QUANDO A CHANCE CAI DO CÉU (OU SEJA, NUNCA SE SABE) Ele entrou no quarto de forma rápida e desastrada, quase mortal, quase suicida, quase nada. Um trapalhão em um filme noir, um filme escuro, filme antigo, filme preto e branco, filme brutal, um filme odioso, o filme da sua vida. Mas, tanto faz, ele detestava cinema. De qualquer forma, ele entrou cambaleando no seu quarto, como se os pés fossem disformes e o precipício, logo ali. Estava completamente molhado pela tempestade que caía lá fora. Molhado da cabeça aos pés. E bêbado. Ele estava bêbado. Totalmente chapado. Bêbado como um idiota. Um imbecil que, como de hábito, havia feito tudo errado. Sempre e sempre e sempre tudo errado. Caiu assim que a porta abriu. Não conseguiu chegar até a cama desarrumada e desabou, sentindo o gosto do assoalho sujo de poeira e de bitucas de cigarros mal fumados. Não se moveu. Aquele gosto era bem melhor do que aquele que pairava em seus lábios desde o começo da madrugada. Comformou-se em estar no chão.
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