Pular para o conteúdo principal


TODA VIAGEM TEM UM FIM?

Nada. Ele não podia fazer nada. Ele não podia fazer nada, muito embora desejasse fazer tudo, inclusive dar a sua própria vida a ela. Mas isso já era demais. Ele apenas podia olhar para aquela garota deitada em sua cama e pensar porque raios ela havia chegado àquele estado. Ela estava lá, literalmente desacordada em sua cama. Desmaiada como se estivesse praticamente morta. Mas não estava. Estava viva. Estava nua. Mas isso não era bom. Nada bom. Não era mais agradável ver o seu corpo nu. As marcas agora ficavam visíveis e visíveis e visíveis e isso era um inferno para ele. As marcas roxas no braço. O pus. O sangue batido. As marcas da borracha no antebraço. As marcas das picadas por todo o lado. A palidez mórbida do seu torso. A palidez mórbida da sua face. O sangue seco grudado em seus lábios. As unhas sujas dos pés e das mãos. O cabelo mal cortado, mal cuidado, mal lavado. Sujo. Feia. Ela estava feia. Feia demais. Feia como nunca ele imaginou que ela pudesse ficar. Ela era linda de morrer. Linda demais. Deus, como eu não posso fazer nada por essa garota deitada em minha cama? – pensou - Deus, como eu amo essa garota deitada em minha cama - prosseguiu. Com todas as suas forças. Mas, talvez, essas mesmas forças já estivessem por um fio. Um fio suspenso. Um fio tênue. Um fio fraco e fino. Um breve sopro de força. E ele estava cansado de tudo aquilo. Cansado mesmo. Cansado demais. Não podia deixá-la um minuto, um segundo sozinha. Ela saía e quando voltava, era sempre naquele estado. Sempre. Triste. Isso era por demais triste e ele sentia culpa. Culpa sabe lá do que, mas sentia. – Caralho, eu tomei as mesmas drogas que ela. Eu tomei – pensou. Mas com ele nada aconteceu. Não houve uma queda, não houve dor, não houve nada além de uma boa viagem. Nada além de boas risadas e memória agradáveis. E tudo se transformou em um pesadelo. Ela era o seu pesadelo. E ele queria, mas não podia, acordar. Não podia deixá-la no seu pesadelo, sem rumo, sem direção. Ela jamais voltaria. E ele não sabia o que fazer. Ele, sinceramente, não sabia o que fazer.

Assim que acendeu um cigarro na sala, ele ouviu, vindo do quarto, a voz fraca daquela garota nua em sua cama.

- Ri? – ela perguntou – Você está aí? Ri? Me desculpa... por favor – disse, chorando.

Ele jogou o cigarro no chão e o apagou. Respirou fundo. Tomou um gole do conhaque que estava em suas mãos e se dirigiu ao quarto. Pronto para tentar, ainda mais uma vez, ajudar aquela linda garota nua, que insistia em morrer na sua maldita cama.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Luar || Penumbra || Sonho || Amor

leia e ouça: Sunset Rollercoaster - I Know You Know I Love You “ Watch the sky, you know I Like a star shining in your eyes Sometimes I wonder why Just wanna hold your hands And walk with you side by side I know you know I love you, baby I know you know I love you, baby ” (Sunset Rollercoaster - I Know You Know I Love You) Penumbra. Madrugada. 4:10 da manhã. Luz? Apenas a luz do luar combatendo as frestas da persiana mal fechada e que estava sofrendo bastante com as rajadas do vento cortante vindo ao seu encontro de forma incessante e dura. Sábado. Frente fria. Penumbra. Madrugada Amor. 4:13 da manhã. Luz? Apenas a dela. Do delicioso e escultural corpo. Dela. Aquele corpo nu ao seu lado, descoberto delicadamente e de forma não intencional pelos movimentos da noite. Linda. Sensual. Impecável. Escultura para os apaixonados. Como ele. E ele apenas a observava sob a luz do luar forte. Lua cheia. Lua cheia de amor, paixão, ímpeto, vontades, desejos, lua cheia. Lua cheia de vida. Lua cheia d...

Ela Gritou

leia e ouça || Echo And The Bunnymen || Back of Love “ I'm on the chopping block chopping off my stopping thought self doubt and selfism were the cheapest things i ever bought when you say it's love d'you mean the back of love when you say it's love d'you mean the back of love? ” Madrugada. Silêncio. Vida. Noite. Um cigarro aceso. Vários cigarros acesos. Um copo americano cheio de álcool. Vários copos. Lágrimas. Choro. Vida. Madrugada. Silêncio. Horas. Noite. Tudo. Tudo. Madrugada. Vida. Ela. E ela? Ela apenas gritou. E de forma tão alta e tão forte e em um tom nada brando, em ato de coragem, em gesto de desespero. Ela gritou. Ela apenas gritou. Imaginava ele no aeroporto indo embora. Naquela noite. Naquela maldita noite. Indo para uma viagem insana em países nórdicos desconhecidos. Ela chorou. Ela gritou. Tentou de tudo para ficar com ele. Tentou de tudo para ser feliz. Tudo. E foi. Foi MUITO feliz ao lado dele. Mas, agora, sobrou o cigarro aceso, o incenso queiman...

Going Down

leia e ouça: lou reed || going down “... Time's not what it seems. It just seems longer, when you're lonely in this world. Everything, it seems, Would be brighter if your nights were spent with some girl Yeah, you're falling all around. Yeah, you're crashing upside down. Oh, oh, and you know you're going down For the last time …” Lou Reed || Going Down E o sonho avançava. Apenas avançava. A noite tinha apenas começado. … - Ei mocinha. Mocinha? Me ouve? Ela chacoalhou os cabelos castanhos desgrenhados, um monte de nós sem sentido, apenas ela, virou o rosto confuso e encarou aquele sujeito grande, intimidador, com cara de bravo e que estava imóvel à sua frente, um verdadeiro brusco naquele cenário. - Então, me ouve? Está me ouvindo? - aquele grandalhão insistiu - Me ouve, porra? - disse, de modo grosseiro. Ela olhou com um tanto de medo e sem saber exatamente o que fazer, o que dizer, o que mexer, o que responder, nada disse. Apenas, nada disse. - Você entende? É surd...

Talvez

leia e ouça: Sinéad O'Connor || Love Letters   “ Love letters straight from you heart Keep us so near while apart I'm not alone in the night When I can have all the love that you write I memorize every line And I kiss the name that you sign, oh And darling then I read again Right from the start Love letters straight from your heart ” Talvez Talvez ser Talvez crescer Talvez nascer Talvez viver Talvez morrer Morrer? Não Talvez… Apenas talvez Talvez Talvez ser Madrugada Olhos da lua Cores fatigadas Talvez Talvez apenas ser Vida cruel que suga e é sugada Talvez Ser Talvez todo dia Talvez toda noite Talvez todo dia Talvez sorte  Talvez não Talvez má sorte Talvez não Talvez bom azar Talvez não Talvez tudo Talvez nada Talvez vida Talvez morte Talvez uma jornada Talvez Talvez necessário dizer  O que precisaria ser dito Talvez não manter Abafado este grito Talvez Talvez beleza Talvez tristeza Talvez grandeza  Talvez lerdeza Talvez vida Talvez não Talvez tudo Talvez nada ...

FIREWORKS

- Ai, que merda! - ela gritou, visivelmente irritada. - Tá louca? - ele respondeu, surpreso com o tom de voz dela. - Odeio esta música. DJ idiota - ela emendou - O Clube Varsóvia já foi melhor. Imbecil de escolher isto para o ano novo. - Você é louca? - ele perguntou, sério. - Não, porra, sou louca não. - Mas parece. Caralho. Há quanto tempo você vem no Varsóvia e NUNCA disse isso. O que há? Algum problema? - ele perguntou. Ela balançou a cabeça e seus olhos ficaram cheios de água - Nada - ela disse e confirmou - Nada. Não aconteceu porra nenhuma. - Como assim, nada? - ele questionou - Desde quando você fica transtornada assim? Por tão pouca coisa? Desde quando uma canção escolhida por um DJ idiota te tira do sério? - Nada, puta que o pariu. Nada. Pode ser? - ela disse, bastante brava. - Qual seu problema Lisa? Posso saber? Ela apenas abaixou a cabeça. - Me diz - ele insistiu. Ela ficou em silêncio por alguns instantes e emendou - Hoje é primeiro de Janeiro. Ele a olho...