, um cigarro seco e um lugar para sentar e pensar no que fazer da sua vida. E as palavras continuavam lá, gritando na sua cabeça.

Então faça o que você quiser. Faça o que deseja, mas não me peça ajuda entendeu? Não me peça ajuda nunca mais porque eu simplesmente cansei. Ofereci a você tudo o que era possível e estava ao meu alcance. Tudo o que eu podia e tinha condições de fazer. Você, estúpida, não aceitou, aliás, jamais aceitou. Então, tome o seu caminho.

E naquele momento, andando sem uma porra de um guarda chuva e segurando aquela mala extremamente pesada, debaixo da tempestade, ela procurava achar o caminho. Mas não sabia por onde começar. E as palavras...

Saia já da nossa casa. Minha e da sua mãe. Saia já. Vá embora agora para onde você quiser. Você e essa desgraça sem pai na sua barriga não têm espaço por aqui. Você se drogou, você bebeu, você viveu a vida da forma mais inconseqüente possível e jamais aceitou as minhas ordens e fez sua mãe sofre e me fez sofrer. Vá embora. Você tem vinte minutos para pegar os seus trapos. Cai fora. E jamais, entendeu? Jamais volte a nos procurar.

E de repente ela, desesperada, caiu no chão percebendo que aquela maldita mala de roupas agora estava rasgada e aberta no meio da rua, deixando molhar pela tempestade parte dos seus dezoito anos de vida. E ela começou a chorar e a chorar. Tentando não pensar em qual caminho precisava escolher.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Quando Você Ama…

  leia e ouça: surf curse || freaks “...Don't kill me just help me run away From everyone I need a place to stay Where I can cover up my face Don't cry, I am just a freak I am just a freak I am just a freak I am just a freak…” (Surf Curse || Freaks) Quando você vive, você erra. Todos nós. Todos. Todos nós erramos, de um jeito ou de outro. Faz parte. Quem nunca errou? Quem nunca? Só quem não viveu. Quando você vive, você se expõe e acaba errando, cedo ou tarde. Mente quem diz que nunca errou, uma vez que certamente também errou em algum momento da vida e tenta negar isso. Eu? Se eu errei, omiti e menti? Sim. Certamente. Muito. Mais do que seria razoável, muito mais do que seria razoável. E só os Deuses sabem como foi difícil e errado e como me arrependo. Arrependimento? Muito. Arrependimento real e verdadeiro. Mas, a verdade é o mais importante. Sempre. E demorei a entender isso. Demorei MUITO. Muita porrada para entender isso. Muita porrada para entender isso. A transparência. ...

Going Down

leia e ouça: lou reed || going down “... Time's not what it seems. It just seems longer, when you're lonely in this world. Everything, it seems, Would be brighter if your nights were spent with some girl Yeah, you're falling all around. Yeah, you're crashing upside down. Oh, oh, and you know you're going down For the last time …” Lou Reed || Going Down E o sonho avançava. Apenas avançava. A noite tinha apenas começado. … - Ei mocinha. Mocinha? Me ouve? Ela chacoalhou os cabelos castanhos desgrenhados, um monte de nós sem sentido, apenas ela, virou o rosto confuso e encarou aquele sujeito grande, intimidador, com cara de bravo e que estava imóvel à sua frente, um verdadeiro brusco naquele cenário. - Então, me ouve? Está me ouvindo? - aquele grandalhão insistiu - Me ouve, porra? - disse, de modo grosseiro. Ela olhou com um tanto de medo e sem saber exatamente o que fazer, o que dizer, o que mexer, o que responder, nada disse. Apenas, nada disse. - Você entende? É surd...

Você

leia e ouça: U2 | bad Você. Você é intensa demais, e eu a amo. Muito. Você. Sim, você mesmo, você sabe a quem me refiro: VOCÊ! Você tem os cabelos mais desgrenhados, bagunçados e divertidos do mundo. E eu amo. Você. Cada detalhe, cada aroma, cada toque, cada TUDO. Nós. Tem os olhos mais verdes do mundo, e eu a amo. Amo. Amo você. Minha esmeralda. Minha pequena. Minha mãozinha guia. Você. Você. Apenas você! A mulher que mais merece ser cafuneada no universo, na galáxia, em tudo. Toda hora, todo dia, todo tempo. Você. Eu a amo. Você. Você mesmo. Tem força, tem garra, tem voz, tem presença, tem vida, tem alegria, tem coerência, tem sorriso, tem empatia, simpatia, tem tudo. Pequena, mas gigante. Você. Eu sou muito honrado de receber e dar seus super likes . Te laqueio todo dia, toda hora. Você é simplesmente essencial, especial, única. Você… simplesmente e unicamente VOCÊ existe para mim. Nada mais. Mais ninguém, E por mais burrices que eu faça, que eu repita, que eu erre, imbecil que so...

FIREWORKS

- Ai, que merda! - ela gritou, visivelmente irritada. - Tá louca? - ele respondeu, surpreso com o tom de voz dela. - Odeio esta música. DJ idiota - ela emendou - O Clube Varsóvia já foi melhor. Imbecil de escolher isto para o ano novo. - Você é louca? - ele perguntou, sério. - Não, porra, sou louca não. - Mas parece. Caralho. Há quanto tempo você vem no Varsóvia e NUNCA disse isso. O que há? Algum problema? - ele perguntou. Ela balançou a cabeça e seus olhos ficaram cheios de água - Nada - ela disse e confirmou - Nada. Não aconteceu porra nenhuma. - Como assim, nada? - ele questionou - Desde quando você fica transtornada assim? Por tão pouca coisa? Desde quando uma canção escolhida por um DJ idiota te tira do sério? - Nada, puta que o pariu. Nada. Pode ser? - ela disse, bastante brava. - Qual seu problema Lisa? Posso saber? Ela apenas abaixou a cabeça. - Me diz - ele insistiu. Ela ficou em silêncio por alguns instantes e emendou - Hoje é primeiro de Janeiro. Ele a olho...
BOBAGENS SOBRE CÚPIDOS SÁDICOS Não há inspiração alguma. Não. Definitivamente não há qualquer inspiração. Nem uma foto, nem um desejo, nem um sorvete, uma dor, uma paixão, uma vida, uma morte. Não. Nada disso. Definitivamente, não há inspiração nesta manha tão cheia de chuva e nuvens chumbo. Pode ser o fim, o começo, o meio, qualquer coisa, mas o caminho parece liso, branco, único. Nada a dizer, nada a declamar, nada pelo que morrer, nada pelo que sonhar. O vazio entediante do espaço explode como uma tragada de nicotina no seu pulmão. E quando o tédio e o vazio são as coisas mais ressonantes em uma vida, ah, aí talvez seja melhor apenas chorar. beber umas tequilas, fumar algum cigarro. Entorpecentes. Escutar um disco de jazz antigo, mas jazz, porra, é das coisas mais chatas que existem na vida. Chato, chato, chato. Não que não seja maravilhoso ser Thelonious Monk ou John Coltrane. Neon e fumaça. Não, é chato apenas porque te faz sonhar e flutuar e lembrar do quão medíocre é e sempre se...