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MENTIR É FÁCIL DEMAIS

- Você sabia que o Jim Morrison, vocal do The Doors, cantava de costas para a platéia no início da carreira? – ele perguntou a ela, com um olhar divertido.
- Não creio. Qual o motivo? – ela disse, interessada.
- Timidez. Você acredita? Um sujeito daquele, vocalista de uma banda bacana, cantando de costas para a platéia por causa de timidez...inacreditável.
- Oras, timidez independe de beleza, de sexo, de qualquer coisa – ela questionou.
- Eu sei.
- Veja você, por exemplo – ela disse, acendendo um cigarro – Você É tímido. Desde os tempos mais remotos da primeira série, quando eu te conheci, até hoje, você sempre foi tímido.
Ele ficou desconfortável – Mas isso nunca me impediu de conseguir as coisas que eu quero.
- Nunca? – ela perguntou, desafiadora.
- Nunca – ele retrucou, enfático.
- Tá. E a Marcinha, aquela do inglês, ela era completamente louca por você e você por ela, mas você nunca foi lá e disse que queria ficar com ela.
- Você está completamente louca. Eu jamais estive a fim da Marcinha – ele disse, já um tanto irritado.
- Tem certeza disso? Porra cara, eu já te falei um zilhão de vezes que você tem que ser mais você. Tem que deixar essa merda de timidez, de inibição, de vergonha, de insegurança ou seja lá o que for de lado e confiar sempre em você. No seu poder de persuasão e conquista. Você é uma graça. Quantas vezes eu tenho que te dizer isso? – ela perguntou.

Ele ficou encarando-a por alguns instantes, como se quisesse dizer algo que estivesse preso com ele há muito tempo.

- Me dá um cigarro? – ele pediu – Vamos depois ao Clube Varsóvia? – perguntou – Estou louco para dançar e dançar e dançar até meus pés derreterem.
Ela se aproximou, o fitou direto nos olhos e atirou a inevitável pergunta – Me diz uma coisa? Do fundo do coração? – ela pediu.
Ele a observou sentindo o sangue ferver em seu rosto – Claro. Pode dizer.
- Se você me amasse. Não como essa super amiga de vários anos que eu sou. Eu digo, se você me amasse verdadeiramente como uma mulher, como a sua mulher, você me diria isso, não? Não guardaria somente para você, guardaria?

Ele a olhou e sentiu seu rosto transbordando sangue pelos poros, quente, e respondeu tranqüilo – Claro que eu diria. Mas você não tem essa chance. Você é minha melhor amiga. E isso é o que importa – finalizou.

Ela o abraçou com a maior de todas as ternuras, enquanto ele segurava o seu grito surdo e pensava por quanto tempo mais aquela tortura ainda iria durar e como era mais fácil mentir, muito mais fácil mentir...



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NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
APENAS RELÂMPAGOS... O beijo que você me deu sob o sol A chuva molhando os campos de maçã (Sob o Sol - Vibrosensores) Lembro que choveu MUITO naquela tarde. Muito mesmo. Mais do seria normal em qualquer outro dia, em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Tudo estava bem, mas o céu, como puro capricho, decidiu se rebelar. O céu, assim de repente, tornou-se cinza. Absurdamente cinza. Cinza chumbo, quase noite. E choveu muito mesmo naquela tarde. Como jamais eu pensei que poderia chover em qualquer outro dia normal. Em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Lembro-me que eu estava no parque central, quieto, pensando nas verdades que eu havia ouvido e arquitetando uma fuga mirabolante do viciado e repetitivo labirinto caótico que a minha vida havia se transformado. Lembro-me que não estava sol, nem tampouco abafado, e que, portanto, não havia tantas nuvens no céu capazes de provocar aquela tempestade. Não mesmo. Mas, ainda assim tudo aconteceu. Não me dei conta, e,