Às vezes, o céu fica bastante escuro, ainda que não seja noite. Nossas vidas também. Às vezes, ficam bastante escuras. Como se não houvesse amanhã, uma tempestade aproxima e promete devastar, inundar, causar, destruir, derrotar e levar tudo o que pudermos pensar. Tudo. Como se o breu das nuvens cinzas fosse a mera tradução dos nossos medos, nossos desesperos, nossa desesperança, nosso desejo de voltar a nascer. Recomeçar do zero. Recomeçar tudo. Tempestades são como a morte. Raios são como o último suspiro. Tempestades são o sexo. Raios, o gozo. Temos medo e somos fracos. Temos medo e somos fracos. Às vezes, uma tempestade pode nos dar muito mais pistas sobre quem realmente somos do que qualquer outra coisa. Do que qualquer outra fotografia ou impressão. Quando ficamos lá, quietos, à frente da janela, apenas observando o céu revolto e negro. O céu desafiador. Indestrutível. É quando percebemos que há muito mais coisas que podem nos matar lentamente, do que apenas a fumaça dos cigarros...