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Mostrando postagens de outubro, 2003
ESTRELAS ROUBADAS Roubar estrelas não é crime e nunca foi. Assim como roubar o brilho da lua. Esse tipo de ação decorrente da própria falta de bom senso de quem ama. Rouba-se o céu, o sol, o sal, o mar, enfim, o próprio coração e a alma das pessoas. Então, roubar estrelas não é crime e nunca foi. Crime é destruir uma paixão. Apenas para não querer sofrer, apenas para fazer sofrer.
LO(VE)NDON CALLING O corpo dos dois parecia derreter, tamanha a excitação, tesão, volúpia, desejo e vontade que impregnava o ambiente naquele quarto. O suor transbordava por cada poro de cada corpo. Por cada poro. Por cada corpo. Ele estava absolutamente enlouquecido, extasiado. Ela, por sua vez, estava em uma espécie de transe, de delírio. Mãos e bocas e seios e pernas e coxas e dedos e lábios e línguas e beijos e saliva se encontravam. Sem parar. Sem parar. Contínua e sofregamente. O bouquet que pairava no ar era o de uma espécie de vinho raro. Beleza rara. Ela sentia o seu gosto na sua boca. Na dele e na sua própria. Ele sentia seu corpo no dela. Sutil, intenso, integrado. Suor e paixão e delírio e toques e gemidos. Sexo ou amor, ou seja lá o que isso quer dizer... ... E eles deitaram e ficaram quietos, respirando o silêncio. Por pouco tempo. Por pouco tempo. Ela, agitada como sempre, gargalhou brava e abruptamente e ligou o velho aparelho de som nos últimos decibéi
LUGAR COMUM Ele tirou repentinamente a mão da sua coxa... “ ela não gostou ...”. Ele tirou repentinamente a mão da sua coxa... “ ele não gostou ...” E, no fundo, ambos gostaram. Sobrou apenas o medo. E não é sempre assim?
vocês me perdoam quando eu não respondo aos comments ou quando demoro para responder e-mails? Por favor? (fazendo cara de manha) hehehe
ESSES SÓRDIDOS SALÕES DE FESTAS Ele podia sentir a fumaça penetrando lentamente os poros das suas narinas. Amarga. Azeda. Crua. Como a vida. Ele podia sentir a densidade do momento, apenas pela maldita fumaça entorpecendo as suas narinas. Decidiu acender mais um cigarro. Preferia o próprio odor por ele produzido a aquele cheiro de hipocrisia, bourbon barato e esperma contido, sufocado, preparado. A noite era escura; as luzes, negras; e, as flores, coloridas. O salão, esfumaçado. Havia freiras e padres por todos os lados, dançando animadamente ao som de uma big band qualquer. Freiras putas, padres imaginários, pessoas comuns, pessoas vãs preocupadas com perfumes que, de santas, ah, que de santas nada têm. Nada. Porra nenhuma. E ele estava cansado de tudo aquilo. Cansado como o sol deve ficar por todo dia ter que nascer para fazer a vida feliz. Para fazer a vida girar. Ele queria ser a corrente marítima que dilacera, quebra e mata os incautos e conforta os divinos. Ele queria ser a m
O CLUBE DAS GAROTAS PERDIDAS - Sabe o que eu acho Teka? – perguntou Lena, enquanto acendia mais um cigarro naquela mesa do Clube Varsóvia. Teka, já esperando os costumeiros sermões da amiga, a olhou com apreensão, enquanto virava um gole da cerveja que restava naquele copo americano – Lá vem porrada. Diz. - Você se preocupa demais. Demais. Muito mesmo. Caralho! – gritou - Por que você, uma vez na sua vida, não deixa as coisas acontecerem? Por que você precisa sempre estar na frente quando o assunto é dor, tristeza, ansiedade ou insegurança? Pode me dizer? Isso não faz sentido, não tem razão de ser. - Lena querida, você não entende, não? Você simplesmente não entende. Isso porque a sua vidinha é perfeita, seus amigos são perfeitos, seus sonhos são perfeitos. Você é linda, interessante, inteligente, enfim, uma mulher admirável. - E? – perguntou Lena, mostrando puro descaso com tais elogios. - Conhece aquela canção que diz mais ou menos assim “... você está perdida garotinha / eu
SADOMASOQUISMO Ela adorava seduzir e destruir. Adorava. A idéia de ter um poder quase sobrenatural sobre todos os homens a enlouquecia, a envaidecia, a excitava, a deixava má, cruel, sarcástica, fria, insensível. Ela adorava seduzir e destruir. Adorava. A volúpia de seus desejos era quase inacreditável. Quase inacreditável. E por isso mesmo ela sempre pensou que conseguiria alcançar todos os seus objetivos e ser poupada de todo o tipo de dor, apenas seduzindo e destruindo. Apenas com os seus lindos cabelos amarelados, suas unhas vermelhas, seus olhos azuis, sua tatuagem discreta, suas botas de couro, seus decotes generosos, seus cigarros sujos de batom, seus copos de vodka e seus delírios insanos. Mas, é óbvio que todos podemos cometer erros. E, infelizmente, para ela, cometeu o pior de todos os erros. E esse tipo de coisa jamais poderia ocorrer. Jamais. Um erro crítico. Um erro patético. Um erro fatal. Um erro miserável. Um erro vagabundo. Um erro lamentável. Um erro. Apenas um er
OLHOS FRIOS - Tudo bem? – ele perguntou, assustado com os olhos vermelhos e inchados da namorada. - Não sei – ela respondeu, inquieta. - Como assim, não sei? – ele disse, confuso – Ninguém chora à toa. - Não? – ela disse, sem alterar seu sereno tom de voz – Tem certeza? E ele a olhou com os seus lindos olhos verdes frios ... assustado por perceber que já a havia perdido.
O QUE VOCÊ FAZ QUANDO SE SENTE ASSIM? Ele estava sozinho. Bem, na verdade ele sempre esteve sozinho. Sempre. E hoje não era diferente, óbvio. Ele estava, mais uma vez, apenas sozinho. Nesta noite de sábado. Nesta noite fria. Nesta noite chuvosa. Ele estava sozinho, tendo como companhia apenas os seus amigos abstratos e inanimados. Tendo como companhia apenas os seus medos, os seus livros, os seus discos, suas fotos, seus desejos, suas vontades, suas idéias, suas intenções, seus cigarros, suas drogas, suas tatuagens, seus remédios, seus poemas, suas lágrimas. Bem, talvez ele não estivesse tão sozinho assim, mas, no fundo, não era nada disso o que ele queria. Ele queria, na verdade, estar em algum lugar vivo. Rodeado de amigos e conversas e goles de bar. Ele queria, na verdade, estar com o coração lotado de sangue. Lotado de amor ou paz ou gozo ou seja lá o que lhe desse vontade de continuar alive and kicking. Alive and kicking and loving . E ele não estava assim naquela noite. Ele e
QUE DIFERENÇA FAZ? - Você sabe a diferença entre a dor de perder alguém e a dor de nunca ter conhecido alguém? – ela disse, desesperada. Ele permaneceu em silêncio, triste, apenas encarando o chão. - Quando você nunca conhece alguém, o ódio não passa a ser o seu melhor amigo quando esse alguém vai embora.
O QUE FAZEMOS COM VELHAS FOTOS? - Então estamos finalmente reunidas nessa mesa de bar aqui no Clube Varsóvia? A gangue das três – disse Clara, com um sorriso genuinamente feliz. - Como a vida muda, não? Costumávamos fazer isso sempre. Agora, nunca nos vemos e tampouco nos falamos. É quase um milagre esse nosso encontro – retrucou Leca – Ainda mais depois de tudo o que aconteceu. Depois de tudo o que dissemos. - É mesmo. Como a vida muda – concordou Ana. - Tem razão. E o pior de tudo é que eu não sei qual foi o atalho viciado que tomamos. O que deu errado, o que aconteceu? Eu não tenho essa noção. Alguma de vocês tem? – perguntou Clara. - Melhor deixar isso para lá. Nossos erros, medos, verdades e defeitos. Erramos? Foda-se. O que importa é que estamos juntas essa noite. Isso é o mais legal – disse Ana, tentando desviar o assunto. - Você está certa – concordaram as outras. - Vamos brindar então. Vodka e mais vodka – gritou Leca. E as três amigas ficaram sentadas naquela mes
QUEM ATENDE OS SEUS DESEJOS? - Corre Estela – ele disse – Vem ver. - O quê? – ela retrucou – Que afobação é essa? - Olha ali. Lá no alto. Uma estrela cadente – ele disse, animado – Faça um pedido. Ela ficou quieta por alguns instantes e respondeu – Já fiz. - Espero que se realize – ele desejou, antes de beijá-la. - Corre Estela – um outro “ele” disse, anos depois. - O quê? – ela retrucou – Que afobação é essa? - Olha ali. Lá no alto. Uma estrela cadente – o outro “ele” disse, animado – Faça um pedido. Ela respondeu de pronto – De forma alguma. Detesto pedidos e desejos e estrelas cadentes. Tudo bobagem. - Tudo bem – o outro “ele” concordou – Eu já fiz o pedido por nós – finalizou, antes de beijá-la.
QUANDO SEMPRE FALTA ALGO... Era quatro e meia da manhã. O bar estava quase vazio. Quase. Havia uns poucos clientes espalhados aqui e acolá, todos sendo servidos por garçons cansados e exaustos que mal podiam esperar para vê-los pelas costas. Diferentemente dos demais, ela estava sozinha. Como sempre. Lá estava ela, ainda mais uma vez, sentada e acompanhada apenas por seus cigarros, seus pensamentos, sua tequila e seus papéis. Estava escrevendo sem parar desde que chegou. Escrevendo e escrevendo e escrevendo. Palavras desconexas, palavras coloridas, palavras doces, palavras confessionais. Ela estava escrevendo uma carta para alguém. Uma pessoa querida, bastante querida. Ela sabia que naquele texto estava toda a sua declaração de amor por aquela pessoa. Toda. Não havia sequer uma palavra a mais do que o necessário. Tudo o que ela sempre quis dizer a ele estava lá, naqueles pequenos guardanapos amassados de papel vagabundo. Entre tragadas de cigarro sem filtro e goles de tequil
DOCES ASAS OBSCURAS Tudo o que ela queria era que um anjo aparecesse e lhe acolhesse em suas asas. Asas doces, delicadas, gentis e seguras. Asas eternas, perfeitas, poéticas e fortes. Isso era tudo o que ela queria. Do fundo do seu coração. Do fundo da sua alma. Mas, infelizmente, ela acreditava que esse anjo jamais apareceria. Não, definitivamente ele não apareceria - ela costumava pensar. Nunca em minha vida. Nunca em minha própria vida. Não tenho tanta sorte . A verdade é que por ela ser apenas pessimista e descrente da sua própria vida, sempre desejando a dor, ela jamais percebeu as pequenas plumas caídas no chão, sempre ao seu lado. Sempre por perto. Pobre dela...