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Mostrando postagens de janeiro, 2014

PASSE-ME O SAL PARA EU BOTAR NA SOBREMESA?

- Não há nada a desculpar – ele disse pouco tranquilo, muito mentiroso, entre os copos de vodka, as mesas e o barulho do Clube Varsóvia, tentando desviar do olhar adorável, inesquecível e maravilhoso daquela garota à sua frente. Ele a amava. Ela o olhou com ternura e amizade e fez um carinho breve e gentil no seu cabelo. Por instantes, breves instantes, ela lembrou de todo o afeto e paixão que sentiu por ele no passado. Todo o carinho, o afeto e o amor que sentiu por ele em um passado não tão distante. Como foram felizes. - Fica tranquila – ele disse e continuou - Nada a desculpar mesmo. Tudo em ordem do meu lado – ele prosseguiu – Você gosta de MPB mesmo. Eu detesto – completou, com um sorriso. - Você mente mal. Muito mal mesmo sabia? Quase um canastrão – ela brincou e continuou – Esqueceu que te conheço há um tempinho? - Muito tempo? – ele perguntou, tentando disfarçar, enquanto acendia um Marlboro – Dentre as mentiras da vida, duas nos revelam mais – recitou, citando a antiga c

SENHORITA ALICE

O telefone tocava insistente e repetidamente e ela, nua e molhada, recém saída do banho, apenas praguejou antes de atender – Porra. Que saco! Não se tem paz nem em um hotel, caralho – afirmou antes de atender – Que vida do inferno – completou. - Alô? – disse, ao pegar o telefone, sem demonstrar a menor paciência com a pessoa do outro lado da linha. - Senhorita Alice? – perguntou gentil e doce, a jovem recepcionista do hotel. - Sim – respondeu – Sou eu. Algum problema? – perguntou, irritada. - Senhorita Alice, temos aqui uma entrega para a senhorita. Posso mandar nosso mensageiro subir? – emendou a recepcionista, toda prestativa, toda solícita, porém toda receosa. Ela se surpreendeu e perguntou rápida – Entrega? Como assim? Do que se trata? - Senhorita Alice, eu vou mandar o mensageiro subir e ele entregará para a senhorita, ok? Acho mais adequado desta forma. Não é muito usual este tipo de situação no nosso hotel. Mas não é nada com o que se preocupar. Pode ser? – pergu

EM DOR FINA

- O que mais você quer de mim?   - ela perguntou, aflita, desesperada, irritada, inquieta. - Nada – ele respondeu de forma seca, estéril, fria – Não quero nada de você. Não quero mais porra nenhuma de você. O que eu quis você não me deu. Há tempos. - Então porque você, seu filho da puta, não me deixa em paz, agora? – ela perguntou, aos gritos - Some da minha vida seu imbecil – ela pediu, implorou, aos gritos – Some. Some daqui! – completou – Não quero mais você. Ele apenas abaixou a cabeça e começou a chorar. Muito. Muitas lágrimas. Muito triste. Ela também. Muitas lágrimas. Muita tristeza. Estava relaxada ao desabafar, porém triste. Muito triste. Como se o seu coração estivesse na ponta de uma faca. Bastante afiada, aliás... Em dor fina. Como se não houvesse amanhã. Dor muito fina e muito gritante.   INTERNET “A endorfina é neurotransmissor , assim como a noradrenalina , a acetilcolina e a dopamina , e é uma substância química utilizada pelos neurônios na c

TANGERINA.

O Clube Varsóvia estava quase va zio, mas a música ainda rolava. Não alta, já baixa, já em fim de festa, mas ainda a música rolava. Era domingo, seis e meia da manhã. A noite já estava quase no fim, para alegria de quem lá trabalhava e tristeza de quem lá se escondia. - O que vão querer para a saideira? – perguntou, de forma educada, o barman do Clube Varsóvia, visivelmente cansado e muito irritado. - Suco de tangerina – disse Carol, breve e ligeira – Bem gelado, por favor. - Tangerina? – perguntou o barman , surpreso . - Tangerina? – repetiu Estela. Carol olhou surpresa para Estela e, depois, para o barman e apenas concluiu – Sim. Tangerina. Suco de tangerina. Qual o problema? Não tem gelo? Ok. Sem problemas. Pode ser quente mesmo. O barman e Estela se entreolharam com surpresa e admiração, porém nada disseram, apenas sorriram brevemente. - Então, o que vai ser? – perguntou Carol – Vai rolar este suco ou não? – insistiu meio puta, muito zangada. - Carol – disse

TÃO SIMPLISTA FALAR EM “TODO MUNDO”. TÃO SIMPLISTA...

Todo mundo quer barulho, quando convém. Todo mundo quer silêncio, quando está cansado. Todo mundo quer balada, quando está feliz. Todo mundo quer amar, quando está carente. Todo mundo quer algo, alguma coisa, quando lhe falta outra. Todo mundo quer ser famoso. Será? Todo mundo quer pílulas cor de rosa, quando choram à toa. Todo mundo quer ir ao psicanalista mas não lhe fala a verdade. Todo mundo quer dormir quando não consegue de verdade dormir bem, nunca. Todo mundo quer Jesus quando não lhe restou mais nada. Todo mundo quer saúde quando está doente. Todo mundo nunca mais vai beber quando está de ressaca. Todo mundo lê, mas não entende. Todo mundo escuta, mas não ouve. Todo mundo pede ajuda, mas não ajuda quem precisa e quando este alguém realmente precisa. Todo mundo prefere Beatles porém este mesmo “todo mundo” elogia mais os Stones. Todo mundo elogia James Brown, mas nunca o ouviu ou nunca o colocou em definitivo, tatuado, na perna. Todo mundo adora camisetas dos Ramones, mas não

ENCANTADORES OLHOS AZUIS SEMPRE SERÃO ENCANTADORES OLHOS AZUIS

- Sofia? – ele perguntou tímido, um tanto surpreso, um tanto assustado diante daquela mulher a sua frente na fila do Café no Aeroporto Internacional. Ela virou a cabeça, balançando os seus lindos cabelos negros e o encarou com seus (sempre) encantadores olhos azuis – Beto? – disse, um tanto surpresa, um tanto constrangida. Ele sorriu sem graça. Ela retribuiu. - O que faz por aqui? – ela perguntou, percebendo, imediatamente, a idiotice da pergunta. - Bem Sofia – ele respondeu com um sorriso – Estamos nós dois em um aeroporto, certo? Então, ou eu estou indo viajar ou eu estou aqui para buscar alguém – emendou, com um sorriso. Ela achou graça da resposta e sorriu, sem graça – Desculpe – disse – Foi uma pergunta idiota. Ele sorriu e afirmou – Não, nada disso. Está tudo certo. Você está indo viajar? – perguntou. - Sim. Estou. Cansei desta cidade, Beto. Cansei de uma série de coisas. Recebi uma proposta legal e vou mudar toda a minha vida. Toda. Vou me mudar e ver o que o

IDIOTA

- Difícil me amar, não? – ele perguntou, certo da resposta, certo da idiotice da pergunta – Difícil ficar comigo, não é? Ela consentiu com a cabeça, balançando os seus cabelos loiros, e deu um sorriso lindo, brilhante. Nada disse. - Besta – ele prosseguiu. Ela deu uma gargalhada e emendou – Não é que é difícil te amar ou ficar com você. O fato é que você é um idiota presunçoso. Acha que o mundo gira ao seu redor. Devia pensar mais antes de agir. Devia pensar mais antes de falar estas bobagens que fala. Devia prestar atenção ao seu redor. - Como assim? – ele perguntou. - Já reparou na quantidade de besteiras que você faz? Já? E são sempre as mesmas. Repetidamente sempre as mesmas besteiras. Você, sem querer ou não, não sei, acaba sempre jogando tudo fora. Acaba sempre fodendo tudo. Você desperdiça sempre as melhores oportunidades em qualquer aspecto da sua vida, seja ele profissional, amoroso, whatever. E o pior, você sempre pede ajuda e é incapaz de perceber quem te ajudou ou olh

GIRLS DON´T CRY

Letícia entrou na casa, excitada e feliz. Estava com saudades do seu passado, com medo do seu futuro, com saudades daquela casa, de tudo aquilo que viveu por anos e anos. - Quer um café? – Mônica perguntou. Letícia apenas balançou a cabeça negativamente. Nada disse. - Um destilado, uma cerveja, um refrigerante, uma água com gás. Quer alguma coisa? Qualquer coisa? – Mônica insistiu – Não é por você ser apenas você que vou negar uma bebida ou qualquer coisa que o valha – completou, irônica. - Não, obrigado Mônica. Estou bem. Estou muito bem. Mônica ficou em silêncio, apenas observando os passos de Letícia ao longo da sala. Ficou a admirando como se ela ainda fosse uma criança enternecida diante de um brinquedo novo. - Fomos felizes aqui, não? – Letícia disse. Mônica concordou, de leve, com a cabeça e respondeu – É. Fomos. Fomos bastante felizes. O tempo que tivemos para ser. O tempo que tivemos para ser. Pena que a felicidade não dura para sempre, né? - É. A felicidade não dura

MALA DESFEITA.

- Então é isto. Decidido – ela disse, segurando com toda a força do mundo o vacilo e o embargo do choro na voz. Ele não poderia ter este prazer. Definitivamente, ele não poderia ter este prazer. - Vou pegar as minhas coisas – ela emendou, triste, ao sair da sala em direção ao quarto. Ele nada falou. Nada. Permaneceu sentado no sofá, quieto, fumando o resto do seu cigarro. A ausência de qualquer expressão dele foi o que a deixou mais triste. A mortificou. Sequer uma palavra para ela ficar ele disse. Sequer uma palavra ele esboçou. O silêncio, nestes momentos, é o que há de mais devastador. Enquanto pegava a mala e as suas roupas, ela não se conteve. Ajoelhou no chão do quarto e desabou em lágrimas. Desabou em choro e dor, como se não houvesse amanhã. Era a terceira vez que ela fazia as suas malas naquele maldito quarto. A terceira e a última, prometeu em silêncio. - Desta vez em definitivo – ela pensou - Não vou, nunca mais, passar por esta merda – prosseguiu. Ela se ergueu e

QUANDO BILHETES MAL ESCRITOS DIZEM MAIS DO QUE VOCÊ QUER DIZER

- Não estou entendendo porra nenhuma – ele disse, sério, tentando disfarçar o nervosismo, transformando a suposta raiva em defesa. Uma conveniente e comovente defesa prévia. - Como não? Você é idiota ou imbecil? Escolhe, seu porra. Idiota ou imbecil? – ela respondeu, ríspida. - Você é uma babaca –ele disse, bravo - Pára de querer ser sarcástica. Pára de querer ser a dona da verdade. Ela riu e emendou, cruel – Sarcástica? Sarcástica? Dona da verdade? Vá à puta que o pariu. Você é um tremendo de um filho da puta, sabia? – gritou, arremessando, logo em seguida, o copo americano de conhaque em sua direção, o qual arrebentou e se estilhaçou na parede da cozinha. - Pára de gritar e de ser louca – ele respondeu, nervoso, ignorando os cacos de vidro recém quebrados no chão da cozinha. Tentou acender o seu Marlboro. Não conseguiu. Tremia demais. - Você é um escroto. Um tremendo de um idiota – ela completou, completamente transtornada – Não sei aonde eu estava com a porra da cabeça quand

POR FAVOR, RETORNE A LIGAÇÃO.

- Clarice? Clarice? – ele perguntou, em um baixo tom de voz. Ela não abriu os olhos. Parecia dormir um sono profundo. Sequer se moveu. - Clá? Clarice. Pode falar? – ele insistiu em um tom baixo, após desistir na sequência. Ela continuou dormindo. Como se não houvesse amanhã. Como se não houvesse nada além do sono e de um sonho bom. Ele pegou o telefone e respondeu – Oi, Bruno? É Bruno, né? – ele perguntou ao telefone. Com a resposta positiva do outro lado da linha, ele prosseguiu – A Clarice não pode atender agora. Pode ligar mais tarde? A voz irritada do outro lado da linha o deixou puto. Extremamente puto. - Olha meu caro, ela não pode falar agora. Impossível. Se quiser, ligue mais tarde. Se não quiser, problema não é meu, ok? Foda-se – completou, batendo o telefone na cara do otário do outro lado da linha. Voltou para a sala e ficou observando aquela garota linda deitada no seu sofá. Não acreditou. Caso não gostasse de garotos, certeza que a amaria eternamente. Cabelos da cor

VIOLETA DE OUTONO (A GAROTA DO MÊS DE ABRIL)

Ela era toda outono. Toda outono. Sempre... - Odeio o verão – ela disse, irritada, suando como louca naquela tarde insana e quente da estação mais quente do ano. - Como? – ele perguntou, descrente – Você odeia o verão? - Odeio. Odeio o verão. O sol me mata. Fode os meus olhos, fode a minha pele. Fode tudo. Detesto esta época do ano. Ele a olhou com surpresa e carinho - Gente, como você é ranzinza – ele disse - Conheço pouca gente que não gosta de verão. Tá, beleza que sua pele parece nórdica, uma deusa sueca, mas daí a não curtir o verão existe um universo de distância. Você nasceu no Brasil, esqueceu ou quer que eu desenhe? - Pois é, mas você me conhece e eu odeio esta porra de verão. De verdade. - Você já teve um amor de verão? – ele perguntou, sério. - O quê? Amor de verão? Você pirou? Coisa mais babaca. Coisa de otário – ela respondeu, fingindo indignação. - Um amor de verão. Um amor de praia, areia. Estas coisas. Você nunca teve? - Eu não. Prefiro o outono – ela respon

FIREWORKS

- Ai, que merda! - ela gritou, visivelmente irritada. - Tá louca? - ele respondeu, surpreso com o tom de voz dela. - Odeio esta música. DJ idiota - ela emendou - O Clube Varsóvia já foi melhor. Imbecil de escolher isto para o ano novo. - Você é louca? - ele perguntou, sério. - Não, porra, sou louca não. - Mas parece. Caralho. Há quanto tempo você vem no Varsóvia e NUNCA disse isso. O que há? Algum problema? - ele perguntou. Ela balançou a cabeça e seus olhos ficaram cheios de água - Nada - ela disse e confirmou - Nada. Não aconteceu porra nenhuma. - Como assim, nada? - ele questionou - Desde quando você fica transtornada assim? Por tão pouca coisa? Desde quando uma canção escolhida por um DJ idiota te tira do sério? - Nada, puta que o pariu. Nada. Pode ser? - ela disse, bastante brava. - Qual seu problema Lisa? Posso saber? Ela apenas abaixou a cabeça. - Me diz - ele insistiu. Ela ficou em silêncio por alguns instantes e emendou - Hoje é primeiro de Janeiro. Ele a olho

QUATRO MESES PARA OS TRINTA ANOS

Quase 30 anos? – ele perguntou, querendo parecer surpreso. - Sim, porra, você é surdo? Esta será a minha idade, caralho. Em quatro meses – ela respondeu, irritada. - Calma, não precisa ficar nervosa. Não é uma crítica. É apenas uma constatação. Eu, realmente, não fazia idéia. - Vá se foder – ela retrucou, mal humorada. - Porra Lisa, não estou te sacaneando. Juro. A vida é boa. Você não me ensinou que é uma Good Fight? Ela respirou fundo e disse, serena - Ok. Sem problemas – ela perdoou, um pouco mais suave. - Eu apenas demonstrei minha surpresa. Não tinha idéia de que você está quase com trinta. Uma adulta. Já pode entrar em motel. Pode meter como uma louca, desenfreada – disse, sorrindo. - Você é um babaca nojento – ela afirmou, com um sorriso nos lábios. Ele adorou. O (quase) sorriso dela era lindo, único, adorável. Ele amava. - Você me adora, confessa – ele pediu, cínico. - Canalha escroto – ela disse, curta e grossa e sincera. - Confessa, vai – ele insistiu. - Você é